NUM SIMPLES ENTENDER...

Era uma vez um velho chamado Matusalém, que nem sabia que seu nome significava velho.
De estatura baixa, desajeitado e tímido, sofria a maldição chamada solidão. Vestia-se de farrapos, carragando às costas um anemômetro, achado no lixo, que antes media o vento, e ele ficava tentando, distraído, acompanhá-lo com as mãos.
Às vezes, sentia um pouco de paz, descansando sob um álamo, grandioso e verdejante, meditando sobre sua vida, e consultava a esmo um livro, desbotado e amassado, Kardecista, tentando enxergar a luz...
Nem ele, nem ninguém, tinha visto pêlos crescendo em seu rosto. Sua barba enfraquecida. acompanhava o tempo de sua idade, que nem ele, nem ninguém, sabia qual...
Caminhava falando em monólogo resmungão. Volta e meia, alguns meninos ignorantes, imbecis, davam-lhe um empurrão violento e ele sentava comodamente na calçada, alheio...
Quase diariamente, senhoras de estirpe nobre, ofereciam-lhe uma refeição, e ele aceitava indiferente...
Até que na passagem de um verão de calor intenso, seus olhos fecharam-se para sempre, aniquilado pela solidão, e Matusalém delicado, sensibilizado, acompanhou o vento, pensando existir no além...