A viagem assombrosa

Até hoje eu não entendo. Aquela viagem tinha tudo para ser a melhor. Mas, não foi! Afinal, era esse o plano! Mamãe, um ano e meio, após do nascimento de meu irmão, Victor, ouví-la dizer, sobre a pequena mudança do meu comportamento com o nascimento dele. Também, não era pra menos. Antes do seu nascimento, eu tinha toda a atenção da casa. Foi só ele chegar, que tudo o que era meu, tive que dividir a dois. Não, que eu não gostasse dele. Mas, ele significava e muito “a famosa época da vaca magra” em minha vida. Diante de todo esse problema, tinha uma coisa que eu adorava e muito. Era a casa da Vó Neth!

Vó Neth! Eu adorava a casa dela. Como eu estava de férias “do jardim de infância”, mamãe e papai resolveram surpreender-me, passando as férias juntos de mim.

Era um sítio muito gostoso. Não tinha tudo. Mas, só o puro contato com a natureza e os animais que “Vó Neth” tinha por lá; já era o suficiente. Na primeira semana, foi tudo maravilha. Junto de papai andei a cavalo. Enquanto, junto de mamãe comi muitas frutas do pomar. Fora, que sem o consentimento de ambas à parte, nadei à vontade, junto dos meus primos que também passaram as férias conosco.

De repente, já na segunda semana...

Era noite, todos já estávamos deitados. A casa de “Vó Neth” era grande, mas a família maior ainda. Mamãe, papai, Victor e eu dormíamos na mesma cama. Nessa noite, já estávamos entregando-nos ao sono, quando, de repente; “o som” de uma ave de um vozeirão horrível começou a soar pelos arredores do sítio. Nossa! Eu não sabia muito bem o que era aquilo. Mas era horrível! Cada berro era um gemido. Numa dessas ações, eu jurava ter escutado mamãe, em voz baixinha, conversando com papai:

— É hoje que Edu não dorme.

Até hoje eu não sei o que ela quis dizer com aquilo. Mas, ao reconhecer a sua voz, repudiei:

— Mãe, tô com medo!

Ela bem que tentou disfarçar que não estava acordada. Mas, como eu já estava convicto de que era a sua voz, saltei de onde estava para mais próximo dela, enquanto a “ave berrona” continuava a berrar, juntos dos meus gemidos.

Duplas, que ganhavam a ignorância de mamãe:

— Edu, pare já com isso! Deste jeito você vai acordar Victinho.

— Mas eu tô com medo!

Mamãe não se importou com minhas palavras. Papai sim, ele sim demonstrou disposto a socorrer-me “da ave berrona”:

— Vem cá com papai! – socorria ele, aconchegando-me aos braços. — É só ficar quietinho, que o bicho vai embora.

Como um cordeirinho, sem ao menos avistá-lo por onde estava papai, somente no intuito da última vez que o avistei deitando-se à cama, ligeiro levantei-me indo para o seu lado. Cena do qual Victinho soltou um gemido. Irada, mamãe aos berros, culpou--me pelo sono perdido. Papai era o único que ainda demonstrou paciente. Agora, com cuidado duplo, acoitou-me de vez aos braços, botando-me para dormir. Enquanto, mamãe acudia Victinho.

A luz foi acessa. Pela bravura de mamãe, papai não me deixou levantar. Nossa! Parecia que a “ave berrona” havia a incorporada. Graças a Deus! Victinho voltou a dormir! E por ali, tudo voltou em paz.

Na manhã seguinte, a escuridão reinando o quarto novamente; perdendo o reinado somente para a luz do sol cuja resplandecia. Deixou ali, tudo como antes. Somente vovó não se aparentava ter voltado ao normal. Com os gritos da “ave berrona”, ainda demonstrava assustada. E num dos seus sussurros com a mamãe, escutei-a dizendo que aquela ave, era a mesma, da qual havia passado a poucos dias, antes de vovô partir deste mundo.

Não, sei não. Mas pelo que pude entender, aquela ave, era do tipo de uma condução de transporte para a tal “morte”. Sempre que ela passava, podíamos ter certeza de que a morte estaria junta e algum conhecido, por alguns dias ou horas, ela o raptaria.

O tempo passou. Aquilo assustou-me. Com medo de mamãe bater-me por ter escutado as conversas dos mais velhos; aquele medo, eu engoli e sozinho.

Hoje, aos trinta e poucos anos, até hoje, ela não sabe que eu havia lhes escutadas. A única coisa que sei, é que até hoje, eu sinto pena do meu irmão, pois, diante daquela conversa, e a lógica que ganhei com os berros de Victinho; sempre que a “ave berrona” surgia, podia ser em qualquer lugar, escondido de meus pais, apelava-me ao socorro, beliscando-o nas escondidas. Cena, que só fui parar, logo que por descuido, anos após, isso ter virado rotina, no lugar de Victinho, belisquei papai. Naquele bendito dia, papai sentou comigo e muito conversamos. Tipo: aquela ave tinha nome, e se chamava “coruja”. E a coincidência dela, sempre que passar, vindo no dia seguinte a falecer um conhecido, eram coisas da cabeça dos mais antigos e não do poder dos seus berros.

Bem, Vó Neth não está mais entre nós! E nem sei, se foi a coruja que a levou, mas deste mundo há quinze anos ela partiu; deixando em mim uma convicção profunda, de que sempre que uma coruja passa; a morte vem atrás, incapaz ao menos desta história ou da fisionomia de Vó Neth tirarem-nas da minha cabeça.