O MUNDO AVERSO - CAPÍTULO 5 – A BRUXA DA FLORESTA
CAPÍTULO 5 – A BRUXA DA FLORESTA
Zan acordou com sua cabeça doendo, um mal estar e uma sensação de tontura incômoda. Olhando ao seu redor reparou que estava em uma espécie de tenda, com várias peles de animais, penas, algumas pedras coloridas e folhas espalhados pelo chão. Colocou sua mão na testa e percebeu que havia um hematoma, sentiu uma ardência forte e logo retirou a mão, percebeu também que estava em cima de uma cama feita de palha que ficava no chão, ele se curvou e sentou-se e depois esfregou os olhos com as mãos.
Seu corpo estava pesado, era uma sensação de sonolência misturada e uma ânsia constante, ele novamente colocara sua mão no hematoma e pode sentir que era um baita de um calo, como se alguém o tivesse golpeado na cabeça.
Olhou para a entrada da tenda e viu que alguém se aproximara. Era uma pessoa com uma roupa suja, enrolada por trapos remendados, em seu rosto haviam duas pinturas com formato de suas mãos, como se tivesse mergulhado as mão em tinta e esfregado no rosto. Ao se aproximar mais de Zan ele pode ver que era uma mulher, muito jovem e bonita, de cabelos escuros e olhos verdes claros.
- Se levante e venha. – Disse ela.
Zan olhou para os lados, não compreendia o que estava acontecendo, estava confuso e não conseguia pensar direito.
- Onde estou? – Murmurou Zan.
- Se levante e venha. – A jovem disse em um tom mais áspero.
Zan se levantou com receio e acompanhou a jovem até o lado de fora, ao sair ele percebeu que estava em uma espécie de tribo ou comunidade, havia várias tendas espalhas pelo local, todas muito parecidas, várias pessoas com as mesmas características da jovem perambulavam ao seu redor, com roupas remendadas e em seus rostos pinturas feitas provavelmente com as mãos.
Passaram por uma enorme fogueira onde um animal que não era possível reconhecer estava sendo assado. Zan também pode ver que além das tendas havia uma massiva floresta, que aparentemente rodeava todo local, com árvores grandes e vistosas que se erguiam extremamente alto.
Logo chegaram frente à outra tenda, a jovem apontou para que Zan adentrasse e assim ele o fez. Lá dentro havia um rapaz mais jovem sentado e em sua frente uma pequena fogueira, ele vestia mais roupas, parecia uma bola de panos e trapos, tinha também uma barba curta e cabelos encaracolados escuros e longos.
A tenda era similar a de Zan, porém haviam vários manuscritos empilhados ao fundo, um deles estava bem aberto, haviam letras que ele nunca havia visto na vida. Zan se aproximou mais do cento da tenda e o jovem fizera sinal para que ele senta-se, então Zan acenou em concordância e se sentou.
- Me diga qual seu nome? – Perguntou.
- Me chamo, Zan – Respondeu Zan com um tom de insegurança.
- Você se lembra de algo antes de estar aqui? – Continuou o jovem.
Zan olhou para os lados como se procurasse por algo, mas apenas estava revirando sua mente a procura de uma luz.
- Não. – Sua voz saiu trêmula. – Espere sim, Kunin. – Ele se lembrara de seu amigo. – Kunin, onde ele está?
O jovem se virou para a entrada da tenda e chamou por alguém. Eis que entra o velho que Zan e Kunin conheceram na estrada, o velho chamado Pill. Zan ao olha-lo ficou espantado, reconhecera seu rosto e não apenas isto, sua memória havia voltado como uma explosão, sua mente despertara, se lembrou de Kunin, da bruxa e da floresta.
- Pill – Disse Zan – Me lembrou de você.
- Olá – Ele retrucou em um tom calmo e sereno.
O jovem sentado na cabana disse:
- Este na verdade é Akhmaj, eu sou Nhakjii, somos moradores desta vila e protetores da floresta.
- Onde esta Kunin? – Zan não prestara atenção em nenhuma palavra que fora dita, sua mente se voltava para seu amigo, pois ele se lembrara da bruxa e que ele havia sido atacado, mas não tinha certeza se ele estava bem ou não.
- Receio que ele tenha sido sacrificado.
Zan fixou Pill espantado, ele agora recobrara toda a cena em sua mente, de como Kunin havia ficado após ser atacado, mas ainda confuso disse:
- Como assim?
- A bruxa da floresta, ela precisa de almas frescas. – Disse Nhakjii.
Zan olhou para suas mãos trêmulas, ele não havia ainda tido tempo para aceitar o ocorrido.
- Eu não entendo – Zan começava a refletir sobre suas lembranças, principalmente sobre Pill ou melhor, Akhmaj. – Você, foi você que nos disse para irmos pela floresta.
- Não, eu não disse vocês que insistiram. – Disse Akhmaj.
- Mas você sabia? – Zan se enchia de dúvidas.
- De tempos em tempos levamos pessoas para ela devorar, se não fizermos isto ela irá sair daqui e matar milhares de pessoas. – Comentava Nhakjii – Não sabemos o que ela é, mas é extremamente perigosa.
- Mas de alguma forma, ela não escolheu você Zan. – Comentou Akhmaj.
Zan pensava no caminho até encontrarem Pill, que nunca discordara de fato de Kunin e ele tomar o caminho da floresta, na verdade Zan suspeitava que até mesmo a floresta que Pill os deixou, não era a mesma que estava o atalho. Ele pensou na estão que Pill levantou, de não ser escolhido, como aquilo soava normal para Pill, como se aquilo fosse parte do seu cotidiano, seu tom calmo e sereno falando sobre isto incomodara Zan.
- Não me escolheu? Por que nos permitiu ir lá? – Zan se levantou enraivecido. – Se você sabia disto, por que nos permitiu ir lá? – Zan fechou seus punhos estava prestes a ir pra cima daquele que conhecera como Pill - Além de que esta é a floresta do atalho?
Nhakjii levanto a mão em direção a Zan, rapidamente aponto e moveu seus dedos pronunciando algumas palavras “Ihn Dixx Nhuen”, uma fumaça rosa saiu de sua mão e se moveu rápida e suavemente pelas narinas de Zan, que se sentira tonto e caíra no chão quase que instantaneamente, logo sua visão sumira completamente.
Zan acordava e adormecia de tempos em tempos, ele viu seu pé se arrastando pelo chão, sentiu pessoas o carregando pelos ombros e a floresta se aproximar, ou melhor, ele se aproximar da floresta. Reconheceu dois rostos, um era Nhakjii o outro aquela jovem que o recebera na tenda quando acordara, mas também via outras pessoas ao redor se movendo rapidamente.
Sua mente ia e voltava, ele não conseguia pensar, nem falar, nem se mexer, era como se seu corpo estivesse entregue a um redemoinho por dentro e por fora. Logo ouviu “Ihn Dixx Nhuen Inversus” e sentiu algo adentrar suas narinas, quase que instantaneamente seu corpo se recuperara e ele se via com as mãos e pernas amarradas, no chão em meio a mata da floresta com um grupo de pessoas a sua volta.
Entre o grupo de pessoas estava àquela jovem e Nhakjii, porém ele não vira Akhmaj, as outras pessoas eram desconhecidas para ele, eram cerca de quinze ou vinte pessoas, que formavam uma espécie de semicírculo em suas costas. A sua frente havia uma cabana de madeira, que parecia estar sendo engolida pela floresta, recoberta de raízes, folhas, galhos e cipós em seu entorno, era como se a cabana estivesse sendo abraçada pela floresta.
Nhakjii se moveu a sua frente e lhe falou.
- Vamos descobrir o que houve.
- O que estão fazendo? O que querem comigo? – Disse Zan.
- A bruxa nunca hesitou em devorar alguém, acreditamos que você tem algo de especial, queremos saber o que é.
- Por quê? – Questionou Zan.
- Por que ela também nos ignorou – Respondeu Nhakjii.
Logo a porta da cabana se abriu e aquela figura que Zan vira na noite na floresta aparecera, era a bruxa. Ela saiu lentamente da cabana, olhou para os lados e viu o grupo de pessoas que estava do lado de fora da cabana, ela por sua expressão facial parecia incomodada e disse com uma voz rouca e áspera:
- O que fazem aqui seus imundos?
Nhakjii chegou mais próximo a ela, se encurvando como se estivesse fazendo uma reverência.
- Não queríamos incomoda-la, mas queríamos saber sobre este jovem. – Dizia Nhakjii – Por que evitou devora-lo?
A bruxa fixou os olhos em Zan, este que pode ver intensamente o interior daquela estranha figura, nunca ele sentira tamanha obscuridade.
- Sabemos que a senhora tem contato intimo com a magia deste mundo, queremos saber o que viu nele que resolveu não mata-lo? – Nhakjii falava cada vez mais rápido e cada vez mais eufórico – Se ele for um escolhido queremos que nos diga, podemos usá-lo para avançarmos nossos estudos com a magia.
Nhakjii se aproximou ainda mais da bruxa e continuou dizendo:
- Olhe, nós nunca a fizemos mal, sempre tratamos de fazer oferendas para você, só pedimos que compartilhe conosco um pouco de sabedoria – Nhakjii agora falava em um tom mais baixo, como se estivesse querendo parecer mais meigo para aquela estranha figura que continuava o olhando com um expressão incômoda.
Nhakjii sevirou para olhar para o grupo de pessoas ali fora, olhou para Zan e disse “O que é você?”. Zan percebeu para o olhar que tudo aquilo era mais surreal do que ele imaginava, uma sensação de medo enchia seu peito, mas ele não sentia medo das pessoas ali e procurava saber do que realmente ele estava sentindo medo, ao olhar para a bruxa novamente ele a viu se movimentar, então percebeu que era dela que vinha tanto medo;
A bruxa ergueu suas duas mãos para o alto e logo as bateu fortemente no solo e berrou alto e em bom tom “sumam”. Raízes brotaram rapidamente do chão envolvendo todas as pessoas ali presentes com exceção de Zan. As pessoas começaram a gritar em agonia a medida que as raízes iam apertando-as, tão rapidamente as envolvera e as apertara que Zan começava a ouvir vários ossos se partindo, logo entre os berros de dor e os ossos se partindo, os olhos começavam a saltar e sangue escorria pelas bocas, narizes e ouvidos de quem estava ali. Zan olhou para Nhakjii, que acabara de se urinar momentos antes de dar seu último sopro de vida, na verdade era mais um último cuspe de sangue. Os galhos se desenrolaram das pessoas e Zan ouviu os corpos e pedaços de membros caindo secos no solo da floresta.
Do seu lado ele viu o corpo daquela jovem que ele reconhecera caído no chão, era como se o corpo dela tivesse sido triturado, seu rosto e corpo completamente desfigurado e lavado em sangue. Aquilo fez Zan ficar com os olhos arregalados e sua respiração aumentar fortemente.
Zan se virou para a bruxa que agora se aproximava rapidamente dele, como se deslizasse pelo ar. Ao chegar perto dele ela estendera seus dedos brancos e finos em sua direção, isto o fizera fechar seus olhos, pois temia que o mesmo fosse acontecer com ele, mas logo ouvira as palavras “Ihn Dixx Nhuen” e sua mente se desligara.