O MUNDO AVERSO - CAPÍTULO 6 – ZAN

CAPÍTULO 6 – ZAN

Sylph acordou em um quarto com pouca luminosidade, apenas uma pequena vela podia ser vista em cima de um criado ao lado de uma enorme porta de madeira. Seus olhos ardiam e em sua boca ele sentia o gosto salgado do mar. Ele olhou para os lados e reparou que o quarto era feito de paredes de pedra, havia uma pequena janela com uma cortina muito velha e um pouco rasgada, então ele se deu conta de onde estava ele estava em um dos quartos do alojamento do posto avançado.

Ele se sentou na beirada da cama, estava ofegante e se sentia extremamente cansado. Aos poucos sua mente foi clareando, ele começara a se lembrar da ida até o nevoeiro, do barco, da Aluie, dos seus amigos soldados e do capitão, ele se lembrara de entrarem no nevoeiro e de enfim serem atacados por algumas criaturas monstruosas. “Estão todos mortos”, pensava com pesar Sylph, ele sentia um aperto no coração, ele não pudera os ajudar, pois estivera frente a criaturas que ele jamais imaginaria que existia.

Levantou-se, foi até a porta e a abriu, acabou dando de cara com alguém do outro lado da porta, era Mizota que estava de costas, provavelmente vigiando a entrada. Sylph lhe deu um suave cutucão no ombro e ele se virou fazendo uma cara de espanto.

- SYLPH – Disse em tom alto Mizota. – Você acordou, que bom. – Mizota completou e em seguida deu tapinhas no ombro de Sylph.

- Sim, o que aconteceu? Estou no posto avançado? – Perguntou Sylph, que pela ardência dos olhos estava com eles semicerrado.

- Sim, o Rarui lhe encontrou junto a Aluie na praia, disse que ambos estavam desmaiados.

- Aluie ela esta bem? – Questionou Sylph com uma expressão de espanto.

- Sim ela está. – Disse Mizota

- Onde ela está – Questionou Sylph..

Mizota fez uma cara estranha, esticando os lábios e fazendo um bico, logo disse:

- Ah, ela esta descansando na grande casa.

Sylph se sentiu aliviado ao saber que Aluie estava bem, suspirou fundo e colocou uma das mãos no peito. Mizota logo pediu para Sylph que o acompanhasse e assim ele o fez, antes de saíram Mizota havia entregado a Sylph uma espada curta, Sylph não entendeu o por que a recebera mas a aceitou, Mizota seguiu a passos largos e antes que pudesse o questionar do que por que havia lhe dado a espada, estava o seguindo para o lado de fora dos aposentos.

Conforme saiam Sylph percebeu algo totalmente estranho no ambiente, haviam janelas quebradas e muita poeira espalhada pelo chão, além de um completo silêncio, o que era estranho, pois o alojamento costumava ser um local agitado, pois ali os soldados podiam farrear e descansar, além de fugir de obrigações, por isto era comum ouvir gritaria por conta dos jogos de azar e muita conversa em tom alto.

Mas ao saíram ele viu uma cena espantosa, haviam flechas fincadas no chão do pátio, além de vários objetos espalhados, espadas, escudos, potes e outras coisas, ao olhar em direção ao grande portão percebeu pontos de fumaça. E próximos ao grande portão estavam soldados andando a passos largos de um lado para o outro, havia mais solados que o habitual rondando ali, todas estavam com armaduras e alguns com espadas em punho, demonstrando um sinal de vigília e alerta.

- O que houve? – Perguntou Sylph a Mizota.

- Fomos atacados esta noite, nos pegaram de surpresa. Disse Mizota.

Os olhos de Sylph se arregalaram, ele olhara para trás e vislumbrava novamente os soldados se aprontando de um lado para o outro.

- Alguém morreu? Quem nos atacou? – Perguntou Sylph.

- Não sei, mas ninguém morreu. – Respondeu Mizota. – Por sorte não. – Completou.

Continuaram caminhando e seguiram em direção a grande casa, passaram em frente a uma pequena tenda e Sylph pode ver dois soldados feridos, um deles ele reconheceu, era Terui, que estava com uma flecha atravessada na altura do joelho, o outro soldado Sylph não o reconheceu, pois estava com uma faixa ao entorno da cabeça e esta faixa estava lavada em sangue.

Chegaram até a grande casa, entram e seguiram direto para o grande salão. Ao chegarem lá de cara Sylph avistou rostos conhecidos, um era de Cazi, o outro aquele soldado que viera com a maga, chamado Heitzh e sentado na cadeira ao centro estava Skanzo.

Skanzo fez sinal para se aproximarem, logo ao chegarem perto ele falou:

- Enfim acordou Sylph.

Sylph olhou a expressão bizarra em seu rosto, um sorriso áspero e nem um pouco discreto.

- Por favor, sentem-se.

Havia cadeiras próximas a todos, Sylph pegou uma que estava logo atrás de si e sentou-se, observou os demais se sentarem e formarem um círculo. Logo ouviram mais uma cadeira se arrastando atrás de si, era de Jin que chegara de forma silenciosa e discreta para se juntar ao grupo.

Sylph olhou para os lados e reparou nos rostos que lhe pareciam confiáveis e nos que não lhe pareciam, no caso Jin e Skanzo não eram de confiança, um ar de estranheza sempre pairava suas ideias.

- Vocês possuem patentes mais altas aqui, com exceção de Heitzh. – Disse Skanzo. – Mas Cazi, Jin e eu somos mais patenteados, recebemos classe S, Mizota e Sylph estão logo abaixo na classe A.

Os soldados eram separados por experiência em rankings que variavam de S, A, B, C ou D.

- Jin e Cazi já deram seu voto para que eu seja o novo capitão, temporariamente é claro. Mas preciso ouvir a escolha de vocês. – Concluiu Skanzo.

- Como assim? Tão repentinamente já estão escolhendo um novo capitão? – Questionou Sylph.

- Ontem sofremos um ataque, fizeram um cerco, soldados nossos avistaram mais soldados rondando o posto avançado. – Disse Jin.

- Eles provavelmente planejam um ataque e pela movimentação não devem demorar, por isto precisamos agilizar e escolher um capitão – Dizia Cazi em um tom mais arrogante, Sylph estranhou a voz dele que não condizia com sua aparência, era uma voz suave e quase feminina

- Mas isto me pegou de surpresa. – Disse Sylph.

- Nós entendemos, mas não temos tempo para lamentar, precisamos nos preparar e agir. – Disse Skanzo.

- Eu devo concordar, a Aluie esta fraca e precisa de ajuda. – Disse Heitzh. – Se eu não leva-la a um mago curandeiro, ela poderá piorar.

As palavras de Heitzh ressoaram com pesar dentro de Sylph.

- Mas com base em que vocês votaram em Heitzh? – Disse Mizota.

- Ele tem um bom plano, mais coerente com a situação. – Disse Jin.

- Qual é o plano? – Questionou Mizota.

Skanzo puxou um longo pergaminho e o atirou no chão, o pergaminho se abriu e um mapa estava desenhado nele, Skanzo então pegou uma pequena varinha que estava atrás de sua cadeira e a apontou para o mapa explicando:

- Eles se movem apenas na região da floresta, esperando serem protegidos pela mesma, irão atacar em vários pontos diferentes explorando uma fraqueza dos muros, como eles são ágeis se ficarmos dispersos eles certamente entrarão, além de estarem em um número muito maior.

- Quantos você supõe que sejam? – Questionou Heitzh.

- No mínimo, uns duzentos soldados. – Respondeu Skanzo.

- E somos quantos? - Novamente questionou Heitzh.

- Contando apenas soldados capazes de lutar, somos vinte e cinco soldados. – Disse Jin.

- Precisamos fugir ou ficar e podemos aproveitar para irmos por trás do posto avançado, seguirmos até a vila e recorremos à ajuda dos soldados de lá. – Disse Skanzo.

- Não pretendem proteger o posto avançado? - Disse Sylph.

- E do que adianta? Se ficarmos vamos morrer, aliás, você não os viu Sylph. – Disse Cazi.

- Como assim? – Questionou Sylph.

- Eles... – Hesitou Mizota a continuar – Eles são moradores da vila local, mas também não são, parecem possuídos ou algo assim. – Concluiu.

- Do que você esta falando? – Falou Sylph com espanto.

- Eles estão sendo controlados provavelmente, um tipo de magia que os deixa enraivecidos, mais rápidos, fortes e ágeis também. – Disse Heitzh. – Por isto o grande problema, como podem lutar contra pessoas que vocês conhecem e que estão neste estado?

Sylph compreendeu bem as palavras de Heitzh, acenou com a cabeça em aprovação e logo lembrara dos momentos que tivera no barco, em como perdera seus amigos para uma pesquisa a cerca do Nevoeiro, logo perguntou:

-Eu entendo Heitzh, mas quanto aos pergaminhos e todo o estudo do nevoeiro que ainda está aqui?

- Não teremos tempo de levar tudo, levaremos o que pudermos carregar sem que nos atrase. – Disse Cazi.

- Não me parece justo com quem morreu para que todo aquele material ficasse pronto. – Disse Sylph. – Precisamos também proteger estes pergaminhos e documentos.

O silêncio tomou conta do salão por alguns instantes e Skanzo disse:

- Não sabemos se aqueles que nos atacaram irão destruir os pergaminhos, vamos trancar todo material e bloquear a entrada, deixaremos aqui desta forma é o mínimo que podemos fazer.

Sylph não gostara da decisão, sentia um pesar pelas pessoas que morreram e ele vira diante de seus olhos, bem como de todas as outras pessoas que anteriormente se arriscaram para estudar a névoa, para entendê-la e compreende-la.

- Como seu irmão morreu Sylph? – Perguntou Heitzh.

A pergunta fora completamente aleatória e surpreendeu a todos no local. Sylph olhou para Heitzh e estava indiferente com a pergunta, mas ainda assim respondeu:

- Morto, enquanto lutava contra o mago Zan.

- O mago Zan? Isto faz muito tempo, nossa – Disse realmente surpreso Heitzh. – Digo, nós todos conhecemos bons soldados que morreram lutando por algo, precisamos manter a memória deles viva, não faremos isto se morrermos.

Heitzh provavelmente falava do capitão Ozu, Uniz e Senzei. Sylph sentiu sinceridade nas palavras de Heitzh, sabia que ele tinha razão, apenas olhou para todos e acenou com a cabeça em aprovação.

- Então, vamos votar rápido e preparar a todos para a saída, se estiver todos de acordo, comandarei a retirada como seu novo capitão. – Disse Skanzo.

- Estou de acordo. – Falaram quase que ao mesmo tempo Jin e Cazi.

- Não posso votar. – Comentou Heitzh.

- Por mim tudo bem. – Disse Mizota.

Todos olharam para Sylph esperando sua resposta. O ar se tornou pesado e todos sentiram os segundos percorrem mais tempo do que deveria, Sylph cabisbaixo e sem se mexer apenas emanava uma atmosfera de inquietação.

Com um movimento rápido Sylph girou a pequena de espada que Mizota havia lhe dado e desferiu um golpe no peito de Skanzo, o movimento brusco assustou a todos, que se moveu para trás com brutalidade, Jin e Cazi chegaram a cair das cadeiras, Mizota saltou para trás e Heitzh fez um movimento ágil erguendo a cadeira para se proteger.

- O que você fez Sylph. – Questionou Mizota.

O sangue escorria por toda a extensão da espada de Sylph e respingava no chão com força. Skanzo parecia se engasgar com o sangue e nem conseguia falar, logo suas pernas tremeram rapidamente e relaxaram-se, mostrando que seu corpo já estava entregue a morte.

Mizota chutou a mão de Sylph que se moveu para trás, a espada permaneceu cravada no peito de Skanzo. Mizota pegou Sylph pela gola da vestimenta e o empurrou para trás o questionando gritando:

- O QUE VOCÊ FEZ?

Sylph olhava fixamente para Skanzo, não parecia intimidado com Mizota e logo disse:

- Ele não é o Skanzo, Mizota.

Mizota percebeu o olhar fixo de Sylph em Skanzo e se virou para o olha-lo, um sorriso macabro saia daquele corpo que outrora estivera morto.

- Eu me lembro do seu irmão Sylph, me lembro também de você. – Disse aquele que supostamente seria Skanzo, mas que possui agora uma voz totalmente diferente da que Skanzo realmente tinha em seguida sua cabeça abaixara novamente, como se estivesse realmente morto.

- Ele era Zan. – Disse Sylph.

Todos estavam petrificados com o que havia ocorrido, Heitzh se aproximou de Sylph e o questionou:

- O que você disse? Como sabe disto?

- Meu irmão e eu o vimos, eu era só uma criança na época, mas eu me lembro do olhar de Zan, o mesmo olha que eu vira em Skanzo. – Disse Sylph. – Ele provavelmente espalhou uma magia pelo ar, para controlar as pessoas.

- Zan trabalha ambiciosamente nesta magia por alguma razão, mas nunca a concluiu. – Disse Heitzh. – Porém ele foi morto a muito tempo, como pode?

- Ele não foi morto. – Disse Sylph.

- E por que ele estaria aqui? – Questionou Jin.

- Ele não está, só sua magia que se espalha pelo ar. – Disse Heitzh.

- Então tem pessoas que estão sendo controladas? Como saber quem não esta? – Questinou Mizota.

Todos se olharam se estranhando, como poderia confiar um nos outros? Todos se afastaram um dos outros, se entreolhando até que Heitzh disse:

- A Aluie, ela é uma maga com sensibilidade de particular pequenas, poderia nos ajudar. – Disse Heitzh.

- Mas como faremos isto? – Disse Cazi.

- Vamos todos juntos falar com ela, assim não terá risco se caso um de nós estivermos possuídos ou algo assim. – Disse Sylph.

- Você não pode identificar quem é, você fez isto com Skanzo, será que não é você que está possuído ao invés do Skanzo? – Questionou Jin.

Todos se entreolharam mais rispidamente.

- Todos nós vimos o que Skanzo, ou melhor, aquilo falou e vimos que não era ele, a voz mudara completamente. – Disse Heitzh.

- Tem razão. – Disse Mizota. – Me desculpe Sylph.

- Tudo bem. – Disse Sylph. – Mas vamos imediatamente até a Aluie, talvez ela possa nos ajudar. – Completou.

Todos rumaram diretamente para os aposentos de Aluie, deixaram o corpo de Skanzo estirado onde o encontraram, pois estavam com pressa.

Saah__
Enviado por Saah__ em 24/11/2018
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