Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 12: Novo Amigo, Velha Amiga

- Orinsuke, não é? - disse o garoto de olhos grandes e rabo de cavalo. O mesmo tinha acabado de se sentar à mesa para almoçar – Desde que chegou, ainda não tivemos a oportunidade de nos falar. Eu me chamo Asako.

- Olá, Asako. Obrigado por me acompanhar na refeição – Orinsuke estava sentado, sozinho, numa mesa afastada no canto do salão. Nos últimos dias, enquanto treinava em separado com o sensei Azura, se viu isolado pelos demais aprendizes. Geralmente almoçava e jantava sozinho, observando os demais alunos conversando, imaginando quando se entrosaria com a turma. Mesmo depois de duas semanas em Jinkai, ainda se sentia um estranho no ninho. Mas a presença de Asako naquele momento lhe acendeu a esperança de melhores dias na relação com os outros aprendizes.

- Na verdade já estava de saco cheio de ouvir o Takeda se gabar de suas habilidades. Afinal, como andam as suas? Já faz duas semanas que treina com o sensei.

- Não sei. Esses dias o sensei Azura tem focado apenas nos exercícios físicos. Disse que preciso fortalecer o corpo.

- Sei como é – disse Asako, sorridente – Todos nós já passamos por isso. O sensei sempre pega pesado nessa parte inicial do treinamento.

- E depois? - Orinsuke estava curioso em saber o que o esperaria.

- Ah, depois só piora. Mas se você manter-se focado na disciplina e em não atrasar nos treinos, vai dar tudo certo. O sensei detesta atrasos. No começo eu também achei que não conseguiria, mas quando surgem os resultados você vê que é possível. Se tornar um samurai é um caminho longo, mas não impossível. É assim que eu acho.

Orinsuke sorriu para o amigo. Acha que poderia considerá-lo assim.

- Confesso que já percebo esse resultado do qual falou. Me sinto mais forte e resistente. Esses dias têm sido puxados, mas acho que estou avançando.

- Isso é apenas o começo, meu jovem aprendiz – Asako encarava o amigo – Ainda tem muito o que provar, nós ainda termos muito o que provar para nos tornarmos verdadeiros samurais.

- Ah, desculpe, é verdade.

Os dois resolveram terminar o almoço e ficaram em silêncio por um tempo. Logo depois mais alguém se aproximou para acompanhá-los.

- Posso me sentar com vocês? -Yume chegou carregando sua bandeja.

Ao ver a antiga amiga, Orinsuke abriu um sorriso de contentamento. Yume ainda mantinha seu cabelo amarrado como antigamente e seu olhar ainda era encantador. Quando se deu conta de que a encarava demais, desviou o olhar para o prato.

- Olá, Yume – falou Asako, já finalizando sua refeição – Também fugiu das baboseiras do Takeda?

- Ah, não, não. Tem uma hora que você passa a ignorar totalmente. Eu vim mais para…

- Ah, entendi – interrompeu Asako, olhando os outros dois – Tinha esquecido que são da mesma aldeia. Como é o nome mesmo?

- Kimoto – respondeu Yume.

- Isso mesmo. Engraçado essa coincidência, não é?. Dois camp….ah, quero dizer…

- Você quis dizer dois camponeses? - questionou Yume.

- Ah... sim. Mas não no sentido ruim. Vocês são a prova de que qualquer um pode seguir o caminho da espada – Asako percebeu que estava se complicando. Os companheiros o encaravam sem saber o que dizer – Acho que já acabei meu almoço. Vejo vocês depois.

Assim que Asako saiu, Orinsuke e Yume riram baixinho da situação, do constrangimento do amigo.

- Então, vamos contar nossas histórias? - perguntou Yume.

Os dois amigos conversaram bastante a respeito do que viveram nos últimos tempos e também relembraram a época em que se viam constantemente, ao lado dos companheiros inseparáveis Godi e Han, e partilhavam inúmeras brincadeiras juntos. Adoravam quando fingiam ser uma patrulha samurai, vigiando os bosques por onde passavam, acompanhando seus pais nas feiras livres. Riram da ironia da vida que os colocaram justamente no mesmo lugar, treinando para se tornarem samurais de verdade anos depois.

Yume ficou surpresa ao ouvir os motivos que levaram Orinsuke à capital Wanabi e ao treinamento em Jinkai. A história do ataque dos bandidos no bosque próximo a Damari e, principalmente, a manifestação de uma poderosa técnica adormecida, considerada perdida a tanto tempo, a fizeram olhar para o amigo de uma maneira diferente. Estava de frente para alguém com capacidades especiais.

Diante disso, Orinsuke pediu sigilo a respeito do seu segredo para que esse fato não se espalhasse. Tinha recebido essa orientação do sensei Azura. O mesmo tinha dito que na hora certa todos saberiam. Yume assentiu com o pedido do amigo.

Yume revelou que, diferente da história agitada do amigo, tinha chegado à Jinkai por vontade própria, depois de presenciar uma tragédia. Em sua última viagem à Hikuran, o pai de Yume recebeu o convite de trabalhar para um grande amigo, comerciante de renome, em uma de suas estalagens, como administrador. Como não tinha ninguém os aguardando em Kimoto, e vendo a excelente oportunidade de cuidar da filha no centro do território, o pai de Yume aceitou a proposta e ambos passaram a viver na capital.

Certo dia houve uma desavença entre dois grupos dentro da estalagem, gerando uma briga armada que vitimou o filho do dono e amigo do seu pai. O garoto, que se chamava Iori, foi atingido por uma lâmina no peito e morreu nos braços de Yume.

Naquela hora sentiu a maior sensação de impotência da sua vida, vendo um amigo morrer diante de seus olhos sem poder fazer nada. Uma equipe de samurai chegou logo depois ao local mas já era tarde demais para fazer algo. A partir daquele momento jurou a si mesma que jamais passaria por aquilo outra vez. Se dedicaria a curar e salvar vidas. Foi assim que, sabendo que em Jinkai samurais também aprendiam a salvar pessoas, pediu permissão ao pai para iniciar os treinamentos.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 02/12/2019
Código do texto: T6808715
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