Vinho ruim
Aos poucos vai descendo pela garganta o vinho barato. Ao som de ''San Telmo'' e no telefone com Sofia ,falo da nossa primeira conversa tímida no colégio , há quinze anos. Sofia entrava nas salas para comunicar sobre os futuros eventos do colégio. Eu sempre a observei ,a sua beleza e timidez. Nós trocamos poucas palavras, poucos olhares. O vinho está gelado mas permanece esquentando o meu corpo enquanto olho pro sofá da sala da minha pequena casa. As pinturas pelas paredes ,já envelhecidas ,estampam o rosto de Lara, seu corpo pálido. Sofia não consegue prender a minha atenção...as paredes, as pinturas...O perfume de Lara me leva para longe da conversa ,o telefone fica mudo e de repente vejo que estou muda também. Meu pensamento viajante vaga sem mapa pelos cômodos da casa...o vinho acaba e a música também. Sofia se despede e percebe o meu silêncio ,tento disfarçar mas o telefone é desligado antes de qualquer desculpa.