Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 11: Começa o Treinamento

Orinsuke desabou com o peito no chão. Não estava mais aguentando o esforço. A sequência impiedosa de flexões, agachamentos e abdominais o levaram ao limite de suas forças. Sensei Azura disse que o primeiro passo era fortalecer o corpo, torná-lo resistente ao tempo e às exigências físicas, obstáculos comuns na vida de um samurai. Por isso tinha escolhido realizar as atividades ao ar livre, expondo seu aprendiz ao clima.

Apesar de estar acostumado a trabalhar duro, cuidando da horta e dos animais, na propriedade do Sr. Onoke, não imaginava que encontraria tamanho desafio logo no início de seu aprendizado. Banhado de suor, sabia agora o real significado de atividade física. E para piorar, o sensei não demonstrava o menor remorso em exigir tanto dele.

- Levante-se, garoto. Mal começamos e já está neste estado? Apenas uma hora se passou.

- De...desculpe, Azura sensei – Orinsuke ofegava intensamente – Meus braços perderam a força.

- Isso porque nunca os fortaleceu. Pernas e braços são partes essenciais para todo samurai. São instrumentos de ataque e defesa e precisam estar preparados.

- Sim, sensei.

- Então recomece. Já descansou demais, aprendiz.

Orinsuke iniciou uma nova bateria de exercícios, se esforçando ao máximo para completar a sequência de movimentos. Conforme a manhã ia avançando, o calor tornava-se um desafio a mais. Azura sensei parecia não se incomodar. Continuava observando-o com seu único olho, imóvel como uma estátua.

E mais uma vez a exaustão o levou ao chão.

- Acho que cheguei ao limite, sensei – Orinsuke estava de joelhos, com as mãos no chão. Sentia-se frustrado pelo seu corpo não conseguir dar mais.

- Não me fale de limites, garoto – Azura tinha se agachado para encarar Orinsuke. Seu olhar era severo – Você não sabe o que é isso. Está vendo essa cicatriz? – apontou para o olho esquerdo, coberto por um tapa-olho – Foi o resultado de horas de combate. Quando sua vida e a de seus companheiros está em jogo, você descobre que pode ir além pela sobrevivência. Então não me fale de limites. Isso para mim é reclamação, somente. Entendeu, aprendiz?

- Sim, senhor, sensei Azura – Apesar do cansaço e das dúvidas sobre suas capacidades, palavras do sensei despertaram ânimo no coração de Orinsuke.

- Então levante-se – o guerreiro samurai não parava de encarar o garoto – Já descansou demais.

Aquele tinha sido somente o primeiro de alguns dias que foram dedicados ao treinamento físico de Orinsuke. Enquanto os demais aprendizes mantinham suas rotinas de treino, ele realizava seus trabalhos de forma particular. Por todo esse tempo foi acompanhado pelo sensei Azura. O mesmo chegou a revelar que recebeu a missão de prepará-lo diretamente da shidosha.

Orinsuke só via seus companheiros no final do dia, no alojamento, mas estava geralmente tão exausto que trocava muito poucas palavras com os demais aprendizes, inclusive com Yume. Até as brincadeiras de Takeda e Jorubo não tinham tanto espaço para perturbá-lo, já que pelo cansaço dava pouca atenção a elas.

Ao final de uma semana de intensivos treinos físicos, Orinsuke começou a perceber mudanças em seu corpo, o que o deixou feliz. Maior capacidade respiratória, rigidez muscular e resistência ao esforço foi o resultado desse processo inicial. Tanto que passou a desafiar a si mesmo nos exercícios, sempre buscando ultrapassar seus recordes pessoais e o tempo dedicado aos treinos. Não queria decepcionar o sensei Azura, Kiha, Katayama, a Shidosha-sama, todos que esperavam dele algo mais. Precisava superar seus limites.

“Definitivamente esse garoto aprende rápido” pensou Azura. Estava sentado num toco de árvore, com os braços cruzados e olhos atentos ao aprendiz à sua frente.

- Vinte e sete….vinte e oito...vinte e nove….trinta – Orinsuke ergueu-se e apoiou uma mão na árvore para descansar. Tinha alcançado um novo recorde de flexões. Além disso, já conseguia dar mais de vinte voltas no pátio de treinamentos em suas corridas matinais. Só em relação aos terríveis abdominais que não tinha evoluído muito bem. Mas isso era uma questão de tempo. Iria se esforçar mais.

- Deixa só eu pegar um fôlego, sensei, e já volto aos exercícios.

- Não é necessário. A partir de amanhã daremos início à segunda fase do treinamento. Irá se juntar aos demais.

- Sim, sensei – Orinsuke fez uma reverência inclinando o corpo. Seus olhos brilharam ao ouvir as palavras do mestre. Seu esforço foi reconhecido. Estava sorrindo por dentro.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 02/12/2019
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