A deusa Diana (Parte 1)

Parte 1 - Os humanos

Meu pai era rei no Reino dos deuses, então eu automaticamente era a princesa. Filha única e herdeira de um reino inteiro, o que

significava muito dinheiro e felicidade para quem comigo se casasse e a governança junto a mim quando eu me tornasse a Rainha dos Deuses.

Sendo não só princesa, mas também uma Deusa, não era difícil alguém querer se casar comigo. Além da minha fortuna, eu era bonita, com longos cabelos negros, a pele um tanto bronzeada e olhos de esmeralda.

Uma pequena semelhança com a imagem que fazem de Cleópatra. Minha mãe havia escolhido para mim um nome lindo, do qual eu sempre gostei: Diana.

Minha mãe, Pers, era a Deusa da terra e consequentemente, da

fertilidade. Colhe-se o que é fértil e planta-se bem para não colher o

mau.

Meu pai, Crons, era o Deus do Tempo. Não apenas do tempo em si, mas também das condições climáticas. Lembro - me desde criança que meu pai sempre ajudou a minha mãe nas colheitas, os dois eram a união perfeita. Quando algo precisava ser colhido rapidamente, meu pai acelerava o tempo com o seu poder e minha mãe fazia com que aquela colheita fosse a melhor possível. Em tempos de grande aflição, meu pai dava uma pequena acelerada no tempo enquanto a minha mãe fazia com que as mulheres ficassem mais férteis e gerassem filhos bons que fariam a diferença naqueles tempos difíceis.

Como eu não tinha irmãos, minha maior diversão era observar o poder dos dois quando eles os colocavam em prática. Eram generosos. Nunca abusaram de seus poderes, pois sabiam que abusados poderiam trazer consequências terríveis.

Cresci observando tudo e sempre achei muito interessante o ser

humano. Eu os observava de perto, mais perto do que qualquer um dos outros deuses já tinham ousado chegar. O restante dos deuses não gostavam muito dos seres humanos, os achavam mesquinhos e egoístas, na verdade eu também os achava, mas para mim era interessante observar tudo aquilo: ver casais brigando por coisas que a mim pareciam piada,

ver as pessoas do reino deles próprios roubando uns aos outros, eles mesmos matando a própria raça aos poucos. Para mim seria cômico, se não fosse trágico! Eu observava, enquanto os outros deuses apenas faziam a parte deles: protegiam alguns que eram mais humildes, tentavam descongelar os corações dos que eram mais durões e tentavam levar fé àquele que não a possuíam. Confesso que eu achava as tarefas deles muito difíceis. Era

muito mais fácil e divertido observar. Com as minhas observações

perspicazes fui percebendo que no ser humano há algo muito

interessante: Eles falam muito, demais sobre o amor, mas posso quase chegar à certeza de que pouquíssimos, talvez nenhum deles, ame de verdade ou conheça o verdadeiro sentido desse sentimento, e com isso comecei a desacreditar até mesmo no amor entre os deuses.

Um dia, conversando com o meu pai eu lhe afirmei que o amor não

existia. Ele se assustou. Por que o amor não existe, Day? -

perguntou-me.

__ Os seres humanos vivem fingindo. Dizem que amam uns aos outros e eles próprios se roubam, matam e traem.

__ Mas todos eles amam de verdade um dia. Tudo depende do tempo e história de vida de cada um.

__ Se depende do tempo, por que o senhor não os faz amar mais

rapidamente? E como fazer com que amem de verdade? O amor não existe, pai. É uma ilusão, é platonismo. De qualquer forma o amor me parece sempre platônico. As pessoas pensam que amam, mas a verdade é

que não amam.

__ Não posso acelerar o tempo de todos, minha filha, seria uma

barbaridade com os humanos. Quanto ao amor de verdade, você não acredita que os pais amem seus filhos verdadeiramente e seus filhos, a seus pais?

__ Com tudo o que observo desses humanos, está difícil acreditar até nisso. Sendo que eles deviam amar todos uns aos outros como a si mesmos e nem mesmo o amor próprio está presente.

Meu pai me abraçou e eu tinha certeza que ele estava entendendo tudo o que eu queria dizer, apesar de não ser tão observador dos humanos quanto eu.

__ Um dia, minha filha, você entenderá e acreditará no amor.

__ Não acredito mais no amor. Para mim o amor não existe. Não reina mais sobre este mundo. O amor se foi…

E era verdade. Eu não acreditava mais. Eu não poderia ficar de braços cruzados quanto a isso. Eu tinha que descobrir quais eram os meus poderes como deusa para tentar ajudá-los. Eu apiedei-me deles. Tão vazios, e acreditando tanto que são tão bons, que entendem de sentimentos… Muitos até escrevem. Escrevem sobre seus sentimentos, sobre tudo aquilo que julgam sentir, mas quando observo suas atitudes percebo que o poeta realmente é um fingidor, assim como o Fernando Pessoa um dia me disse. Sem generalizar, é claro. Há pessoas que eu vejo que tentam passar seus sentimentos para os papéis, nem fica tão bom, mas suas atitudes são as típicas que ainda me dão alguma esperança.Decidi perguntar aos meus pais qual era o meu poder, o que eu poderia fazer para ajudar os pobres humanos. Sentei-me com os dois para

conversar e fui diretamente ao ponto:

__ Gostaria que me dissessem qual o meu poder e como posso usá-lo para ajudar os humanos.

Então, minha mãe falou primeiro:

__ Não sabemos o seu poder Day. Você irá descobri-lo com o passar do tempo, quando for necessário.

__ Mas é necessário agora! Eu preciso tentar ajudar estes humanos iludidos.

__ Você está obsessiva pelos humanos. Não há como ajudá-los. Eles devem aprender tudo sozinhos. Você é uma deusa, não se preocupe tanto

com os mortais.

Desisti de tentar convencer minha mãe e me dirigi ao meu pai:

__ Pai, acelere o tempo para que eu possa descobrir o meu poder.

Para a minha surpresa o meu pai riu gostosamente, o que me deixou irritada.

__ Day, não posso acelerar o tempo para isso. Se eu o acelerar e você descobrir seu poder tão rápido, ele provavelmente não fará o efeito que deve fazer sobre a Terra.

__ Não há problema. Quero ajudá-los logo.

__ Se quer tanto ajudá-los, melhor ainda esperar, pois assim você

poderá ajudá-los ainda de forma mais poderosa. Se você tiver

paciência, seu poder sobre a Terra, seja ele qual for, permanecerá

durante um tempo ainda maior. Eu como deus do Tempo consigo prever isso.

Eu super irritada, concordei:

__ Já pude perceber que paciência não é o meu poder! - às vezes eu era um tanto irônica e piadista, principalmente quando estava irritada. E também era um pequeno palpite de que esse pudesse ser o meu poder, já que eu precisaria de muita paciência de agora em diante, além da esperança que meus pais me confirmassem caso eu estivesse correta.

Meu pai riu, dizendo que concordava comigo e que paciência

provavelmente seria uma assertiva muito distante da verdade.

Tive que me dar por satisfeita e continuar observando os humanos sem nada poder fazer. Algumas vezes aquilo era entediante. Era tão repetitivo. Todos os dias a maioria deles assistia a telejornais, onde as tragédias predominavam. A maioria nem se dava conta mais. Era apenas como o cotidiano. Algo como ir trabalhar todos os dias, um após o outro. A única diferença é que as tragédias não tinham folga nem aos domingos, mas como os telejornais tinham, elas eram acumuladas para a segunda - feira. Eu começava a ficar indignada de só poder olhar. Subitamente me veio uma ideia. Saí correndo até a cozinha. Meu pai degustava uma manga e minha mãe cozinhava alguma coisa que não identifiquei.

__ Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiii!

__ O que foi, Day? O que aconteceu? O que você viu de tão grave dessa vez?

Meu pai estava calmo e eu não me surpreendia com qualquer coisa

há muito tempo, então eu disse apenas:

__ Vou à Terra.

__ O que??? - meu pai e minha mãe perguntaram ao mesmo tempo, surpresos, olhando na minha direção.

__ Vou à Terra. Quem sabe por lá eu não posso aprender melhor com os humanos e não descubro logo meu poder?

__ Você não pode fazer isso, Diana. Misturar - se com os humanos pode ser terrível para você e para nós. Você pode não conseguir chegar até eles, e ainda pior, pode não conseguir voltar para nós. - meu pai disse calmo, mas rapidamente.

__ Mas eu quero muito pai. Aceito todos os riscos. Quero tentar

ajudá-los. Eles estão precisando de ajuda.

__ Mas descendo à Terra você pode levar um caos muito maior. O lugar dos deuses é aqui, mesmo que seja para proteger os humanos ou ajudá-los. Os deuses não devem descer à Terra. Lá é o meio entre o céu e o submundo. Não pode ser bom para você em nenhuma hipótese. Eu não permitirei que você vá!

Fiquei indignada! Meus pais nunca me haviam proibido de nada e nem negado algo que eu tivesse pedido. Fiquei tão espantada por não esperar uma resposta negativa que não tive argumentos, principalmente contra o não taxativo de meu pai. Não havia me preparado para aquilo. Já estava imaginando minhas malas prontas e minha viagem à Terra…

Eu tinha que pensar em algo para apresentar ao meu pai que o fizesse mudar de ideia e me deixasse ir à Terra. Fiquei tão preocupada com isso que durante os próximos três dias eu mal observei os humanos.Fiquei apenas a pensar e não conseguia encontrar nada bom o suficiente para convencer o meu pai. Eu poderia falar com a minha mãe. Mas não, ela estaria de acordo com Crons, como sempre foi. Talvez eles tivessem razão, mas eu não pensei muito nisso, apenas passou por um segundo essa ideia em meu pensamento, logo dando lugar de volta à minha preocupação em convencê-los. Três dias já estavam atrasando demais a minha viagem. Eu queria ir, de qualquer jeito. Mesmo que fosse perigoso, que eu não voltasse mais, que eu tivesse que ficar por lá vagando entre humanos, terra e mares… Mares! Esta era a chave do meu

problema! Eu finalmente tinha um argumento! Verdade que era um só entre tantos que meus pais jogariam contra este, mas eu tentaria.

Na hora de nossa reunião familiar eu não sabia bem como começar assunto, como voltar nele, mas o meu pai contribuiu bastante.

__ Espero que tenha observado bastante os humanos e desistido da ideia de ir visitá-los, Day! - ele disse com o maior ar de triunfo que eu já havia percebido nele. Talvez fosse só impressão, mas para mim ele estava achando que a batalha comigo estava ganha.

__ Na verdade eu pensei bem e não entendi ainda porque realmente não posso ir… - Eu comecei.

O ar de triunfo sumiu de sua expressão, dando lugar a um ar de decepção consigo, e continuou:

__ Já lhe disse que há vários motivos. Você pode não chegar lá, pode chegar e não conseguir voltar e a Terra não é lugar de deuses.

__ Se não é lugar de deuses, o que Poss faz por lá tomando conta dos mares? Por que ele não pode simplesmente tomar conta dos mares daqui também se todos os outros deuses fazem dessa maneira?

Meu pai ficou surpreso. Provavelmente ele também não havia pensando nisso. Mas o raciocínio dele era rápido, algo que pelo jeito, eu não havia herdado.

__ Oras, Day, Poss é um deus mais poderoso e bem mais experiente que você. Lida até com criaturas do submundo entre os mares que ele reina. Você não quer se comparar a ele, quer? Tenho certeza de que um dia você será uma deusa poderosa e experiente, mas não agora, agora você é apenas uma Princesa dos deuses. Nem o seu poder se manifestou ainda. Você é nova, não possui nada de experiência e ainda nem entrou na idade adulta, tem apenas 19 anos, o que ainda te dá um ano praticamente todo pra entrar em idade adulta. Seria um erro enorme da minha parte pensar na possibilidade de te deixar descer à Terra se nem mesmo os deuses mais fortes e mais experientes querem isso para suas vidas imortais.

Depois dessa explanação toda, já dava pra perceber que eu também não convenceria meu pai com aquele argumento. Nem mesmo este era suficientemente forte, e se eu passei três dias pensando em algum que pudesse convencê-lo, pensei nesse que julgava o mais forte entre qualquer outro no qual eu havia pensando ou ainda poderia pensar, para mim a batalha estava realmente perdida. Meu pai ganhou de mim mais uma vez com suas argumentações. Mas eu não iria desistir. Talvez o meu poder fosse a persistência, quem sabe.

Parte 2 -

Não pensei mais em como convencer Crons. Percebi que nada adiantaria, então eu teria que planejar. Primeiro eu tinha que descobrir como descer à Terra.

…CONTINUA…

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