Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 14: Técnicas Samurai - Taijutsu
Orinsuke caiu ao chão mais uma vez. O golpe do sensei lhe acertara o abdômen, tirando todo o ar. Ficou um tempo deitado em posição fetal, recuperando o fôlego, e assim que ergueu o corpo para se sentar, viu que os demais alunos estavam todos na mesma situação, caídos em volta do sensei.
Durante quase uma hora de treino ninguém conseguiu sequer tocar no sensei. Todas as tentativas de acertá-lo foram rapidamente revidadas com vigorosos contragolpes, as vezes com os punhos, as vezes somente empurrando para afastar. O resultado dessa uma hora de surra sofrida pelos alunos foi partes do corpo doloridas, inchadas ou sangrando.
- Apesar de todo samurai estar sempre acompanhado de sua espada, em muitos momentos surge a necessidade dele utilizar seu próprio corpo como instrumento de combate. É para isso que existe o Taijutsu, a antiga técnica de luta desarmada. No passado grandes mestres nesse estilo podiam combater com as mãos limpas oponentes armados com espadas e outras armas. Mas para isso é necessário disciplina e resistência para suportar a dor. E o que eu vejo é um monte de bebês chorões. Agora, levantem-se, já descansaram demais.
Orinsuke limpou o suor da testa, esforçando-se para recuperar o ar, e levantou-se devagar. Olhou em volta e viu os outros gakusho tentando fazer o mesmo, mas nem todos conseguiram suportar as dores e escoriações e continuaram no chão.
Takeda e uma aluna chamada Shimitsu já estavam prontamente de pé. A garota tinha um ferimento acima do olho esquerdo, de onde escorria um filete de sangue. Já Takeda não aparentava estar ferido, embora fizesse cara da dor.
Olhando os demais companheiros, Orinsuke se alegrou em ver Yume, Taira e Asako erguendo-se. Dos que conhecia mais de perto, apenas Jorubo permanecia deitado com os braços esticados, respirando ofegante e aparentemente sem forças para se levantar. Talvez seu corpo um pouco mais avantajado, devido ao tanto que comia, estivesse cobrando seu preço.
- Pelo jeito terei trabalho com essa turma, fraca como é – disse Azura-sensei – Mas nem tudo está perdido, pois alguns resolveram demonstrar resistência. Veremos até quando. Para vocês darei uma nova oportunidade de me tocar, mas desta vez usarei apenas um dos braços.
O menosprezo do sensei deixou Takeda irritado. O garoto atacou primeiro, seguido de perto por Shimitsu, visando as pernas de Azura no intuito de derrubá-lo, mas o experiente samurai facilmente evitou a investida e, num rápido movimento, contra atacou com um golpe de mão aberta no peito do gakusho, jogando-o para trás na direção de Shimitsu.
A determinada garota desviou do corpo de Takeda e avançou contra o sensei, desferindo um soco em seu tórax. Azura bloqueou o golpe, sempre mantendo o braço esquerdo atrás do corpo, e repetiu o movimento que derrubou Takeda segundos antes. Mas o resultado não foi o mesmo já que, atenta ao seu oponente, Shimitsu girou o corpo velozmente, esquivando da mão espalmada do sensei, e no mesmo movimento desferiu um forte chute visando o rosto. Na mesma hora, Orinsuke se aproximava pelo flanco direito.
O chute de Shimitsu passou no vazio quando Azura arqueou o corpo para trás. Quando a aluna já armava um segundo chute, sentiu uma pancada nas pernas que a levantou no ar. Logo em seguida todo o ar dos pulmões lhe foi tirado com um poderoso chute frontal que a lançou longe no chão.
Orinsuke tentou uma, duas, três vezes atingir o sensei com seus punhos, mas sem sucesso. Azura segurou o gakusho pelo quimono e o jogou de costas no chão.
- Seus golpes são muito previsíveis, garoto. Precisa decidir melhor num combate – disse o Azura. Quando o mesmo tentou retomar sua posição de pé, sentiu seu braço travado. Orinsuke havia enroscado as pernas no braço do sensei numa espécie de chave de imobilização.
- Obrigado pelo aviso, sensei. Acabei de tomar uma decisão. Vai, Yume!
Azura virou o rosto e viu Yume pulando em sua direção com os punhos cerrados. O sensei apenas deu um sorriso enquanto girava a perna para dar um chute certeiro na lateral do corpo da aluna, atirando-a para longe.
- Bela tentativa, garoto – falou o sensei, voltando a encarar Orinsuke. Em seguida desenroscou o garoto do seu braço e o arremessou para longe. Logo depois virou-se para os dois últimos alunos de pé.
Asako e Taira avançaram e atacaram, mas, lentos demais, foram rapidamente imobilizados pelo sensei.
- Muito bem, declaro encerrado o treino de hoje. Embora a maioria tenha sido decepcionante, aqueles que se esforçaram em se manter de pé demonstraram alguma dose de vontade e decisão. Mas não o suficiente. Pelo jeito vou ter que extrair à força a moleza de seus corpos. Amanhã iniciaremos uma hora mais cedo e sugiro que preparem-se pois não serei tão clemente como hoje. Dispensados.
- Sim, sensei – responderam todos ao mesmo tempo.
Orinsuke observava os colegas apressarem-se para retornar aos alojamentos, imaginando o quanto teria que percorrer para se tornar um samurai de verdade. As dores em seu corpo mostravam claramente que o caminho da espada não seria fácil, e o primeiro grande obstáculo seria ele mesmo.
“Não vou desistir, não posso desistir. Esse é o caminho que escolhi e vou até o fim, nem que para isso precise gastar todas as minhas forças. Preciso fazer isso por mim, pelo Sr. Onoke….e por todas as pessoas que pretendo ajudar com minhas capacidades”