Verruga negra

Verruga Negra... ( Um conto Baiano...)

Sentado à mesa de um Bar, não de um bar qualquer... Itapoã.

Dom Jaime, cidadão de escassíssima cabeleira, digamos, careca mesmo, aproxima-se manquitolando – aqui está baixo, aqui está alto -, imitando, ao que parece, o dono do Bar, suando, gemendo, reclamando de dores seu pé esquerdo: “ai, quando eu piso no chão dói, não está dando para caminhar direito”!

Segundo ele alega a origem das dores no seu esquerdopata pé são provocadas por uma “verruga” sobre o 4º metatarso, uma coroa, como um pedra de turmalina, presa a um anel . Uma senhora verruga de estimação, cevada a longo tempo e de feliz parceria, caminhando juntos. Agora, acho, a ingrata deseja livrar-se de mim e, para tanto, passou a incomodar-me, provocando- me dores.

“Verruga” se cura com “benzição”, simpatia”. Sentencia um ouvinte atento e solidário, sentado numa mesa próxima ao lado, onde estava a bebericar um puro suco de limão, com um picolé do mesmo fruto, hábito adquirido por sugestão do seu consultor medicinal, o companheiro Edson.

Dom Jaime, sério, olhou em sua volta e dá de olhos no cidadão que entrara na conversa, que estava com o picolé todo abocanhado por uma boca com os lábios esticados ao máximo. “Sê tá certo, sê tá certo!” E continuou: “Quando eu era jovem, moleque mesmo, lá no meu interior da Bahia, na propriedade do meu “painho”, nasceu uma verruga no meu santo pé direito, no dorso. Esta verruga cresceu, cresceu, até atingir o tamanho de uma bola de gude, essas bolinhas de vidro. Rapaz, com o passar do tempo, passou a me incomodar. Nem calçar minha “percata”eu podia. Certo dia apareceu lá na casa da fazenda um preto um “preto velho”, que notando o meu problema, disse-me”: “- Oi “fiinho”,”ocê” que ficar curado disto aí no seu pé?” “Eu respondi animado: claro!”- “Então, arranje uma peixeira, a maior que “ocê ”encontrar lá na cozinha, cega, quase sem corte, e vá até àquela árvore lá no meio do pasto, um pé de “pinão” a mais alta no meio do capinzal. Tá vendo? Daqui até lá deve ter meia légua. Chegando lá, procure o galho mais alto que “ocê” alcançar, bate três vezes com o corte da peixeira nele, fazendo três pequenos cortes. Vire-se de costas volta, sem olhar para trás até aqui”.

“Eu fui, fiz o que “preto velho” recomendou. Na volta o velho preto, que estava sentado à sombra do alpendre da casa, me perguntou:” -E aí? “Eu disse: tudo bem, olhe”!

A “verruga” no meu pé tinha mudado de cor. Ela que era ruça, esbranquiçada, cascuda, mudara de cor. Ficou negra, qual o “preto velho”.

Eu, surpreso, virei-me para o “preto velho”, que quebrando o encanto, transformara-se em “Branco Velho”. Branquinho, branquinho...

Histórias da Bahia...

Bnandú set/2019