Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 13: O Caminho da Espada

Azura-sensei reuniu os aprendizes no pátio para os primeiros ensinamentos, como sempre fazia toda manhã.

- Há muitas gerações os nossos ancestrais chegaram nas terras de Endo. Enfrentando os terríveis desafios de uma jornada incerta, nutriram a esperança de encontrar um lugar para recomeçar suas vidas. Muito pouco sei desses fatos históricos do passado, mas de uma coisa tenham certeza: se não fossem a força para vencer os obstáculos, o foco para se manterem firmes e a coragem e fé para não perderem a esperança, não teríamos conquistado essas terras e recomeçado nossas vidas.

- É por isso – continuou Azura-sensei – que até hoje, seguindo o que os primeiros mestres ensinaram, que todo samurai deve fortalecer o corpo, a mente e o espírito. Deve nutrir a força, o foco e a coragem. Isso é o que chamamos de Caminho da Espada, um código de honra que todos os clãs seguem, e que recebe esse nome por causa da nossa sagrada arma, a katana, símbolo de todo samurai.

Os alunos estavam espalhados em posição marcial, com as mãos postas para trás, em sinal de respeito diante do sensei. Orinsuke era um dos últimos na linha de trás e ouvia com atenção as palavras de Azura. Por um momento procurou por Yume e a viu também concentrada. Segundo o sensei, a partir de hoje começaria uma nova fase em seus treinamentos. Estava ansioso para saber do que se tratava.

- Todo samurai - voltou a fala o sensei - deve demonstrar o quanto está afinado com o Caminho da Espada exteriorizando sua força, suas capacidades. Para isso o grande Senin Sidara, aquele chamado de Ermitão Peregrino, de Primeiro Mestre, transmitiu para as futuras gerações as conhecidas técnicas samurai. E a partir de hoje passaremos a conhecê-las. Mas antes disso, devem conhecer um pouco de nossa hierarquia de postos.

Orinsuke estava fascinado com os novos conhecimentos adquiridos a respeito dos samurais. De fato, como havia escutado nas lendas, estão há muito tempo defendendo os povos de Endo. Nesse momento prometeu a si mesmo que se esforçaria por se tornar pelo menos um pequeno ponto na longa história desses bravos guerreiros, dando sua contribuição para proteger as aldeias e seus habitantes, aldeias como Kimoto.

Ainda sobre o Caminho da Espada e tudo que envolve a vida de um samurai, Azura-sensei falou a respeito dos postos ou níveis samurai, informando que a partir de hoje, e por toda sua vida como guerreiros, seriam reconhecidos dessa forma.

Todo aquele que começa a trilhar seu caminho como um guerreiro, começa a jornada no nível Gakusho. Nesta fase, entra em contato com os princípios samurai do Caminho da Espada e com as técnicas existentes, aprendendo a se tornar ágil como o vento e firme como a rocha. Terminada essa etapa, os gakusho já podem ser empregados em pequenas missões pelo território, geralmente acompanhando samurais mais experientes.

Logo em seguida, disciplinando-se mais em seus treinamentos, com uma bagagem de experiência das missões como gakusho, o samurai adentra o nível Deshi. Nesta fase ele não aprende apenas a aperfeiçoar suas habilidades, como também começa a aplicar a liderança e a estratégia em campo. A partir deste nível, o samurai já é colocado em missões mais complexas com outros deshi e pode liderar grupos de gakusho em missões menores. Espera-se de todo deshi que ele possua um nível considerável de habilidades de combate e de controle do seu caminho elemental.

Após adquirir a confiança de seus superiores, o samurai que demonstra seu valor, sua coragem e sua força, destacando-se nas missões, passa a ser considerado um Senshi, um guerreiro versátil e poderoso em suas habilidades. Neste nível é comum samurais partirem sozinhos em missões perigosas e enfrentarem todo tipo de inimigo sem medo. Todos os capitães do exército samurai de um território pertencem a esse nível.

Finalmente, como toda estrutura precisa uma sustentação, uma viga mestra, os clãs também possuem essa função na figura do Shidosha, ou Primeiro Guardião. O mais forte entre os capitães é escolhido pelos anciões para assumir o posto máximo que um samurai pode alcançar. A partir daí ele se torna o protetor de seu povo, o guia nas situações mais difíceis e o pilar que sustenta a estrutura do clã. O shidosha e o clã se tornam um só, um agindo pelo outro, sempre.

- Bom, depois de toda essa explanação – falou Azura-sensei - espero que tenham percebido o quanto é longo, difícil e honroso o caminho da espada. Espero que ninguém aqui nesta turma tenha medo de percorrer esse caminho, pois se voltarem atrás serão tachados de covardes para sempre. E não há covardes no clã Wanabi, entenderam?

- Sim, senhor! - gritaram todos os jovens alunos em uníssono.

- Ótimo. Agora façam um círculo a minha volta. Ensinarei a vocês as técnicas samurai conhecidas, aquilo que torna um samurai um guerreiro diferente, alguém com capacidades únicas.

Com seu corpo vibrando de energia e o coração cheio de empolgação diante das explicações do sensei, Orinsuke desejou mais do nunca se tornar forte. Não mais aquele garoto do campo que só sabia plantar verduras e cuidar de animais. Queria ser algo mais, alguém mais importante no mundo. E o Caminho da Espada representava tudo isso.