A discórdia entre o lápis, os sinais e os acentos.
Certo dia, o lápis estava escrevendo sem fazer pausa, nem ponto e vírgula, nem ponto final. Aliás, até fazia uso, mas de forma errada. Ele escrevia de tudo, mas usava os sinais em lugares errados.
A professora gramática que mandou ele escrever, o advertiu que deveria buscar ajuda dos colegas sempre que precisasse para que sua escrita ficasse perfeita e colocou à disposição do lápis todas as letras, todos os sinais, todos os pontos necessários à uma escrita perfeita.
Dos objetos escolares, apenas o lápis sabia escrever. Isso lhe dava uma certa vaidade e se achava superior aos outros.
Foi aí que ele caiu do cavalo porque, na sua escrita, escreveu uma pergunta, mas não usou o ponto de interrogação e sim o ponto final e na parte que deveria usar o ponto final usou o de interrogação. O ponto final nada disse, ficou calado e pontuando a interrogação do texto. Porém, o ponto de interrogação bradou ao lápis:
-Estou no lugar errado!!!
-Lhe coloco aonde eu quiser. Disse o lápis todo superior.
-Mas, não ficarei aqui porque esta parte é do ponto final e você colocou o ponto final no meu lugar.
O lápis, se fazendo de sabido disse:
-O texto é meu e faço uso dos sinais e acentuações conforme queira.
A vírgula se queimou e pulando numa perna só gritou:
-Mas você não pode nos colocar em qualquer lugar.
-Posso sim. Afinal quem está escrevendo, eu ou vocês? Perguntou o lápis cheio de razão. E continuou: -Me dê uma razão para não lhe colocar em qualquer lugar.
A virgula não pensou muito e disse: -Na frase “Queria comer pão, Tereza.” Onde devo ficar: antes ou depois do pão, já que temos um vocativo? O lápis pensou um pouco e disse que nesta frase não precisaria dela, pois a frase dispensa sua presença. Então a vírgula diz que ela só seria dispensada se tirasse a Tereza da frase, mas nesta frase com Tereza e tudo onde ele a colocaria? O lápis disse que podia deixar a Tereza na frase e continuava sem precisar da vírgula.
Ela saiu chateada e os dois pontos disseram para o lápis que ele além de ter magoado, profundamente, a vírgula, tinha cometido um erro dos infernos, já que não existe pão tereza. O lápis percebeu seu erro, mas vaidoso como era, não quis pedir ajuda pra borracha que estava para lhe auxiliar e se limitou em dizer que só usaria a virgula naquela frase se quisesse e a colocaria antes de qualquer das palavras, pois tinha a prerrogativa de decidir o lugar dos sinais e acentos.
O Travessão, o mais comprido dos sinais, veio se arrastando e disse:
-Você pode nos colocar aonde bem quiser, mas não vamos ajudar em nada e o texto fica meio bagunçado para os leitores.
O lápis resumiu dizendo que os leitores dele não são burros e sabem ler muito bem. Ao que exclamou o ponto de exclamação:
-Se os leitores não precisassem de nós não existiríamos. As palavras podem exercer várias funções numa oração e podem ter vários significados. Nós, os sinais, que daremos esta entonação, esta roupagem.
-Balela. Disse o lápis. – Isso é balela. E deixem de conversa que vocês vão ficar exatamente aonde eu colocar.
-Eu não fico no lugar do ponto final! Bradou o ponto de interrogação e já ia escorregando do lugar. O lápis mais que ligeiro tirou o ponto final de onde tinha colocado e o colocou na frente do ponto de interrogação para este não mais escorregar.
O ponto de interrogação ficou tiririca da vida porque estava cercado e não podia escapulir. Mas teve uma ideia. Cochichou no ouvido do circunflexo que estava erradamente sobre o a de “então” e o pediu para tentar chamar a gramática. O circunflexo, não sei de que jeito, cochichou no til, este passou a mensagem para o acento agudo que estava vizinho à crase que estava escorada na barra e a barra conseguiu falar com a gramática que estava havendo uma confusão na construção do texto do lápis porque ele colocou os sinais e os pontos em locais errados e se dizia certo.
A gramática chamou o lápis e pediu pra ler sua escrita. Eis o que ele havia escrito.
“Entâo a raposa queria pegar o galo e lhe fez uma pergunta?. Você sabia que os animais agora sáo amigos”
A gramática chamou o lápis e disse que os sinais estavam certos e que cada um desempenhava uma função específica no texto e não podiam ficar no lugar errado. Apesar de que os leitores do lápis não eram burros, não iriam compreender a ideia do texto quando, por exemplo, houvesse a necessidade de um aposto, de um vocativo, de uma interrogação, de um final de ideia, de uma pausa e ou separação de advérbios e suas locuções, quando necessário, adjetivos e suas locuções, se conviesse, conjunções e todas as situações que a virgula, principalmente, a mais usada, precisava se entremeter. A gramática pediu ao lápis que corrigisse o texto. Foi então que ele, envergonhado, pediu ajuda à borracha e ela apagou o circunflexo, o interrogação e o final de onde estavam e o lápis escreveu o til de “então” e de “são”, pontuou no lugar certo e o ponto de interrogação ficou todo feliz na sua posição interrogativa.
A gramática, depois das devidas correções, chamou os objetos de escrever e todos os signos com que se usa a escrita e deu uma baita aula gramatical sobre a importância de cada um na construção do texto, seja como instrumento de escrever ou como signo escrito e que cada um era importante no campo da comunicação verbal dentre os humanos, ciência desenvolvida por eles para melhor interação pessoal.
A gramática ainda disse que eles também eram importantes em toda parte do mundo e que juntos podiam formar muitas palavras diferentes com o mesmo significado universal, usando como exemplo a palavra AMOR, no Brasil, Portugal, Moçambique e outros países de língua português e que a mesma palavra era escrito como LOVE, para os Estados Unidos da América, Inglaterra e demais países que usavam a língua inglesa, LIEBEN para os alemães, ELSKER para os noruegueses e dinamarqueses, GAR para Luxemburgo e assim, a gramática ficou especificando as várias formas de se escrever o AMOR pelo mundo afora.
Depois da aula, que não foi pequena, o lápis ficou todo feliz por saber que o amor se escreve de várias formas para várias nacionalidades e saiu, da aula, abraçado com a caneta BIC, cantando a música “AMOR I LOVE YOU”.