A pequena fada e o cometa.
A fadinha voava entre pequenas flores do jardim. Estava feliz.
Naquela noite um grande cometa vermelho sobrevoaria os céus. Era um momento muito esperado. Os estudiosos há anos anunciavam o acontecimento, todos se agitavam, não poderia perder por nada.
Adorava aquele jardim. Era muito bem cuidado e nos último tempos, seus donos haviam somado novas rosas coloridas que ela ainda não tinha visto por ali. Eram amareladas e avermelhadas, outras em tons mais frios, tinham deixado o ambiente alegre e animado. Além disso tinha instalado novas esculturas de pequenos animais, como coelhos e sapos cantantes, além de uma pequena fonte, tinha ficado lindo.
Desde a instalação das novidades, o lugar tinha se tornado o ponto de encontro de pequenos gnomos e fadas.
A noite finalmente chegou trazendo consigo seus mistérios e o prometido cometa enfim surgiu. Como um astro príncipe, majestoso, o cometa passou grande, vermelho e brilhante no alto, no céu. Aquilo era tão lindo, que os olhos da pequena fada derramaram lágrimas doces de emoção. O vermelho era tão intenso que fazia o horizonte ficar meio esverdeado por contraste. Até o jardim parecia ter mergulhado no vermelho intenso do cometa. Por um momento a pequena fada imaginou como o universo era belo e surpreendente, cheio de mistérios e segredos, inundados de beleza e da força mítica que gira o mundo.
Todos os gnomos e fadas faziam uma grande festa ali. Uma festa animada e com muito barulho.
Em pé, no meio do jardim, uma menina com as bochechas rosadas, de não mais de cinco anos, encontrava-se parada, olhando fixamente para o céu, imóvel.
- Filha, saia daí. Está à noite e o sereno pode te resfriar. Entre e venha ver televisão na sala com a gente.
A voz grossa e grave era do seu pai. Um doce de pessoa, mas incapaz de abandonar aquele resquício de autoritarismo que seguia sua voz como um rastro sutil de um cometa.
- Venha pequena, já é hora.
Sua mãe, agora, era quem insistia.
Mas ela não conseguia se mover. Aquele brilho vermelho no céu, tão lindo e ela não sabia o que significava, mas sabia que era importante e que não poderia parar de olhar.
“O que ela tem?”. Crianças, vai entender. Os pais deixaram que ela ficasse ali no meio do jardim, pelo menos mais um pouco, olhando para o céu de forma tão intensa.
Seus pais não enxergavam aquele gigante brilho no céu, arrastando um véu de cores atrás de si. Também sabia que seus pais não conseguiam ouvir o barulho da festa que vinha do seu jardim. Mas ela sentia, sabia da existência de pequenos moradores que agora também viam o que ela conseguia ver, e comemoravam aquele evento de beleza incalculável.
Sem ter a mínima ideia do porquê, a menina também chorou. Jamais conseguiria explicar o que estava presenciando.
Quando tudo havia passado, correu para os braços dos pais, que achando que era mais uma dessas coisas de criança, saudade do avô, ou algo do tipo, a acolheram num longo abraço.
A pequena fada, naquela noite, dormiu aninhada nos cachos da criança, filha dos donos daquele jardim, e ambas tiveram os sonhos mais doces que se pode ter.
Gregg Coelho