GLÁUCIA - EM BUSCA DA JÓIA DE SETE FACES - parte 3

Enquanto eles caminhavam em direção à margem do mar de sangue, Gláucia sentia mais uma pontada na cabeça:

- Gláucia, você está bem? – perguntou Hammorim.

Nesse instante, visões vieram à mente de Gláucia.

Imagens de uma moça igual à ela, com cabelos negros encaracolados, porém olhos pretos, isolada num canto, com um pequeno livro rabiscado na mão, num quarto com pouca iluminação. Um homem estranho que não se podia ver gritava com essa moça e dizia-lhe palavras de consolo ao mesmo tempo. Parecia que estava bêbado.

- Fica calma, amorzinho. Prometo que vou mudar. Eu juro.

- Estás arruinando minha vida. Nem todos os bárbaros da terra são tão cruéis quanto sua pessoa. Você não me atinge no corpo, mas machuca meu coração. Diz que vai mudar, que vai ficar comigo, mas do nada some e nunca mais dá notícia. Só aparece quando quer algo de mim.

- Você fica o tempo todo escrevendo nesse livro idiota. Pare com essas besteiras e procure seu rumo. Aliás, quem é você pra me julgar, afinal? – gritou o homem.

O homem foi em direção à ela e lhe deu um tapa no rosto. Fazendo ela cair ao chão, chorando.

- Amor, desculpe. Eu não queria fazer isso.

- Você abusa da minha vontade. Seu monstro. Vá embora daqui. Vou me virar sozinha.

- Tudo bem. Eu vou. Mas quero ver como você se protegerá de tantos ataques que nosso condado vem sofrendo. Você sequer sabe qual é o seu poder. É a única que se perde nas próprias emoções. Não está pronta pra uma guerra, muito menos pra viver.

O homem saiu, e bateu a porta atrás de si com força.

A moça ficou chorando escrevendo em seu livro. Suas lágrimas molhavam o papel suave daquele calhamaço. De repente as letras começaram a se movimentar e o livro começou a brilhar...

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- Gláucia! Gláucia! Acorde! – falou Olliveira sacudindo a moça.

- O que me aconteceu?

- Você teve outra pontada. - falou a ave.

Após ter se levantado do chão, disse:

- Quem será que eu sou? Por que comigo?

- Por que se pergunta isso? - disse confuso Hammorim.

- Agora estou entendendo aos poucos. As pontadas que sinto na minha cabeça, as vezes me trazem visões. Seja do futuro ou do passado. Mas não sei se do meu passado, porém me parecem tão familiar...

- Olha, nesse momento não temos tempo a perder com regressões. – disse impaciente Hammorim – precisamos de proteção para atravessar esse mar. Nada pode encostar nele, senão derrete, ou pode ser devorado pelos feras.

- Tem razão, profeta.

- Mas como atravessar isso? Até chegarmos a montanha a única coisa que nos detém é esse mar horrível – dizia a ave – o que faremos?

- Teremos que ir saltando nas pedras – disse Olliveira.

- Quais pedras? – perguntou Hammorim.

- Aquelas.

Um aglomerado de pedras perto do canto direito da borda do mar. Eram várias rochas grandes que faziam um caminho que levava até o outro lado do mar.

- Vamos ir por meio delas. – disse Gláucia – estejamos preparados para tudo.

Quando chegaram perto do meio do mar, um orc surgiu sobre um dragão e quis atacá-los. Olliveira apontou sua espada ao céu e um raio atingiu o dragão em cheio, transformando-o em cinzas.

Mais dragões e orc apareceram. Gláucia abriu seu livro e fez surgir seu arco e flecha novamente. Os ataques eram apenas aéreos, então ela lançou uma saraivada de flechas em direção dos dragões.

Os dragões cuspiram fogo negro sobre os guerreiros. A ave se escondeu nos cabelos de Gláucia, e Olliveira lançava raios sobre os dragões.

Ao subirem numa rocha mais alta no meio do mar, viram que os dragões fugiram e os orcs bateram em retirada.

- O que? Vencemos? Yes! É isso aí! Acabamos com eles! – cantava a ave nos ombros de Gláucia.

De repente as rochas começaram a tremer. O mar de sangue fervia e as pedras se afastavam umas das outras, fazendo com que cada guerreiro ficasse em uma pedra diferente.

- Gláucia, o que está acontecendo? – vociferou Olliveira.

Uma sombra cobriu o céu, tudo foi ficando mais escuro do que já estava. Uma névoa negra passava por entre as pedras. Um sussurro se ouvia, mas ininteligível.

- Amigos. Tenho más notícias.

- Que notícias? O que está acontecendo aqui? – disse Hammorim.

- Acho que isso... não são pedras.

- O que? – disse a ave.

De repente uma pedra se agigantou ao céu num formato de serpente e se revelou um enorme monstro marinho.

Aos poucos as pedras ao redor foram ficando enorme e vários monstros com cascos firmes como rochas apareceram do mar.

Olliveira foi arremessado para o alto, e um monstro abriu a boca na intenção de traga-lo. Ele segurou firme sua espada e ao brandir com ela no ar, num grito de fúria rasgou as estranhas do monstro. Hammorim o segurou no ar com seus ventos para que ele não caísse no mar e derretesse.

A rocha em que Gláucia e a ave estavam também saltou para o alto como a erupção de um vulcão, mostrando um monstro. Hammorim os segurou no ar também com seus ventos e formou uma espécie de redoma que protegia a cada um.

- Olliveira, são muitos. Ao meu sinal, você vai e eu abrirei uma fenda e te lançarei sobre eles.

- Manda a ver!

Os monstros emitiam um som estridente de suas bocas imensas com muitos dentes como estalactites.

- Vai! – e Hammorim abriu uma brecha e num impulso do vento o jogou sobre uma fera.

Olliveira com um só golpe atingia dois monstros, já que cada ataque de sua espada formava um relâmpago na direção das bestas. Após o golpe Hammorim lançava um vento e fazia Olliveira subir novamente jogando-o sobre outros monstros!

- Isso aqui é demais!!! – gritava Olliveira, como se estivesse se divertindo.

Porém os monstros que foram destruídos pelo relâmpago de seus golpes começaram a se juntar no meio das águas vermelhas, fundiram-se um ao outro, e se tornavam um só monstro com sete cabeças. Cerca de quatro monstros desses se levantaram das águas.

Dentre as sete cabeças, uma era de águia, outra de gorila, uma de tigre, uma de serpente, uma de lobo, uma de sapo e uma de javali. Tentáculos brotaram do corpo dos monstros marinhos. Enquanto metade surgia contendo clavas, outra metade continha espadas semelhante as de DeoMiro.

- Eles se adaptaram a todos os poderes. Não é possível! – exclamou Olliveira.

- Gláucia, você fica aqui com o pombo. Irei ajudar Olliveira. Se eu perceber que não conseguiremos vence-los, te lançarei nessa bolha de ar até o outro lado. Então você enfrentará o Dragão.

- Mas eu não posso abandona-los nessa luta. Eu preciso...

Hammorim segurou nas mãos dela e olhou em seus olhos:

- Minha líder, por muito tempo nessa jornada estive achando que você estivesse nos colocando apenas para fazer o mais difícil enquanto você nada fazia. Porém agora entendo que você nos trouxe para a maior batalha de nossas vidas. Essa é a chance de cada um de nós provar o seu valor. Sendo assim, eu e Olliveira não sairemos desse mar sem a garantia de que todos esses monstros estejam mortos. Caso contrário, nosso sangue se misturara nessas águas, mas com a honra de termos enfrentado com todas as nossas forças.

Gláucia concordou com a cabeça. Ela não tinha o que dizer, apenas que sentia que o rei escolheu os guerreiros certos para ajuda-la.

- Tudo bem, profeta.

Hammorim formou uma redoma de ar mantendo Glaucia e a ave dentro dos ventos, depois afastou eles de perto dos monstros. Em seguida ele foi voando até Olliveira e o segurou no ar ao seu lado. Nesse momento Hammorim levantou as mãos e um tornado de fogo se formou no meio das águas. Olliveira voava sobre os ventos de Hammorim.

Os monstros gritaram com fúria e fome, prontos para ataca-los. Olliveira olhou para Hammorim e disse:

- Profeta!

- Sim, nobre guerreiro do trovão.

- Foi uma honra!

- Sem despedidas agora. O que derrubar mais monstros tem direito a um ano de bebida pura da terra de Khoffie.

- Quem perder paga?

- Não falei no idioma de WikiMétthrika, falei?

- Então que me lancem ao mar!

- Essa frase não é minha?

- Não se eu fizer outro mar de sangue agora!

E então eles se lançaram na direção dos quatro monstros. Olliveira brandia sua espada numa disputa ferrenha com dois deles; mesmo que eram muito fortes, Olliveira possuía poderes suficientes para lutar contra os dois dragões marinhos.

Vários golpes de tentáculos foram desferidos no guerreiro, que bravamente resisitiu a todos se defendendo com sua espada de relâmpago. Os monstros se moviam com a mesma velocidade que DeoMiro, tinham a força de Galva Negra, as trevas de Augusto e a ferocidade dos animais da maga Giz Ellen. Mas a força de Olliveira era tão grande, que conseguiu num só golpe cortar três cabeças de um dos dragões marinhos.

Enquanto isso Hammorim lançava torrentes de vento e fogo, levantando as ondas do mar de sangue contra os próprios monstros. Eles se esquivavam e se protegiam com suas placas resistentes. Uma rajada de fogo negro das sete cabeças de um deles quase o acertou, se não fosse por sua agilidade em controlar as águas vermelhas e ter feito um escudo de água para aplacar a fúria do ataque. Numa disputa de forças entre o bafo de fogo negro de catorze cabeças, contra um dragão ele usou a força do vento, e noutro a força do fogo, tendo resistido ao ataque e fazendo um redemoinho de fogo no meio do mar, o que consumiu um dos dragões por completo, enquanto o outro se desviou rapidamente.

Olliveira mergulhou dentro da garganta de uma das cabeças de um dos monstros e o rasgou por completo pelo lado de dentro. Restando assim apenas dois dragões marinhos:

- Empate, nobre profeta!

- Não se eu matar o seu.

Hammorim estendeu as mãos sobre as águas sangrentas e lançou uma torrente de fogo intensa, ao ponto de todo o mar de sangue ferver e causar agonia aos monstros, que embora estivessem acostumados com a temperatura das águas, ela nunca foi tão aquecida quanto naquela batalha.

- Agora Olliveira!

Num impulso fortíssimo pelo vento de Hammorim, Olliveira apontou a espada aos céus e um relâmpago devastador cruzou as nuvens do oriente ao ocidente e despencou numa velocidade maior que a dos dragões, triturando ambos num só golpe.

- Hum... essa Vitória foi minha, caro Hammorim.

- Nem pensar. Eu que te lancei.

Gláucia e a ave apenas observavam a uma distância suficiente. Quando os dois bravos guerreiros estavam prestes a voltar a entrar na redoma de ar e seguir viagem, as águas sangrentas se agitaram novamente, soerguendo-se do meio dela um dragão maior, todo feito de sangue com vinte cabeças de serpente.

- Espere um pouco. Quer dizer que o monstro era o próprio mar? – exclamou a ave.

Naquele instante toda a água sangrenta secou-se se transformando num enorme monstro:

- Vá, Gláucia! Nós cuidaremos do monstro! – disse Olliveira.

- Mas cavaleiros... eu não... ai... ai... minha cabeça – gemeu Gláucia após outra pontada.

- Vá! – Hammorim estendeu a mão e fez com que a redoma de ar fosse atirada para longe do mar, do outro lado.

Porém o monstro rapidamente se dirigiu para o outro lado no intuito de bloquear a passagem. Hammorim e Olliveira lançaram rajadas de raios, fogo e vento, atingindo o monstro e fazendo a redoma de ar chegar até local seguro.

- Vá! Te encontraremos no caminho. – disse Olliveira.

- Eu não posso permitir seus sofrimentos.

- Esqueça, mulher – disse a ave – vamos logo. Eles vão conseguir... espero.

Tendo aterrisado do outro lado do mar, a redoma de vento se desfez.

Então Gláucia começou a correr em direção a montanha de WikiMétthrika, e os dois cavaleiros ficaram lutando ferozmente contra aquele grande demônio das águas sangrentas.

Chegando ao pé da montanha, as nuvens trovejavam no cume do monte, Gláucia ouviu novamente uma voz:

“Está quase chegando, menina. O destino está selado e você não poderá muda-lo. Assim como não pode mudar o passado, não mudará seu presente.”

Glaucia levou as mãos a cabeça. A ave tentou ajudar, mas nada podia fazer senão voar e falar:

- Você está bem?

- Estou... creio que estou. Sinto que o mal é maior do que pensei.

- Como assim, Gláucia?

- Tenho a impressão que já estive aqui alguma vez... subamos.

Continua...

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 17/07/2019
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