E DO NADA ELE APARECEU (BVIW)
 
Não, não era   noite de “Valpurga”, não havia bruxas por perto, não dancei ao redor de fogueira. Não era meia noite e o ambiente não era tétrico, não estava perto de nenhum mausoléu nem de nenhuma urna funerária, ninguém invocava ninguém. E do nada ele apareceu.
Sua tez não era pálida, suas mãos não eram frias, seus caninos eram normais, seu olhar era penetrante e seu sorriso zombeteiro.  Ele me encarou e eu fiz o mesmo com ele. Então, indaguei:
 -Quem és tu e o que queres de mim?
 -Mefistófeles, eu sou, respondeu.
 -Então eu disse: mas nunca te invoquei!
 -Sei disso, mas posso te  dar tudo o que almejas , disse ele e completou: vamos lá, pedes e eu te darei, mas em troca tua alma me darás.
 -Eu??? Vender a minha alma pra ti!!! Repetir a história de Goethe? Não sou Fausto, não quero superar os conhecimentos atuais, nem desejo viver sem envelhecer. Esqueça, respondi.
 -Ora, convenhamos, insistiu ele  e prosseguiu: sabes tu que  o diabólico e o celestial, o bem e o mal se insinuam nas relações humanas de forma terrível e perigosa, assim tanto faz estares de um lado como do outro.  Se queres sabedoria, te dou; se queres juventude, também te dou, fortuna? Terás.
 -E por que a minha alma, se dela não acredito a existência? Indaguei. 
 -Engana-te caríssima, ela existe sim e por ela luto por uma razão muito especial: apostei que a ganharia.. Apostou... Com quem? Quis saber.
-De pronto ele respondeu: com  Aquele que, diante da tua descrença, quer provar pra ti que o céu existe e eu por minha vez quero te provar que o inferno existe. Riremos de ti quando a morte de levar e da tua cara espelhar o espanto diante da comprovação da existência das coisas que não acreditas.
 -.E eu hei de perguntar: “Mas eu, por que motivo tenho de ir para o Inferno?” Por acaso a minha vida tem sido tão mal ponderada?
 -Não sabes tu, por acaso as tuas culpas? Indagou-me.
 -Não as tenho. Respondi.
 -Como ousas inocentar-te tão peremptoriamente? Foi o que ele disse.

 ... Antes do sonho acabar, feito um náufrago ateu na hora do naufrágio,  vi-me  suplicando VALHA-ME DEUS! - Então, lembrei de Dante e desejei ter uma  Beatriz, lá nas alturas, rogando  por mim. ...
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 28/05/2019
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