Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 17: Palavras Fraternas
Foram necessárias algumas horas para reparar os estragos no dojo depois da desavença ocorrida entre Shimitsu, Orinsuke e Takeda. Dos três, Orinsuke foi o que recebeu a punição mais leve, tendo que ajudar a Sra. Ouchi na preparação do almoço e jantar da turma durante uma semana
Por sua vez, Shimitsu e Takeda ficaram com a pior parte. Além de receberem uma severa reprimenda por parte do sensei Azura, com a ameaça de que se aquilo ocorresse outra vez seriam expulsos de Jinkai e da formação samurai, tiveram que consertar o dano ao dojo.
Alguns dias depois do fato, o assunto ainda era comentado nas rodas de conversa no refeitório ou no alojamento, principalmente por causa da mudança de comportamento de um certo brigão.
- Ainda não estou acreditando que o Takeda continua tão silencioso – falou Taira. Ela e os demais da mesa observavam Takeda e seus amigos inseparáveis, Jorubo e Mamoru, almoçando em silêncio, trocando apenas poucas palavras de vez em quando.
- Provavelmente deve ter recebido a maior bronca de sua vida – disse Yume – Mas não era pra menos. Algum dia o comportamento temperamental de Takeda seria punido.
- Eu sei que brigar fora das aulas é algo grave, mas confesso que estou triste por causa de Shimitsu – falou Asako – Orinsuke disse que se não fosse a intervenção dela, teria se dado muito mal. Takeda queria machucá-lo de verdade.
Durante a conversa, Yume virou o rosto na direção da cozinha. De sua mesa dava para ver Orinsuke trabalhando na limpeza de bandejas, talheres e copos. Yume percebeu no amigo um olhar cabisbaixo, pensativo, triste. Não era para menos depois do que aconteceu.
- E por falar em Shimitsu, onde ela está? - perguntou Taira.
- Não soube? Fiquei sabendo que recebeu a punição de ficar reclusa em seu quarto durante as refeições e de treinar sozinha por uma semana – falou Asako. O mesmo tinha a fama de sempre se inteirar das fofocas dentro da turma.
- Eu me pergunto por que Takeda não recebeu punição parecida – comentou Yume – Ouvir dizer que o pai dele é um dos guarda-costas da shidosha-sama. É verdade?
- Então estamos falando de privilégios? - questionou Taira.
- Não sei dizer, mas que o pai dele tem uma função importante dentro do clã, isso tem – falou Asako.
Depois que todos terminaram o almoço e o refeitório ficou vazio, Yume resolveu falar com Orinsuke, pois estava preocupada com os sentimentos do amigo. Os dois conversaram enquanto ele lavava os pratos.
- Oi, como você está? - perguntou Yume.
- Estou bem – respondeu Orinsuke – Lavar pratos e ajudar na cozinha até que não foi uma punição tão ruim.
- Mas não me parece tão bem assim. Está triste com o que então?
- Eu, triste?
- Eu te conheço de muito tempo, Orinsuke. Desde que entrei no refeitório o vi com o mesmo semblante que costumava ficar em nossa infância quando alguma coisa o aborrecia ou entristecia. Eu estava te observando de minha mesa o tempo todo.
Apesar de estar realmente triste, Orinsuke ficou contente em saber que a amiga se preocupava com ele, que os laços de amizade do passado ainda os conectava.
- Eu não paro de pensar no que aconteceu no dojo – falou Orinsuke – Eu sei que mereço a punição por brigar, mas estou triste por causa da Shimitsu. A culpe foi minha por ela estar isolada agora.
- Não ache que ela não sabia os riscos que corria. É a mais determinada de todos nós. Fez o que qualquer um de nós faria para proteger um amigo.
- É, eu sei – disse Orinsuke – Mas tem outra coisa. Enfrentar o Takeda e vê-lo lutar contra Shimitsu me mostrou o quanto estou abaixo deles, o quanto sou fraco. Se continuar assim, com um desempenho tão ruim nos treinamentos, como poderei percorrer o caminho da espada? Talvez eu…
- Se continuar pensando assim, será de fato um fracassado. Todo caminho tem seus altos e baixos, seus momentos de queda e, principalmente, de superação. Precisamos nos esforçar por encontrar nossos pontos fortes e respeitar os pontos fracos. Para mim o caminho da espada é conviver com esses dois aspectos. Ninguém é perfeito.
Yume fitava seriamente os olhos de Orinsuke. Tinha a intenção de deixar gravadas aquelas palavras na mente do amigo. E de fato pareceu surtir efeito, pois Orinsuke a encarava espantado.
- O sensei lhe ensinou isso?
- Não, a dor me ensinou. Quando Iori morreu nos meus braços, eu me sentir a pessoa mais impotente e fraca do mundo. Mas a partir dali tomei uma decisão de não mais presenciar algo parecido sem fazer nada, sem lutar. Eu também não sei se serei uma boa samurai, mas percorrerei esse caminho até o fim, carregando minhas limitações e tentando superá-las, ou contorná-las. Essa parte aprendi com meu pai.
Yume sorriu ao terminar de falar. Ao ouvir palavras tão profundas e animadoras da amiga, Orinsuke passou a admirá-la ainda mais.
- Obrigado, Yume, você sempre foi uma grande amiga.
- De nada. Mas só me prometa uma coisa. Que fará o mesmo por mim, ou por qualquer um de nós, quando precisar.
- Sim, pode deixar.