Encruzilhada
Era uma fria noite de outono e ele caminhava pela rua deserta altas horas da madrugada. Estava nublado, o silêncio era quase absoluto interrompido somente por um latido ou outro dos vira-latas. Mexeu nos bolsos, puxou um cigarro e procurou seu isqueiro. Não encontrara. Olhou em volta. Ali, não esbarraria com ninguém que pudesse se oferecer para ajudá-lo a acende-lo.
Fez uma cara emburrada olhando para o fim da rua, opaca pela forte neblina da madrugada. Chateado, continuou a andar. Pensou; se apressasse os passos, poderia chegar rápido em casa e em uma das bocas que ainda funcionava de seu fogão automático já enferrujado, poderia salva-lo. Mas como negociar com seu corpo entre a vontade de fumar e a imensa vontade de aproveitar aquela solidão e silêncio noturno?
Parou em uma encruzilhada. Pensou. Aquela ideia poderia ser útil.
Se abaixou como a buscar algo. Esfregou suas mãos frias e cheias de calo. As juntou em forma de prece, fechou os olhos e resmungou algumas palavras sórdidas. A luz acima do poste se apagou e outras a seguiram até o final da outra esquina. Então, um borrão se formou entre as trevas e foi se aproximando lentamente. O cumprimentou tirando o chapéu, enquanto o aguardava se levantar do chão lentamente. Ele, porém, olhou a desengonçada figura de chapéu de cima a baixo, sorriu e perguntou se tinha fogo. O inusitado ser, gargalhou.
O invocara só para acender um cigarro?
Então, levantou o dedo indicador, fez fogo para o cigarro do louco homem solitário e o viu partir feliz pelo seu desejo concedido.
Realmente, os humanos eram muito estranhos.