Orinsuke e Os Sete Trovões - Cap 7: O que guarda o futuro?

Orinsuke caminhava no meio de um bosque sombrio e nevoento. Olhava para todos os lados e não via ninguém. Estava assustado, com frio e perdido, até que avistou um objeto brilhando ao longe. Andou apressadamente em sua direção e o objeto foi tomando a forma de uma bela katana. Ao para os lados, certificando-se se o dono da espada não estava por perto e não viu ninguém.

Sentindo uma irresistível atração pela bela espada, Orinsuke segurou o cabo com as duas mãos. A sensação foi incrível quando percebeu uma força fluindo da katana para seu corpo. Mas o processo foi interrompido logo em seguida quando escutou um ruído vindo das árvores a sua volta. Uma voz fraca, sussurrante, chamava-o pelo nome em meio a névoa do bosque.

- Sr. Onoke? - reconheceu de quem era a voz - Aqui, estou aqui - Orinsuke olhava para todos os lados mas não via ninguém. A névoa densa que permeava o ambiente dificultava a visão. O ar estava bastante frio e as árvores tinham um aspecto antigo e sombrio. Orinsuke foi avançando apressadamente bosque adentro, seguindo a voz do Sr. Onoke.

A vegetação composta de plantas altas e emaranhados de raízes dificultava a caminhada, fazendo-o pensar várias vezes em retornar e pegar a espada para abrir caminho. Alguns metros depois surgiu uma figura vestida com roupas maltrapilhas de camponês.

- Orinsuke! Que bom que você veio. Venha, me ajude a sair daqui - o Sr. Onoke tentou caminhar mas fraquejou, quase caindo.

- Calma, Sr. Onoke - Orinsuke segurou o velho pelo braço para equilibrá-lo - Que lugar é este? Onde estamos?

- Não importa, só precisamos encontrar a saída. Vamos! Rápido! Eles estão chegando! - Sr. Onoke ficou apreensivo de repente, olhando para trás com expressão nervosa.

- Sr. Onoke, algum problema? Vamos, precisamos continuar.

- Não. Já é tarde demais. Eles estão aqui.

A névoa foi se dissipando aos poucos e dando maior visibilidade do terreno. Orinsuke percebeu vultos de pessoas que os observavam. Não dava para ver direito quem eram, pois pareciam sombras em meio a neblina, mas a medida que a visão se tornou um pouco melhor, Orinsuke viu que estava cercado por vários samurais. Estavam vestidos com armaduras e usavam máscaras.

Orinsuke não se sentia amedrontado, muito pelo contrário, se viu fascinado por aquelas figuras silenciosas. Caminhou na direção dos samurais e um deles deu dois passos a frente, esticando a katana para ele, ofertando-a. A arma estava guardada numa bainha ornada com belíssimos entalhes. Encantado, aproximou-se mais, para ver de perto a bela espada, mas uma voz o tirou do transe.

- Orinsuke, não me deixe aqui sozinho - disse o Sr. Onoke, chamando a atenção do garoto.

- Mas…são samurais, não precisa ter medo.

O Sr. Onoke cambaleou e levou a mão ao pescoço para conter jorros de sangue que saiam de um profundo corte. O velho perdeu as forças e caiu no chão.

- Sr. Onoke! Não! - Orinsuke saiu correndo e se ajoelhou ao lado do corpo pálido e trêmulo do velho. Segurou sua mão com força enquanto tentava impedir o sangramento abundante.

- Fique comigo, garoto. Q..quem cuidará da propriedade? Q..quem..cuidará..d..de….mim? - Orinsuke começou a sentir a pele do Sr. Onoke ficar gelada.

- Não! Por favor, fique aqui! Vamos dar um jeito nesse ferimento! - Orinsuke viu quando o sangue formou uma enorme poça.

- Prometa que não irá com eles. Prometa que tudo será como antes - o corpo do velho começou a fundar na poça de sangue. Orinsuke tentava impedir mas era inútil. Uma força o puxava para baixo, até que afundou de vez.

- Sr. Onoke! - gritou desesperado.

- Prometa…

- Não! - Orinsuke gritou de novo, desta vez no mundo real. Percebeu que estava num pequeno quarto com paredes e piso de madeira, acomodado numa esteira coberta com um confortável cobertor. Uma janela na parede oposta deixava passar os raios solares, mas não chegava a iluminar o ponto onde estava sua cama. Sentou-se e imediatamente sentiu uma leve pontada de dor na lateral da testa. Levou a mão ao local e percebeu uma espécie de curativo.

- Parece melhor. Como foi a noite? - Orinsuke se assustou ao ouvir aquela voz masculina potente. Reconheceu a figura do samurai grandalhão que combatera o grupo de bandidos. Katayama era seu nome. Imaginou como alguém daquele tamanho poderia ser tão silencioso. Nem tinha percebido ele entrar no quarto.

- Estou bem, eu acho - respondeu Orinsuke. Apesar do incomodo na testa, se sentia realmente bem. Só não lembrava como tinha se ferido daquela forma.

- Ótimo. Agora me acompanhe, precisamos conversar.

- Espere um momento por favor, senhor. Que lugar é este? Onde está o Sr. Onoke? O que aconteceu?

- Você está numa hospedaria em Damari, sob nossos cuidados. O comboio de carroças em que estava foi atacado por assaltantes. Graças aos kami já estávamos no encalço desse bando e conseguimos chegar a tempo de evitar o pior. Mas não sem luta, pois eles resistiram. No final todos foram salvos, inclusive seu avô.

- O Sr. Onoke é meu pai adotivo. Onde ele está? Eu preciso vê-lo. Não posso deixá-lo sozinho.

- Eu já disse para não se preocupar, garoto. Ele está acompanhado. Vamos, eles estão no andar de baixo - Katayama saiu andando pelo corredor estreito e Orinsuke o seguia logo atrás.

A figura daquele guerreiro a sua frente o impressionava. Não só pela estatura, mas por tudo que os samurais representavam. Ouviu muitas histórias e lendas sobre os feitos impressionantes e batalhas épicas travadas por esses guerreiros habilidosos.

A hospedaria tinha dois andares e vários quartos. O Sr. Onoke estava num deles, acompanhado por Kiha. A mesma estava olhando pela janela para o lado de fora enquanto que o velho estava acomodado numa cama, aparentemente inconsciente.

Ver o Sr. Onoke com o pescoço enfaixado, fez Orinsuke relembrar o momento em que o líder dos assaltantes ameaçou seu pai com uma lâmina afiada. Sua vontade era perguntar como estava se sentindo, se precisava de alguma coisa. Mas claramente estava sendo bem cuidado e resolveu ficar em silêncio. Jamais teria como pagar por aqueles serviços. Os samurais estavam sendo muito generosos e isso só aumentou sua admiração pela dupla de guerreiros.

- A dor no local do ferimento atrapalhou seu descanso, mas finalmente conseguiu dormir. Tive que ministrar uma porção de erva do sono. Mas o pior já passou e agora é só aguardar o corpo responder. Ele é um ancião forte - disse Kiha.

- Muito obrigado à senhora e ao senhor. Somos camponeses humildes e não temos como retribuir - Orinsuke baixou a cabeça e não encarava os samurais.

- Não nos ofenda, garoto. Não fizemos isso esperando algo em troca - falou Katayama, que tinha sentado no chão com as pernas cruzadas.

- Desculpe senhor, não quis…

- O que ele quis dizer foi que isso tudo foi necessário para garantir a vida do seu pai - interrompeu Kiha – Assim que acordar, teremos uma conversa importante. Falaremos sobre o seu futuro, Orinsuke de Kimoto.

- Meu futuro?

- Sim. Você irá para a capital conosco.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 28/11/2019
Reeditado em 01/12/2019
Código do texto: T6805502
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