Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 18: Promessas

A semana transcorreu dentro da normalidade. Azura-sensei continuou normalmente os treinos de taijutsu, não permitindo que ninguém tocasse no assunto sobre o ocorrido no dojo.

Orinsuke, de ânimo renovado depois da conversa com Yume, venceu o desconforto de ter que treinar lado a lado com Takeda. As ofensas ditas pelo gakusho brigão, principalmente com relação a seu pai, ainda estavam gravadas fortemente em sua memória, mas estava disposto a deixar para trás o ocorrido, já que o objetivo de se tornar um samurai foi renovado em seu coração, e precisava focar mais do nunca suas forças nesse propósito.

No final de quase um mês de intensivos treinos na técnica do taijutsu, os alunos já conseguiam dar mais trabalho ao sensei Azura nas simulações de combate, em especial Takeda e Shimitsu, seguidos logo de perto por Mamoru e Asako.

Acompanhar o avanço dos companheiros e companheira não incomodou mais Orinsuke, pois já reconhecia para si que taijutsu realmente não era seu forte. Aprendeu a enxergar que para um simples adolescente camponês, ter chegado até aquele momento, mais forte no corpo e na mente e realizando movimentos que nunca imaginaria fazer, já era uma grande vitória.

E a jornada pelo caminho da espada não tinha parado por ali. Muitos desafios ainda estavam por vir na formação dos gakusho. Azura-sensei sempre fazia questão de lembrar que o taijutsu era apenas a primeira das três grandes técnicas samurai, e a mais fácil de ser assimilada. E já na semana seguinte iniciaria os primeiros passos na segunda grande técnica.

Como teste final da primeira fase de formação, os gakusho demonstrariam suas habilidades no Kumite, modalidade de combate real não letal, onde duplas seriam formadas, obedecendo regras específicas, e os participantes lutariam com todas as suas forças.

Orinsuke não gostou muito da ideia de ter que lutar com algum dos seus amigos, seja quem fosse, mas sabia que o caminho para se tornar um samurai seria cheio de desafios difíceis como este.

No dia seguinte o Kumite foi o assunto mais comentado no refeitório.

- Tirando você, Shimitsu, acho que nenhuma de nós meninas tem chances na luta direta. Os garotos são mais fortes e estão mais avançados no taijutsu – falou Taira. Ela, Yume e Shimitsu dividam uma mesa durante o jantar.

- Concordo com você, Taira – disse Yume – Exceto Jorubo que, apesar de esforçado, me parece o pior da turma nesse ponto, os outros garotos são realmente fortes, em especial o Takeda.

- Força não é tudo num combate – foi a vez de Shimitsu falar – Não adiante ter força se não sabe onde bater. Em taijutsu precisão é o mais importante. Dessa forma economiza-se energia e obtêm-se o melhor resultado.

- Bem, se é você que está dizendo, deve ser verdade – comentou Taira – Utilizou isso na luta contra Takeda lá no dojo?

- Na verdade...não deu tempo de explorar melhor. Quem sabe numa outra oportunidade.

- Ainda pensa em enfrentá-lo? - perguntou Taira – Achei que não ligasse pra essa coisa de revanche.

- Não ligo – respondeu Shimitsu – Só aprecio bons oponentes, pois eles me ajudam a me entender melhor como guerreira e a superar minhas fraquezas. Entendeu?

- Ah, acho que sim.

Duas mesas ao lado uma outra reunião acontecia entre Takeda, Jorubo e Mamoru.

- Ah, cara, eu sou um burro mesmo, não sirvo para essa coisa de taijutsu. Vou ser o maior fracasso no kumite – se lamentava Jorubo enquanto apreciava uma bandeja enorme de sushi.

- Enquanto escolher em primeiro lugar a comida, seu gordo, nunca vai chegar a lugar nenhum – falou um irritado Takeda – Não vejo a hora de começar os combates e encarar de frente a Shimitsu e o camponês.

- Está falando do Orinsuke? Já não deu uma lição suficiente nele no dojo? - questionou Mamoru.

- Sim, mas quero pressioná-lo ainda mais a perceber que esse não é o seu lugar. Quem sabe não desiste logo e vai embora.

- Será? - provocou Jorubo – Eu sei que ele não é páreo pra você, Takeda, mas me parece que desde sua chegada ele vem recebendo uma atenção especial do sensei.

- E o que ele teria de especial assim, para merecer uma atenção dessa forma?

- Não sei – respondeu Jorubo – Talvez tenha uma carta na manga esperando para revelar.

- Duvido muito – disse Takeda.

Alheio ao que falavam dele, Orinsuke mantinha uma conversa com Asako em outra mesa. Não querendo demonstrar suas expectativas em relação ao kumite daqui a dois dias, os dois falaram do passado, de suas famílias e do sonho de se tornarem samurais. Asako era filho de Iogitama Noburi, o maior artífice de metais em todo o território Wanabi e forjador das mais belas katana do clã.

Orinsuke ficou fascinado com a história da família do amigo mas, faltando alguns minutos para encerrar a hora do jantar, pediu licença a Asako e levantou-se para se dirigir à mesa onde as meninas estavam reunidas. Tinha a intenção de falar com Shimitsu. Mas ao passar pela mesa onde Jorubo e companhia estavam sentados, Takeda barrou seu caminho.

- Olá, camponês. Pelo jeito já esqueceu que temos assuntos inacabados.

- Olha, Takeda, cometemos um erro e fomos punidos por isso – Orinsuke se esforçou para olhar nos olhos do outro e falar - Vamos deixar esse episódio para trás.

- Mas como vou deixar para trás se não entendeu o recado – Takeda se aproximou mais ainda de Orinsuke e o agarrou pelo kimono, olhando-o fixamente nos olhos, intimidando-o – Por sorte teremos logo mais o kumite e não terei tanta piedade dessa vez. Prometo que vou quebrá-lo.

Reunindo forças para encarar aquela intimidação, Orinsuke respirou fundo e olhou na direção das amigas, vendo em Shimitsu, Yume e Taira, a determinação, a decisão e a esperança que tanto necessitava para continuar trilhando seu caminho.

E voltando a encarar os olhos de Takeda, dessa vez de uma forma mais firme, Orinsuke falou.

- Também tenho algo a prometer de minha parte. De uma forma ou de outra, dessa vez será diferente. Agora me solte, ou seremos todos punidos novamente.

O grandalhão o largou e voltou a sentar-se.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 15/12/2019
Código do texto: T6819207
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