Boneca de pano

Era uma vez uma boneca de pano, sem vida e sem cor, que tentava agradar a todas as pessoas e que não tinha vontade própria.

Ela era levada de lá para cá e, por vezes, ficava jogada em um canto sozinha. 

Seu sorriso era forçado pela costura que veio de fábrica, só não era mais forçado que os sorrisos amarelados das pessoas ao seu redor.

Mas um dia ela esqueceu que era de pano e, sem medo de se rasgar no caminho, tirou as costuras que definiam a forma moldada por alguém e criou a própria forma.

Hoje, os seus lábios seguem o contorno do que é sentido e não há mais cordas que a prendam ou a controlem.

Hoje, ela anda com as próprias pernas, é livre e até vive, mas continua boneca, continua de pano: rasga, costura, suja, lava.