Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 15: Nasce um rival

“Taijutsu refere-se a todas as formas de combate corpo a corpo, cujo principal intuito é otimizar as naturais habilidades humanas. É executado acessando as energias físicas e mentais do usuário, contando com a resistência e força adquiridas nos treinamentos”

Começando com essa pequena explicação a respeito do taijutsu, sensei Azura deu início a uma longa jornada de duas semanas de intensos treinamentos. Como prometido, ele acordava os alunos antes do nascer do sol e iniciava uma série de exercícios físicos para “aquecer o corpo”. Logo em seguida, depois de um minúsculo descanso, dava início a mais uma simulação de luta, onde distribuía socos, chutes e empurrões, gerando sua cota de hematomas.

- Não acha que está pegando pesado demais com esses garotos e garotas, Azura? – disse certa vez um samurai mais velho.

- Pelo contrário, meu amigo – respondeu Azura - estou tentando extrair deles o melhor que podem. As novas gerações não são como a nossa ou a dos nossos pais, forjadas na guerra. Lembra do nosso tempo? Aos sete anos já estávamos começando a trilhar o caminho da espada. E agora o que vejo é um terço da turma formada por filhos de comerciantes.

- E por falar em filho de comerciante, nesse caso filho de camponês, como anda o garoto de Kimoto?

- A passos lentos. Confesso que ele tem vontade e quer muito se tornar um samurai, mas só isso não basta. Seu desempenho nos treinos não muda, apesar de as vezes surpreender nas decisões que toma, e seu taijutsu é péssimo. Espero que nas outras técnicas se saia melhor.

- É o que todos esperamos. Afinal, esse garoto é detentor do Caminho da Floresta e, portanto, deve ser encarado como um precioso diamante a ser lapidado.

- Sei muito bem disso, Makoto. Quando a hora chegar, esse diamante estará pronto para ser usado.

- Mas repito, cuidado para não exagerar demais. Até mesmo um bambu pode quebrar.

- Meu dever é extrair o melhor dos nossos gakusho. E mesmo com todas as limitações, já percebo potencial em alguns deles.

Orinsuke não estava nada animado com sua evolução nos treinamentos. Em comparação com alunos como Shimitsu e Takeda, claramente estava ficando para trás nas aulas de taijutsu. Até mesmo Jorubo, com toda sua falta de mobilidade, estava demonstrando certo desenvolvimento.

Mesmo se esforçando a cada dia em adquirir força e resistência física, Orinsuke não estava conseguindo entender muitos dos movimentos marciais e estava lhe faltando a agilidade suficiente para aplicá-los corretamente.

Para melhorar seu taijutsu, Orinsuke passou a acordar bem mais cedo que os demais e treinar sozinho no dojo, num canto onde um boneco de madeira fazia as vezes de oponente. Ficava ali por, pelo menos, uma hora simulando combate e refazendo os movimentos ensinados pelo sensei.

Mas suas saídas furtivas no meio da madrugada foi descoberta e ele foi seguido.

- Ora, ora, e eu achando que era um sonâmbulo. Então é aqui que você vem. O que está fazendo? – perguntou Takeda. O garoto grandalhão tinha acabado de sair da cama e usava apenas calça, sem camisa.

- Estava apenas treinando um pouco, nada demais – respondeu Orinsuke.

A presença de Takeda sempre o deixava incomodado. Desde o primeiro dia que o encontrou no refeitório já deu para perceber que a convivência com ele ia ser complicada. Uma opinião compartilhada pela maioria dos alunos. A qualquer momento Takeda fazia questão de demonstrar seu jeito valentão com os outros gakusho, claro que sempre quando o sensei não estava presente.

Estar sozinho com alguém com temperamento tão explosivo no meio da madrugada num dojo vazio não era nada bom. Até porque Takeda já mostrou que não aprovava que camponeses como Orinsuke, e outros gakusho que não eram filhos de samurai, tivessem a permissão de se tornarem guerreiros de elite.

- Acha que treinando mais as escondidas vai te dar algum progresso, camponês? Você não leva jeito para isso, só vai se cansar à toa. Por mim, você e os outros filhinhos de comerciantes voltavam para suas fazendas e armazéns e deixavam os legítimos descendentes de samurai prosseguir com a tradição. Afinal, por direito, nós somos os verdadeiros herdeiros do caminho da espada.

- Então deve reclamar isso para a própria Shidosha-sama. Afinal, a permissão foi dela – disse uma outra voz saindo de mu dos cantos escuros do dojo.

- Shimitsu? O que faz aqui a essa hora? - questionou Takeda.

- Eu poderia fazer a mesma pergunta a vocês dois – respondeu Shimitsu, sempre com seu jeito calmo e olhar sereno.

- Estava apenas matando a curiosidade em saber porque nosso querido camponês Orinsuke sempre saía no meio da madrugada nos últimos dias. E veja só, descobri que o mesmo fica treinando sozinho, achando que vai ganhar alguma vantagem com isso.

- Não, pelo contrário – falou Orinsuke – Eu procuro acordar mais cedo e treinar mais um pouco justamente por saber que estou bem abaixo do desempenho da maioria da turma. Não sou como vocês dois.

- Não é mesmo, camponês – enquanto falava, Takeda começou a caminhar na direção de Orinsuke - Me diga, vem treinando a mais toda essa semana não é? Então me mostre o quanto melhorou.

- Takeda, não acha que está exagerando? - Shimitsu, imaginando o que poderia acontecer, se preparou para agir.

- Não enche o saco, Shimitsu, isso é um assunto entre homens. Não é, Orinsuke?

- Por favor, Takeda, aqui não é a hora nem o lugar para promover uma luta desnecessária – Orinsuke sabia qual era a intenção do outro. Uma parte sua estava tentando encontrar uma brecha para sair correndo dali. Mas uma outra queria ficar e enfrentar a situação.

- Uma luta desnecessária? Você acha que realmente conseguiria lutar comigo? Está aí algo que eu gostaria de ver – Takeda se aproximou de Orinsuke e começou a empurrá-lo para trás – Vamos, camponês, me mostre o que aprimorou em todo esse tempo que treinou sozinho. Me mostre como está seu taijutsu.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 09/12/2019
Código do texto: T6815149
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.