O MUNDO AVERSO - CAPÍTULO 4 – O AMANHECER
CAPÍTULO 4 – O AMANHECER
As únicas pessoas que tiveram contato com o mago e seu acompanhante foram o capitão Ozu e os soldados Skanzo e Jin. Dento da grande casa os três conversaram com o mago durante um longo tempo, além de que nenhum outro soldado deveria ter contato com eles, para a segurança do mesmo. Por este motivo uma ala da casa fora reservada para o mago e o acompanhante se hospedarem, um local completamente isolado de influência externa.
Após um longo tempo conversando Ozu pediu para alguns soldados chamarem Sylph, Senzei e Uniz, que trataram de entrar na grande casa alguns momentos depois. Os três se depararam com uma casa limpa e vistosa, um grande salão ficava após a porta principal, com duas enormes mesas dividindo o espaço, mais ao fundo viram três soldados em pé, eram Skanzo, Jin e um terceiro desconhecido, ao lado deles sentado em uma gande cadeira de madeira estava Ozu.
Os três se aproximaram e ao olhar para os lados viram que na mesa havia, pães, queijo, vinho, um pouco de carne cotada em uma bandeja e algumas frutas, tudo estava intocado, pois era para os convidados mas os mesmos não quiseram aproveitar da refeição.
- Enfim chegaram. – Disse Ozu.
Os três fizeram posição de sentido ao ouvirem a voz do capitão, estavam de frente a ele despostos em uma fila.
- Tenho um recado para os três. – Continuou Ozu. – O mago na verdade é uma maga, junto com ela veio este soldado da Torre dos Abutres. - Ao terminar de falar apontou para o soldado desconhecido ao lado.
A Torre dos Abutres era o quartel general dos magos, de onde comandavam todas as operações para os experimentos nos nevoeiros, bem como vigiar os reinos, treinar magos e entre outras coisas.
O soldado diferente dos que viviam ali no forte que trajavam armaduras pesadas, desgastadas e velhas, trajava uma armadura mais brilhante, com detalhes dourados encaracolados nas bordas, além de ter uma aparência bastante chamativa, longos cabelos loiros, olhos claros e uma pele tão branca quanto a de Sylph
- Olá me chamo Heitzh.– O soldado olhou para os três e os reverenciou curvando-se.
- Heitzh. – Continuou Ozu. – Ele também irá nos acompanhar amanhã, muitos detalhes não nos foram dados, pois só a maga sabe o que faremos, ela não teve tempo de comentar mais a respeito devido ao cansaço da longa viajem e logo foi aos seus aposentos para dormir e descansar.
- Mas o Haitizim não sabe? – Questionou Uniz.
- É Heitzh. E não eu não sei. – Comentou o soldado. – Pouco me foi revelado a respeito, mas não parece nada demais, será uma missão como qualquer outra imagino.
- Então o que faremos amanhã? – Comentou Senzei.
- Bom, teremos que ir até o nevoeiro, usaremos um barco pequeno para isto e como estamos com falta de metal preparem uma pedra e uma longa corda pra tentarmos ancorar. – Disse Ozu.
- Falta de metal? – Perguntou Sylph.
- Sim, com a guerra se aproximando recebi informações que este metal será muito útil para o reino de Dragouin. – Disse Ozu.
- Estamos com falta de metal? Não sabia. – Comentou Senzei.
- Parece que atacaram as minas ao leste e levaram tudo que o reino dispunha. – Disse Skanzo.
Quando Skanzo falou Sylph o observou pela primeira vez, Skanzo era alto, com uma barba muito mal feita e um cabelo mal cortado e completamente disforme, mas o que mais chamava atenção de Sylph era uma cicatriz que tinha ao entorno do olho, já Jin era um soldado mais baixo, não tão forte e com um cabelo cobrindo completamente o rosto.
- Não é problema nosso. – Disse Ozu.
- Mas enviar o metal não estaria ajudando o reino? – Disse Sylph.
Ozu encarou Sylph seriamente, olhou para os demais soldados, suspirou fundo e continuou:
- Olha Sylph, entenda que...
Antes de terminar de falar Jin o cortou.
- O metal não só serve para fazer espadas e matar, mas também para ferramentas que ajuda as pessoas no seu cotidiano. – Jin falava em um tom mais áspero.
Sylph achou estranha aquela postura, não estava convencido do que acabara de ouvir, mas apenas acenou com a cabeça dando a entender que havia compreendido.
- Pois bem, se preparam então para amanhã cedo. – Disse Ozu dispensando os soldados.
Sylph e Uniz voltavam pela madrugada aos seus aposentos, a noite era fria e o ar seco entrava pelas narinas de Sylph causando um incômodo intenso. Ambos caminhavam muito próximos e estavam enrolados em suas mantas, como era madrugada o tempo havia virado mais bruscamente e a temperatura caindo drasticamente.
Uniz olhou para Sylph e ao perceber a expressão mais séria questionou-o:
- Vai me diga, o que houve?
Sylph parou de caminhar se virou para Uniz, suspirou fundo e disse:
- Algo de estranho com Ozu, só isto.
Uniz parou de caminhar também e se virou para Sylph com uma expressão de dúvida em seu rosto.
- Mas por quê?
- Não sei, só a respeito do metal enviado para o reino.
- Bem isto não é problema nossa Sylph.
- Mas e se for? – Um breve silêncio pairou o ar após as palavras de Sylph. – Não havíamos sido informados a respeito disto.
- Mas olha, não tínhamos necessidade das ferramentas e objetos de metal de qualquer forma, envia-los ao reino por necessidade não me parece errado. – Comentou Uniz. – Não deve ser para fins militares também.
- Mas não temos como saber que não será para a guerra Uniz. – Sylph franziu a testa e coçou o nariz avermelhado e extremamente irritado por conta do ar seco.
Novamente um silêncio pairou o ar, Uniz tentou dar continuidade no que dizia, mas não conseguia pronunciar mais nenhuma palavra, apenas apertou mais o manto ao seu corpo.
Sylph retornou a caminhar e voltou a dizer:
- De qualquer forma, não vou me meter, relaxa.
Uniz o olhou se distanciar a poucos metros, abaixou a cabeça e a balançou em negação com uma risada esporádica no rosto, logo sem dizer uma palavra continuou acompanhando Sylph. Ele não sabia exatamente como se expressar dada a situação, mas não queria acreditar assim como Sylph que Ozu estaria se metendo em alguma coisa escandalosa.
A manhã chegou rapidamente após uma noite curta de descanço, Sylph e Uniz se levantaram rapidamente e foram até o portão central para se encontrarem com Senzei, Ozu, o soldado Heitzh e a maga. Ao chegarem até o portão se depararam com apenas duas pessoas, Ozu e a maga, nem Senzei e nem Heitzh estavam presentes.
- Bom vamos partir logo, a maga já se recuperou. – Ozu os falou enquanto se direcionava para além do portão.
A maga não falou nenhuma palavra, só usava um longo roupão com toca que mal se podia ver seu rosto. Sylph e Uniz os seguiram logo atrás em direção a margem da praia.
- Onde está aquele soldado Ozu? – Perguntou Sylph.
- A o Heitzh? Ele acabou acordando muito resfriado, ficou descansando. Nós acompanharemos a maga.
A maga seguiu mais adianta e Ozu aproveitou que ela se afastava indo em direção a praia, para conversar com Uniz e Sylph.
- Ela só comentou que era uma avaliação de rotina, mas tenho minhas suspeitas. – Após comentar voltou para mais a frente para acompanha-la ao lado.
Uniz e Sylph se entreolharam.
- O que ele quer dizer com isto? – Indagou Uniz.
- Sei lá! – Disse Sylph.
Ao chegarem ao topo de um morro puderam ver ao longe a praia e próximo ao barco, não muito visivelmente uma imagem pouco sombreada de Senzei, que tratava de ajeitar e arrumar o barco.
- Acho que Senzei esta mais empolgado que a gente Sylph. – Comentou Uniz.
- Aliás o que achou dela? – Perguntou Uniz.
- Da maga?
- Sim Sylph.
- Eu não a vi direito, então não sei. – Respondeu Sylph.
- Magos tendem a ser muito reservados. – Disse Uniz. – Além de que pouco conversava com reles humanos como nós. – Completou.
- Por que isto? – Perguntou Sylph.
- Não sei, ouvi falar que é pra não influenciarem quem não é mago ou algo do tipo. – Respondeu Uniz.
Os dois perceberam que estavam se afastando mais do mago e Ozu, pois conforme conversavam paravam para falar e isto os distanciava, logo apertaram o passo em direção aos dois.
Chegaram até a praia e era a primeira vez que Sylph estivera ali, ele nunca havia participado destas expedições até o nevoeiro, se bem que do posto avançado ele podia ver por cima das muralhas a enorme formação de névoa que se estendia por todo o horizonte. Ele se sentia um pouco desconfortável conforme se aproximava do barco, mas também sentia curiosidade a respeito, pois se tratava do evento mais importante para todos que viviam naquele continente.
Os demais soldados sempre participaram destas expedições, por isto estavam acostumados com a rotina, exceto pelo fato de substituírem pedras pela âncora do pequeno barco, que era algo improvisado, mas segundo Senzei iria funcionar da mesma forma.
O mar estava calmo, poucas agitações das ondas e cria uma ambientação mais relaxante que não servia para antecipar os momentos de tensão que viriam a seguir.