Prólogo dos Magos

Prólogo

Montanha de Harmoh, a grande montanha, a montanha nunca escalada por filho de homens, na qual das cidades habitadas nunca se viu o pico, de onde todo o continente de Asparth se constituiu. Banhada pelo mar das pedras, rodeada pela grande floresta de Hur, floresta essa, que se fez morada do mestre da morte Morttunlis e dos grandes magos, cercados por seus guardiões, os Gall’orh. Hur, reduto dos anciões iluminados, detentores dos segredos da magia usada nas grandes batalhas presenciadas pelos deuses e seus filhos, contada em canções de geração a geração.

No topo do monte, a névoa ainda cobria todo o palácio, mas não se ouvia mais gritos, nem gemidos, nem barulho de coisa alguma, o silencio era tão terrível quando a visão de Morttunlis ao acordar, tentar se levantar e ver que nem toda sua magia e poder foi o suficiente para evitar tão gigantesca catástrofe, corpos amontoados ia se revelando a cada passo dado. Aos poucos mesmo desnorteado pelos golpes sofridos, ainda tonto e cambaleado, ia se revelando diante de seus olhos, o caos que se tornou aquela noite.

- Os deuses ficaram loucos, loucos! – gritava o mago com a voz trêmula e embargada com o choro – Egoístas, preferiram milhares de mortes ao verem os homens livres, livres!!!

Lentamente foi voltando o olhar para se, percebeu que estava coberto de sangue, não apenas dele, suas vestes estavam destroçadas, partes do seu corpo estava com queimaduras. O estado de choque acompanhado pela loucura, impediu o Mago Morttunlis de sentir a dor infernal que tais ferimentos deviriam causar, Aos poucos, o gosto de sangue na boca ia surgindo e o trazendo para a realidade com um mínimo de sanidade, o ódio, as lembranças vinham como fogo em sua mente, e o que via diante dele, comprovava que não eram alucinações.

- Onde estão eles?

Gritou com uma voz cheia de ódio, porém quase sem força, sem o ímpeto de outrora. A pergunta era quase de forma retorica, pois, sua visão, o deixou esperança de que alguém pudesse responder em meio a destruição. Foi passando a mão rapidamente em meio a névoa, tentando melhorar a visibilidade, quando uma voz soa por trás dele, leve e suave, mas com um peso que vozes de filhos de homens não tinham.

- Todos foram expulsos para trás da montanha do martelo.

Morttunlis se vira lentamente dando uma gargalhada baixa e irônica, cortada pela dor que sentia no peito, os ferimentos passaram a doer angustiantemente, doíam até na respiração.

- Aí está o justo – ainda com tom irônico – satisfeito agora?

- Mestre mago, não haveria justiça sem minha intervenção, aos homens não foi dado o direito de ter a magia ao seu próprio benefício.

Morttunlis interrompe Jtus.

- Pare! – agora com um pouco mais de força - Não quero saber de suas considerações banhadas dessa hipocrisia santa, eu sou humano, filho de um Silá, mas sou homem, nasci na terra, de uma filha de homem, era justo que eu reinasse, eu e meus irmãos, ou pelo menos deixasse-nos lutar, era justo que pudéssemos lutar. - O mago termina a frase cuspindo no chão, com ar de repúdio.

- Você e todos os magos ficaram loucos, fiz o que era necessário.

- Sua voz me irrita, seu olhar me irrita. - Morttunlis caiu de joelhos olhando para suas mãos ensanguentadas e feridas. – Se Kaus pudesse me ouvir.

- Ele não vai te ouvir e se ouvir não vai poder fazer nada, todo o poder dele estar espalhado pelo continente, ele e seus mensageiros perderam o poder e você possui um pouco dele, só por isso chegou até aqui, sabe-se lá como conseguiu reunir tanto poder assim, nunca um mago conseguiu canalizar tanto o poder dele, mas por isso expulsei todos, você é o último, mas não queria que você, logo o mais forte, o mais poderoso, fosse levado ainda desacordado, sem saber seu julgamento.

Antes que Jtus terminasse a fala, Morttunlis tentou o atingir um golpe de luz negra, mas o mago estava fraco, e ao ver que sua magia era inválida naquela situação, pranteou aos gritos.

- Jtus seu covarde! Maldito seja! Maldita seja sua justiça! onde estar aquele...?

Ao longe se ouvia um galope de cavalo acelerado, batendo os cascos rapidamente no chão de pedras e a cada instante ficava mais alto, se misturando ao som dos gritos de Morttunlis. Com a eminente aproximação do galope, o silencio tomou conta dos dois, e Jtus sumiu em meio a névoa diante da presença de Morttunlis.

- Covarde! covarde! – repetindo a mesma palavras sua voz foi ficando baixinha até parecer um sussurro, e ao levantar a cabeça, ver um cavalo negro com armadura prateado, montado por um grande cavaleiro também com armadura prateada que cobria todo o corpo, o elmo feito de ouro e rubis, só deixava aparecer os olhos, com um machado dourado todo coberto de sangue, ele vinha se aproximando numa velocidade incrível, ao se aproximar do mago o cavaleiro faz um movimento brusco com o machado e acerta o no peito, Morttunlis estava de joelhos e foi jogando para trás com impetuosa violencia, arremessado contra as colunas já destruídas, o mago ferido e atordoado não teve reação, não acreditava no que acontecera, estava acabado fisicamente e psicologicamente, tudo parecia um pesadelo. O Cavaleiro para dar uma volta no cavalo lentamente e se aproxima do Ancião Mago e fica olhando para o mago no chão. Morttunlis agora quase sem respirar, com a visão turva e olhando para cima, o mago vê os olhos do cavaleiro.

- Como? Como pode? – Decepcionado.

- Kaus nunca reinará nessa terra. – A voz chegava do cavaleiro, atordoava e estremecia nos ouvidos do mago. – Maldito, esse é seu julgamento! A morte te libertará de todo sofrimento e loucura, e por fim colocará mais um ciclo de paz a esse continente.

Ofegante e antes que levasse o último golpe, o mago levantou a mão lentamente, apontado o dedo em direção ao cavaleiro, e proferiu suas últimas palavras:

- Nada foi em vão, todos viram que Kaus ainda pode reinar, seu poder estar espalhado no continente, e todo o povo um dia verá um guerreiro que ao tentar salvar seu povo, entregará o poder ao meu deus, esse tempo chegará e não demorará.

O cavaleiro levantou seu machado e degolou Morttunlis, puxou as rédeas e saiu a galope buscando os últimos a serem julgados na primeira grande noite escura, a noite de Vellur noite de julgamento.

Leandro Cavalcante
Enviado por Leandro Cavalcante em 20/11/2019
Reeditado em 20/11/2019
Código do texto: T6799836
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