Nossa imagem

Nossa imagem

Às vezes me pergunto sobre como tudo começou! Sobre como criamos os deuses. Crio historias e fantasias, em pensamentos rápidos e incompletos. Um dia, olhando um mapa em alto relevo da região do Monte Olimpo, de forma singela me ocorreram as ideias que eu conto abaixo!

“Não consigo dizer o que há por trás das montanhas! ”, pensou o homem, diante do inominavel monte distante tanto dos seus olhos quanto do seu alcance!

De fato, observando os limites da locomoção humana tudo parecia tão grande e inatingível, que para explicar a condição humana apenas a imaginação parecia poder atuar!

Mesmo a imaginação era calcada na observação!

“Acho que vai chover, tenho que buscar abrigo! ” Comentou consigo mesmo o passageiro humano, já quase na escuridão, sinal da noite chuvosa que se aproximava. “Esta encosta parece servir, quase uma caverna, creio que não haverá chuva que aqui alcance, ao mesmo tempo em que consigo ver tudo ao meu redor”, calculava olhando o espaço, abrigo e proteção contra o mundo a desabar.

Não havia fogo! Carne crua de uma captura acidental, um pouco do javali abatido na encosta e alguns frutos que pareciam comestíveis ao olfato, que agradavam também ao paladar, eram o alimento!

“Satisfeito, vou me enrolar nessas folhas e peles, para suportar as intempéries”, imaginou consigo o vivente!

Começava a chover, ao mesmo tempo que o brado dos trovoes seguia os clarões de raios e relampagos. A paisagem noturna, com a forte chuva e o espetaculo da natureza parecia algo assustador. Panico mental acompanhado da solidao e observação tentavam dar um sentido ao que se via e sentia!

“O que será tudo isso? Essas luzes? Este som? E esses cortes luminosos no céu escuro? Ah, Floresta Mae, o que será tudo isso? Permita-me sobreviver ate a luz do dia aparecer outra vez! Será que vai aparecer? e o sol? E o rio? Terá a escuridão devorado tudo? Estou só no mundo? Floresta, me proteja, permita que eu veja a luz do dia! O vento que sopra me esfria, tira minhas forças, tremo, temo...não há mais o mundo para mim! ”, se afligia internamente o individuo diante de tudo o que via!

Solidão, medo e incerteza diante da continuidade da vida somavam-se aos sentimentos causados pela tempestade. A cada clarão, tocava o raio o cume do monte desconhecido e inatingível fazendo o solo tremer com o seu estrondo. No lapso do clarão, desenhava-se um conjunto de outros pequenos montes, a compor um verdadeiro panteão sem nome. Aconchegado e tremendo, adormece o homem diante do cansaço físico e mental, num misto entre o êxtase provocado por efeitos psicofísicos e os sonhos mais profundos da alma humana! Transcorre o tempo da noite e com ele desfaz-se todo o teatro da natureza, antes em tempestade!

Nuvens dissipadas, tempo transcorrido, sobe o sol em floresta úmida diante do monte que se eleva, outra vez, diante do mundo todo. Abre os olhos o homem, de olhos ofuscados pelos fortes raios que entram a porta de sua caverna, abrigo do medo.

“E dia, estou aqui, vivo ainda! Minha Floresta Mae me salvou! Devo continuar e procurar os meus! Terão eles também sobrevivido ao furor da noite pela qual passei? ”, mensurou.

E continuou, retorno solitário da caça. Chegando ao seu grupo, encontrou tudo como antes. Pôs-se a refletir, enquanto os demais socializam os restos do javali abatido. Refletia sobre o que tinha passado a noite, sobre tudo o que viu e sentiu e também sobre os sonhos que o arrebataram durante a noite.

Natureza, observação, desconhecimentos, experiências, sentimentos, incerteza, imaginação, recorrências! Acredito, ao fim, eis o tempero que colocamos quando parimos nossos deuses à nossa imagem!

Heródoto Poeta
Enviado por Heródoto Poeta em 08/07/2019
Código do texto: T6691334
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.