Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 31: Sentindo-se um verdadeiro Samurai
Após descobrirem e aprimorarem a conexão com seus elementos guia, os alunos da nova geração de samurais Wanabi tiveram mais duas semanas de intensos treinamentos no intuito de se familiarizarem com a Técnica dos Caminhos Elementais, Michijutsu.
Tendo como base as posturas de ataque, defesa e evasão, todos tiveram que trabalhar duramente para gerar técnicas para cada uma delas, o primeiro passo para garantir autonomia como guerreiros samurai e, portanto, não depender de ninguém para combaterem sozinhos contra oponentes reais.
Assim, o maior desafio para os gakusho foi adaptar seu elemento às posturas básicas do combatente. Para isso seriam necessárias duas etapas, Canalizar e Moldar. Na primeira o usuário deveria conectar seu chi com o elemento no ambiente a sua volta, atraindo para junto de si. Na segunda etapa deveria dar forma a essa energia acumulada, criando assim sua maneira particular de manifestar a técnica elemental.
Quanto mais forte for a conexão de um samurai com seu elemento guia, maior será o poder de sua técnica.
No final, todos os gakusho conseguiram obter resultados satisfatórios e criaram suas primeiras técnicas samurai, em maior ou menor grau de intensidade em suas manifestações. No processo de canalização das energias elementais, o fator emocional do usuário afeta seu controle sobre a técnica aplicada.
Por isso, emoções, como a raiva e a tristeza, podem gerar energias caóticas e de difícil controle. Mas quando o guerreiro aprende a controlar suas emoções à base da disciplina, apaziguando a mente e focando a energia elemental, sua técnica se torna mais poderosa. Shimitsu, Yume, Takeda e Orinsuke foram os que mais se destacaram nessa terceira fase do treinamento.
Uma mistura de surpresa e empolgação tomou conta do coração de Orinsuke quando aprendeu a controlar o caminho da floresta. O que a princípio era uma força que se manifestava de forma aleatória e caótica, em momentos onde menos esperava, agora era algo que podia controlar em suas próprias mãos. A partir desse momento passou a se sentir um verdadeiro samurai.
O Hayashi era de fato algo poderoso, e toda vez que canalizava as energias da natureza em volta, sentia todo seu corpo tremer com a vibração. Era como se a própria floresta emanasse raios de força em sua direção, e a pressão era muitas vezes difícil de suportar quando tentava ir além. Tinha acabado de ter a prova disso e foi ao chão pela exaustão.
- Não subestime a força dos elementos, jovem gakusho – disse o sensei Azura. O mesmo estava de pé observando Orinsuke. O garoto se esforçava para levantar depois de ter aplicado mais energia em sua técnica – A canalização e o controle de uma quantidade maior de energia elemental só vem com a experiência do samurai, conforme ele se familiariza com o seu elemento guia e se disciplina em aprimorar suas técnicas. Não pense que um garoto como você, que mal acabou de aprender a controlar seu poder, pode ir além de suas capacidades. Se fizer isso será destruído pelas forças que tenta canalizar.
- Sim, sensei, entendo o que quer dizer. Desculpe, é que me empolguei e achei que podia fazer mais – Orinsuke ergueu-se devagar, limpando o suor do rosto, e, já sabendo o que o sensei diria, retomou a posição para recomeçar o treino.
- Todo samurai deve ser estratégico para não dar um passo maior do que a perna – disse Azura – Deve sempre estudar o ambiente, os adversários e a si mesmo, analisando até onde pode ir. Confiar demais nas próprias habilidades deixa o guerreiro desatencioso e, portanto, aberto ao fracasso. E no mundo samurai fracasso significa desonra. Para esse samurai é melhor que a morte chegue rápido. Entendeu, gakusho?
- Sim, sensei – respondeu Orinsuke. As duras palavras de Azura sempre o deixava pensativo a respeito desse mundo samurai que tanto o sensei falava.
Provavelmente o sensei tinha razão em falar dessa forma, já que tinha vivido muitas situações difíceis como um samurai, inclusive participado de guerras contra outros clãs. Mas no fundo do seu coração Orinsuke tinha dúvidas se conseguiria se adequar a esse mundo, onde parecia que a morte era sempre o resultado final da vida de um samurai quando não colocava em primeiro lugar a honra, o orgulho da classe, a demonstração de força ante os inimigos.
O fato de ter vivido a maior parte de sua vida como um camponês, onde a vida era regida por princípios diferentes e mais simples, o deixava confuso a respeito do que levar em consideração, não só como o guerreiro que estava se tornando a cada dia, mas como ser humano. Será que na vida samurai não havia espaço para a humildade, para o reconhecimento das fraquezas, para a aceitação das limitações? O sensei Azura fazia parecer que não, mas Orinsuke torcia para que a realidade mostrasse o contrário, embora alguma coisa dentro de si o alertasse que poderia se decepcionar.
Orinsuke refletia sobre estas questões enquanto encarava o sensei, pronto para mais uma sessão de luta simulada. Concentrou-se, tentando esquecer a dor nas costas, fruto do último golpe do sensei, e pegou sua espada de madeira do chão, já imaginando como poderia atacar e se defender melhor. Azura o encarava seriamente, segurando sua bokken apontada para baixo.
Entre aluno e professor, uma pequena árvore com o tronco partido ao meio, que não estava ali minutos atrás, terminava de ser consumida pelas chamas. A fumaça subia, carregada pelo vento, e o cheiro de queimado tomava conta do lugar.
- Você precisa concentrar mais energia do Hayashi. Sua defesa foi facilmente rompida. Preparado?
- Sim, sensei. Prometo que desta vez será diferente – a essas palavras, Azura só sorriu.