Kane

Quando o sino da grande igreja tocou o relógio em sua torre indicava 12:00 dia, e Kane subia as ruas de Kimba disparando o seu olhar frio para quem o encara-se. Mesmo em fotografias causava certo receio nas pessoas por ter olhos felinos, da cor branca, igual a seus longos cabelos que também eram brancos realçando a sua fúnebre aparência,mas que felizmente não revelavam a sua alma apática.

Fora criado em um vilarejo simples, com casas de palhas, onde pôde praticar Kenjutsu sem nenhuma preocupação junto aos irmãos. Fora tudo perfeito, mas, faltou uma coisa fatal, costume com lugares movimentados, entupidos de seres humanos que corriam de um lado ao outro para evitarem atrasos no trabalho e escola. O barulho dos automóveis incomodavam a sua audição chegando a provocar coceira. E ele sempre fora assim, de sentidos sensíveis, e o cheiro dos restaurantes também o incomodava, quanta comida pesada faziam ali, as massas vinham encharcadas de molho, e as carnes de gordura, se os humanos miseráveis provassem do alimento natural diminuiriam o excesso de burrice que tinham.

A sua linha de pensamento era rasa, direta, para ser mais exato, e talvez por isso estava ali se prestando ao papel de assassino. A verdade é que os gigantes mandam, e os anões obedecem, e a única forma de crescer, alcançar um status elevado, era trabalhando como formiga, e as formigas não escolhem as folhas minuciosamente, apenas as pegam e as jogam suportando o peso sem reclamar.

Ele viu naquela missão uma rara oportunidade, não de ganhar dinheiro como os companheiros, mas de adquirir conhecimento, força espiritual. Porém, ao finaliza-la tornaria-se um completo monstro, então optou por fingir que aquilo não passaria de uma oferendo para o homem que tanto devotava.

Conforme andava o asfalto transformava-se em terra fofa, que afundava a sola dos sapatos. Arvores infestadas de folhas verdes surgiam em linha reta escondendo o sol, fabricando brisa e sombra fresca; os pássaros pousados nos troncos cantavam tranquilamente, os esquilos espiavam-o dentro das moitas pressentindo o mal que estava chegando. Kane pôs-se a imaginar aquele novo cenário manchado de sangue quente: ficaria doloroso, desesperador, do jeito que o mundo deveria ser.

_ Volte para dentro, Tadeu! Sua mãe esta trabalhando, e eu ficarei cuidando de vocês, entendido? _ Portanto, se comportem. _ A frente uma mulher falava com um garotinho.

Era ele o dito cujo! Provavelmente não passara dos cinco anos de idade. E como reagiria ao ter a ser rasgado de cima a baixo? As instruções da Rosa Vermelha afirmava que os filhos de Rômulo herdaram os traços do pai, isto é, ruivos, de sarda, e sinal no queixo; dificilmente não os reconheceria, então aquele garotinho era de fato o escolhido do deus da fúria.

_ Posso pegar mais biscoitos? _ Perguntou gentilmente para convencê-la.

_ Pode! Só toma cuidada para não dar dor de barriga, as folhas do chá acabou e o hospital esta longe.

_ Obrigado, tia!

Tia? A mulher era diferente de Rômulo, provavelmente pertencia a família de Samya, a mãe.

Decidido a iniciar o trabalho foi de encontro a os dois, que, ao fita-lo se espantaram e rapidamente recuaram para trás. Alguém avisou a todos , e seria inútil Kane fingir ser apenas um forasteiro, ou vendedor de maçãs como nas histórias encantadas e, além do mais, o tempo era curto, precisava agir demasiado ligeiro para evitar futuras testemunhas.

_ Ha! _ A tia gemeu abraçando o garoto. _Tola, jamais o defenderia. _ Quem é...

_ Você já sabe quem sou, e também o que quero! _ De voz rouca, respondeu.

_ Então, nos deixe em paz! _ Gritou.

_ Cale a boca! Sou eu quem dá ordens! _ Manteve-se frio. Não queria se sujar com insignificantes_fuja enquanto a tempo. Fuja o mais rápido que conseguir se dese viver.

_ Nada disso, se quiser, me mate, mas deixe el...

Impedindo-a novamente de terminar a frase, passou os dedos no cabo da espada e a puxou da bainha. Era uma espada produzida no japão, por um dos melhores ferreiros, e tinha a lamina envergada, brilhante ao ponto de refletir imagens, e a guarda perfeitamente quadrada e enrolada em linhas grossas.

Ele ergueu-a, e uma fumaça intensa saiu de sua ponta, e essa fumaça transformou-se em lobos cinzentos e magricelos que, derramando baba por entre as presas, rosnavam.

_ Tadeu, proteja sua irmãzinha. _ Empurrou-o, e o mesmo adentrou na casa tropeçando.

_ Nele ninguém encosta! _ E pegou pedras no chão. Teria lançando se não fosse as feras aparecerem em suas costas e segura-la mordendo seus membros.

_ Para!_ Suplicou segundos depois.

_ Eu lhe dei uma chance. Pena que a desperdiçou.

Desceu a espada ,após um uivo ensurdecedor se perder no ar, cortando a mulher ao meio, e esparramando tripas para os lados. Preferia assim, sem enrolações.

''A crueldade é um espetáculo que poucos apreciam: pensou lembrando-se dos ensinamentos de Vermute.''

Caminho limpo. Restava um.

Girou a maçaneta abrindo a porta. Tadeu estava na sala, de pé e peito estufado junto a o berço, onde a caçula dormia tranquilamente. Aquele rosto, antes chorão, ficara fechado, as sobrancelhas arquearam, e os punhos se fecharam: '' Posição de ataque.''

_ Por que...Você é tão desgraçado? Agora a personalidade do deus Ângelo tomara conta de mim, e fará coisas contra a minha própria vontade.

Se estivesse na fase adulta, a personalidade seria um problema, porém, naquele esta, não haveria riscos.

_ Patético, morrera corajoso, disposto a me enfrentar, mesmo tendo chance zero de vencer.

_ Zero? _ Sorriu. _ Esta enganado. É você que tem _ chance zero de vencer!

'' E ainda ousa zombar?''

_ Veremos.

A cena se repetiu: novamente ergueu a espada, e as feras prenderam Tadeu.

Desceu a espada mirando a cabeça, mas, misteriosamente, o feitiço virou contra o feiticeiro, e os lobos foram rasgados.

_ Hã? O que houve?

_ Deixa, eu explico. A sua arma fere somente quem sente medo. Ao analisar, percebi que os lobos não lhe obedecia por companheirismo, e sim por medo da sua energia negativa, ai cheguei a conclusão que, mantendo a calma, poderia usa-los de escudo e contra-atacar em seguida.

_ Pirralho!_ Pela primeira vez, sentia as pernas tremerem.

_ Papai sempre me ensinou a honrar os Tarlus. _ Sorriu. _ Prepare-se para sentir o poder da fênix. Virou o braço, faísca saiu de seu cotovelo, e chamas escaparam de seus dedos ao socar a barriga de Kane arremessando-o contra a parede. _ Vá para o inferno!

Pasmo, Kane perdeu a noção . Caía lentamente. Como pôde perder para um ser inferior? Erick jamais o perdoaria, ao contrario, o expulsaria da organização. Céus, voltaria para a lama, sozinho,e com o titulo de fracassado. Não! Caso se recupera-se voltaria ao confronto. Espere, uma ideia, levaria o coração de uma criança qualquer afirmando ser a do escolhido, é obvio que funcionaria, e manteria sua honra intacta.

_ Nos veremos no futuro.

E em um passe de mágica desapareceu livre de rastros.