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                           TROV DA CAVERNA 11
 
 
     Quando chegaram, outros já tinham se adiantado, e transmitido a noticia para toda a tribo que esperava e receberam os que chegavam com gritos e demonstrações de alegria, a moça salva pelo rapaz não se cansava de contar e recontar o feito do moço que se arriscara para salvá-la. Por três dias e três noites festejaram o garoto feio que de prisioneiro virou guerreiro de fama e coragem. A loura da pá virada, agora ficava aos seus pés olhando-o embevecida a endeusá-lo e rosnando para qualquer outra mulher que se aproximava dele, como o fato de ter sido salva por ele, a tornasse proprietária do herói, inconteste.

     De certa forma isto era uma verdade e sua tia lhe explicou a lei. Quando um guerreiro fazia um favor relevante a uma moça ele adquiria o direito de desposá-la e no seu caso tendo salvado a vida da moça ele tinha direito ao casamento sem pagamento de dotes e ainda com direito a receber presentes dos pais da moça. A conversa logo tomou ar oficial e seu pai que não cabia em si de orgulho do filho herói logo se ofereceu para acertar os detalhes do casamento se fosse vontade dele. Trov disse que sim e em dois dias o casório estava acontecendo. Kiví a loura não cabia em si de contente e trov também estava eufórico com os acontecimentos.

     O casamento era um ato simples, consistia em gestos sem palavras, em dado momento a mãe da moça colocou as mãos na cintura de Kiví e a empurrou na direção de Trov, o pai do noivo fez o mesmo até que os dois encostassem as barrigas um no outro. A seguir a mãe segurou os braços da noiva e enlaçou o pescoço do noivo, o pai também guiando as mãos do filho fez com que ele cingisse a cintura da moça. Feito isto os noivos esfregavam os narizes por três vezes bem devagar um ao outro e depois se deram as mãos e correram três vezes em volta dos assistentes, quando terminaram se abraçaram de novo e repetiram o esfrega nariz, logo o pajé declarava em alto e bom som. - kega kig koda kudi, “estão casados e sacramentados”.

     O povo então fez uma ovação e a partir dai todos cumprimentaram e deram presentes aos recém casados e deram inicio á festa que durou três dias. Com boa comida, bebida feita de raiz de mói “mandioca”, mel e frutas, carne de todos os tipos. Danças ao som de tambores e flautas tocadas pelos artistas da tribo do povo feio e que encantaram Trov que até então não conhecia música a não ser dos pássaros e gruídos ritmados na voz da sua mãe quando o acalentava. Quando a festa estava no auge de animação o pajé pediu a atenção de todos. Liberou os nubentes a se retirarem para a toca destinada a todos que se casavam. Uma espécie de suíte onde os noivos tinham saída livre para fora da caverna e não eram perturbados pelos outros componentes da tribo. Durante o mês de lua de mel, recebiam frutas e carne já preparada, água fresca, mel e ervas aromática, podiam sair e dormir fora da caverna se assim quisesse, mas com tanta mordomia, eles saiam apenas para ir nadar e se amarem no rio depois retornava à caverna.

     Na primeira noite, Trov estava meio desconfiado da loura sapeca, mas iniciou os procedimentos de amor sem receio, pois agora era um guerreiro forte e saudável na plenitude dos seus dezoito anos e dono de um físico invejável. Não tinha que ter medo de uma mulher frágil mesmo atrevida como a loura. Deitaram sobre uma porção de peles macias e aconchegantes bem estendidas sobre a cama de penas perfumadas com flores cheirosas preparadas pelas mulheres mais velhas que fazia de tudo para que a noite do casal fosse feliz e inesquecível.

     “Cachorro mordido de cobra, pode amarrar com lingüiça que ele morre de fome, mas não come”. Bem... O quadro muda, se a cobra pedir desculpas. Foi assim que de um simples esfrega nariz a nariz, o moço foi escorregando, fazendo círculos audaciosos no rosto, pescoço e explorando tudo, decorando o cheiro, a língua sentindo o gosto. De repente a loura levou a mão em direção ao blag bigót “pinto duro” do caboclo e ele segurou a sua mão com presteza, mas entre sussurros e afagos, narizinho esfregante e língua lambente, Trov relaxou. Ela tomou conta mostrando que sabia ser uma mulher capaz de levar um homem ao paraíso.

     Levou ao paraíso sim... Umas mil vezes os dedos dos pés e das mãos de uma pessoa, era só o que se ouvia: eg – teg – reg – gub – dog – pig, tradução: - eu quero é mais, vem que tem Kiví, - to indo Trov. Quando terminou a lua de mel, começou a lua do peixe, os dois ficavam o dia todo no rio, na maior safadeza, foi preciso o pai e a tia intervir, os dois já estavam que era só osso e foi preciso ameaçar os dois de isolamento para eles maneirarem na coisa, senão era capaz, de tanto se usarem... Sumirem gastos pelo uso indiscriminado. Os dois ficaram sendo vigiados dia e noite, à noite a tia deitava-se entre os dois para separar, mas na terceira noite desistiu, o trove já estava era querendo pegar a tia mesmo. Ainda bem que Kivi começou a ficar enjoada e passou a sentir dores de cabeça, Trov então meio desgostoso teve que ir se acostumando, acabou aprendendo que mão tinha outras utilidades além de segurar coisas.

     Quando o Trovic nasceu, foi festa para uma semana e quem mais festejou foi o Trov, pois sua bela e fogosa loura logo ficou no ponto de novo. Recomeçaram em seguida com toda a força, os embates amorosos, que levaram seu pai a tomar a decisão de reunir o conselho e conseguir permissão para Trov viajar com uma comitiva de muitos guerreiros, sua tia sua esposa e ele próprio. Iriam com a missão de fazer um pacto de amizade com o povo bonito. Povo bonito, assim chamado, pois não havia um padrão de beleza específico para cada tribo. O que ocorre é que a tribo onde nasceu Trov era de pele escura e peluda como macaco. Como todos os bichos tinham uma proteção para a pele, como os peixes, escamas, os mamíferos tinham pelos e as aves penas, a tribo do pai de Trov fugia ao padrão natural. Eram pelados e de pele da cor de ouro quando queimada de sol ou branca se o indivíduo vivesse sem tomar sol.

     Trov procurou o pajé e lhe falou dos presentes que o feiticeiro da tribo de sua mãe lhe pedira que ele lhe levasse pela sua murú. O pajé disse-lhe: - não existe mais por aqui o grande Jat-biú, e nem a onça branca, que desapareceram para as grandes florestas fugindo do homem, mas eu tenho placas de Jat-biú guardadas pelos meus antigos feiticeiros e também dentes da onça branca. Você provou ser grande guerreiro e eu lhe darei os presentes, levando trov pela mão, afastaram-se da grande caverna e depois de algum tempo, entraram numa pequena gruta. O feiticeiro lhe deu o que queria tirando do meio de uma porção de bugigangas ali guardadas, Trov agradeceu ao pajé, sem ele teria sido impossível terminar sua murú. Ele ficou pensando quão pouco sabia o povo da tribo da sua mãe.

     Acertado a quantidade de guerreiros que iriam levar, os presentes e o dia da partida, a tribo ficou no aguardo e preparativos deixando Trov e Kiví à vontade. Finalmente numa manhã de sol, acompanhados por boa parte da tribo por um bom trecho a guisa de despedidas, a comitiva partiu deixando para trás muitas saudades de quem ficava. Quatro dias de caminhada e três noites dormindo em acampamentos ao ar livre junto às fogueiras e com guardas em sistema de troca de turno, eles chegaram ao sitio onde ficava a caverna encontrada por Trov.

     Passaram ali descansando durante dois dias e partiram novamente. Reiniciaram a jornada que durou mais dez dias contado nos dedos da mão, ou na quantidade de seixos colocado numa cumbuca, que começaram a ser colocados no início da viagem e seria entregue ao pajé no dia que retornassem à grande caverna da tribo. Quando estava a meio dia distante da caverna do povo bonito, já foram avistados. Os batedores que estavam caçando enquanto inspecionavam o que consideravam seu território, imediatamente mandou avisar ao povo bonito, enquanto alguns ficaram e foram seguindo o povo feio.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 26/11/2018
Reeditado em 26/11/2018
Código do texto: T6511981
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