Guardiões de Faery - Cap 2: Convite do grande mago
O fato mais feliz que acontecera em Arendel desde a vitória na guerra contra as forças do mal, foi o despertar repentino da princesa Bellamy do seu sono misterioso. Numa certa manhã, quando a camareira abriu as cortinas do quarto da princesa, e os primeiros raios de sol tocaram seu rosto lânguido, a garota abriu os olhos.
Durante as longas semanas em que sua filha ficou mergulhada na inconsciência, a rainha Helena convocou todos os conhecedores das artes místicas que residiam em Grimmland para ajudá-la a despertar, a retirar seja qual fosse aquela maldição. Alguns vieram de várias partes do reino, mas não possuíam o conhecimento necessário para desvendar o mistério do sono da princesa.
Como último recurso, a rainha recorreu à Escola Arcana em Ávalon, onde o grande mestre mago Merlin e seus alunos mais antigos davam aulas para aqueles que decidiam enfrentar o treinamento para se tornar um aprendiz. O velho mago atendeu o pedido da rainha de Grimmland e atravessou o mar para visitar sua filha.
“O que foi isso que senti?” foi o pensamento de Merlin quando tocou pela primeira vez a testa da princesa Bellamy. Sua preocupação era visível, já que percebeu uma confusão de energias místicas no corpo da criança, duas forças lutando por primazia, uma querendo dominar e a outra tentando despertar.
Uma parte ele sabia o que era e se alegrou com a descoberta. Bellamy possuía uma quantidade considerável de partículas mana em seu corpo, ou seja, tinha energias místicas que lhe davam o potencial de se tornar uma usuária de magia. Ele havia, depois de um tempo considerável, encontrado uma Desperta.
Mas havia a outra parte, real e perigosa. Se realmente a princesa teve contato com um dos Pergaminhos das Sombras, como relatou a rainha, era bem provável que as energias corrompidas tenham sido absorvidas pelo corpo de Bellamy, atraídas pelas partículas mana. E mesmo estando selado magicamente, a atração entre as duas forças foi o suficiente para provocar um “vazamento”.
Uma coisa era certa. A partir daquela descoberta, a princesa precisava ser vigiada de perto. Dessa forma Merlin resolveu ficar um tempo em Grimmland, já que a rainha se recusou em permitir que a filha fosse para Ávalon sob os cuidados do mago. Merlin sabia que a rainha Helena amava a filha, fruto da união com o falecido rei James, e não queria contrariá-la em sua decisão.
Mas conforme o tempo passava e o contato com a princesa se estreitava, com o mago ensinando algumas coisas sobre a magia, numa clara tentativa de impressionar a garota, Merlin percebeu que um grande perigo residia escondido dentro do corpo de Bellamy.
A energia absorvida do pergaminho da sombra estava se manifestando cada vez mais externamente, encontrando brechas na mente da princesa, gerando sérios riscos para ela e todos a sua volta. Certa vez, apavorada depois de despertar de um pesadelo, Bellamy foi tomada pelas energias caóticas, que se desprenderam do seu corpo e destruíram o quarto onde dormia. Se não fosse a rápida intervenção de Merlin, dissipando a manifestação mística, o estrago poderia ser pior. Outra vez durante um jantar, Bellamy fez todos os convidados caírem num sono repentino, inclusive a rainha. E lá estava mais uma vez o velho mago para contornar a situação.
Depois desse episódio, no intuito de conter as energias sombrias, Merlin pediu permissão para realizar um encantamento na princesa, marcando seu corpo com uma runa de selamento. Naturalmente a rainha não ficou nada contente em imaginar o corpo de sua querida filha marcado por um símbolo místico. Confiava no mestre mago, mas precisava saber mais.
- Por quanto tempo ela vai precisar desse encantamento? - perguntou a rainha Helena enquanto bebericava uma taça de vinho. Tudo que se remetia a saúde da filha a deixava tensa.
- Mesmo com minha experiência em assuntos místicos, eu não lembro de ter visto algo parecido com o que acontece com a princesa. Por sorte a quantidade de energia absorvida pelo corpo da princesa foi pequena.
- Por que tem tanta certeza disso? - perguntou a rainha.
- Aquele pergaminho, majestade, possui mana sombrio em forma bruta contido nele. Se a princesa tivesse tido contato com uma quantidade maior daquele poder, não teria resistido. Se aquela câmara estivesse realmente fechada, não teríamos esse problema.
- Mas estava fechada – a rainha irritou-se um pouco com a sutil mas clara repreensão de Merlin – Como eu poderia saber que uma maldita passagem secreta de mais de duzentos anos ainda existia ali? Mas não há mais motivo de preocupação, pois mandei fechar completamente. Minha única preocupação é minha filha.
- Bom, majestade, se permite dizer uma coisa, muitas vezes algo aparentemente ruim acontece para que o melhor surja. Se não fosse por esse episódio, não teríamos descoberto que sua filha, a princesa Bellamy, é uma escolhida de Mellian, a deusa da magia. E foram as partículas mana, como uma proteção natural, que impediram o pior de acontecer.
- Mesmo assim meu desejo era que nada disso tivesse acontecido – desabafou a rainha – Que minha filha não tivesse entrado naquela câmara, que não tivesse essas tais partículas em seu corpo e que essa deus...perdão, que a deusa Mellian não tivesse apontado dedo para ela.
- Mas a deusa a escolheu, majestade, e isso deve ser encarado como uma honra. Há muito tempo, em sua nobre função, os magos são responsáveis pela proteção de Faery dos mais diversos perigos. E eu, como diretor da Escola Arcana de Ávalon, tenho o dever de proteger e direcionar todo aquele que nasce com o potencial de se tornar um mago.
Percebendo o tom solene de voz que Merlin começou a empregar em sua fala, a rainha entendeu o que ele estava fazendo e interrompeu.
- Alto lá, mago. Sei muito bem o que pretende com suas palavras e não tenho interesse em atendê-las. Não ficarei longe de minha filha.
- Prefere que as energias caóticas continuem revolvendo a mente e o corpo da princesa? O selamento rúnico que pretendo colocar deverá conter as manifestações indesejadas, mas não é o ideal que fique assim a vida inteira. Ela precisará de treinamento para conhecer sobre o que ela carrega consigo e para aprender a controlar esse poder. Portanto, eu , Merlin, convido formalmente a princesa Bellamy para ser a mais nova aprendiz da Escola Arcana.
A rainha Helena ficou parada, olhando para um grande quadro na parede com a pintura do rei James. Embora fosse uma mulher forte e decidida, nessas horas sentia maior saudade do marido, pois admirava sua sabedoria para tomar decisões difíceis.
- Depois que me recuperei da morte do rei, venho administrando sozinha esse reino, e tenho minha filha como foco de minha força para essa tarefa todos esses anos. A separação deixou marcas profundas em meu coração. Como você acha que seria para mim passar por isso de novo, Merlin?
- Entendo sua dor, majestade, eu também já passei por separações dolorosas. Mas desta vez não será a morte que fará isso. Além domais, não conheço lugar mais seguro para alguém como Bellamy do que a Escola Arcana. A senhora poderá visitá-la quantas vezes desejar, além de que o rei Artur ficaria imensamente alegre com sua visita depois de todos esses anos. Seus reinos sempre tiveram uma excelente relação.
A rainha continuou olhando para o quandro do marido, pensando nas palavras do mago e em tudo que elas representavam.
- Então, Helena, rainha de Grimmland, o que me diz? Aceita o convite em nome de Bellamy, princesa do reino?