Delírio
Com seus olhos, uma miragem ela contemplava; era um vislumbre de algo inexplicável.
Um deserto de areias densas, era onde ela se encontrava.
Ela se sentia inteiramente extasiada. Aquela miragem… ela não sabia como explicá-la em palavras.
Medo não era o que sentia, muito menos insegurança. Melancolia era a única coisa que permeava seu ser. Ao mesmo tempo que deixava-a em êxtase, uma fagulha de tristeza crescia cada vez mais. Uma tristeza soldada pela nostalgia.
Aquela miragem relembrava a ela momentos já vividos e momentos que ela sequer viveu.
Seu brilho brilhava incansavelmente e seus olhos, não aguentando tamanha luminosidade, vacilaram por uma fração de segundos; desviando seu olhar daquela inexplicável miragem que fazia-se à sua frente.
Quando, por fim, tornou a olhá-la, ela não estava mais lá. Ela havia sumido, levando consigo uma parte de seu ser que jamais poderia ser recuperada. Sua inspiração.
Ela estava desesperada, lágrimas rolaram em sua face e seu peito se apertou em agonia. Ela não podia deixar as coisas desse jeito.
Ela começou a correr, mesmo com as lágrimas ainda rolando em seu rosto, ela continuava a correr. Mais e mais.
Ela correu tanto que chegou perto de um pequeno vilarejo. Talvez as pessoas soubessem de algo relacionado àquela miragem.
O dia já estava anoitecendo, então ela se apressou.
Ela estava cansada, suas pernas ameaçavam vacilar, mas ela se recusava a parar.
Naquela mesma noite, antes de todos irem dormir, ela perguntou para todas as pessoas daquela pequena cidade sobre aquela miragem. Mas ninguém nunca sequer havia falado de algo tão inexplicável e estranho.
Aquela miragem era tão ínfima e fugaz que ninguém a percebia. Apenas ela.
Sendo, por fim, pega pela exaustão, ela dormiu numa pequena casa de uma gentil camponesa.
Na manhã seguinte, ela ouvia os murmúrios que faziam acerca dela. Muitos chamavam-na de bruxa; outros, de louca.
E então ela teve certeza de uma coisa: ninguém a entenderia. O inexplicável é visto de forma rasa pelas pessoas normais.
Sentindo-se estúpida por ter perdido tempo nesse vilarejo, ela se despediu deles e começou a vagar sozinha novamente.
Ela se afastou de todos e todos se afastaram dela
Mesmo com todos esses problemas, ela não desistiu. Ela continuou e continuou, persistindo até suas energias se esgotarem. Incansavelmente, ela não desistia de tentar recuperar o que perdera.
Porém, num esforço premeditado, ela se viu incapaz de continuar quando percebeu que a presença daquela miragem já não fazia-se mais presente no seu mundo. Esvaindo-se aos poucos, até não mais restar nada. E então, o vazio a preencheu.
Por um momento, o pânico a açoitou, sendo substituído pela desesperança logo em seguida.
A menina rendeu-se ao desespero e, com sua esperança já dissipada, ela se sentiu perdida; ela se sentiu vazia.
Sua mente começou a ser preenchida por culpa e tristeza, emergindo no âmago de seu ser e drenando sua vitalidade por completo.
Ela não tinha mais nada consigo.
Sua culpa drenando quaisquer resquícios de vivência que permeava seu ser outrora.
Porém, ela foi pega despercebida por um som familiar.
Era o som do mar.
Com o som das ondas à sua frente, e o intenso brilho das estrelas reluzindo naquela água cristalina, ela não se sentia mais triste.
Ela sentia que tudo estava voltando. Tudo o que perdera posteriormente.
Ela se sentia em paz, como se sua tristeza fosse levada pelas águas.
E então um resquício de um brilho começou a cintilar no horizonte.
Era diferente da miragem que ela via antes, mas ela podia sentir que ele jamais a deixaria.
Ela não se sentia mais sozinha.
Algo inexplicável, ela tornara a ver; algo que apenas ela entenderia.