O êxtase de Zezé

O casamento não veio. Seu sucedâneo foi a companheira de sempre, fiel, ainda que por vezes caprichosa, mas que ao fim, invariavelmente cedia aos seus desejos. E daquela afinação quase-perfeita da parelha foi que veio tanta satisfação alheia.

E Zezé, cada vez mais segura, com sua cada vez mais íntima e devotada máquina de costura. O duo, cada vez mais afinado, aproximava-se da perfeição, a produzir obras dignas da Criação.

E em retrospecto - Zezé "havera" de raciocinar: o Criador fez foi bem a da nudez do Paraíso, Eva expulsar. Adão, por tabela e por tão bela - e mesmo não vindo ao caso - na certa a seguiria, e a todos os seus caprichos atenderia, inclusive levando-a, bem vestida e radiante, ao altar no caminho da construção de um lar.

E quanta noiva Zezé não vestiu, compartilhando a trepidação de mais um hímen rumo ao beliliu...

Mas de Zezé, o supremo gosto, que se lhe estampava no rosto, era ir para a entrada do então glamouroso Automóvel Club, de Beagá, daqueles doirados anos sessenta, só para se entregar à sensação de ver - incógnita - mais um modelito seu enfeitando uma noite de baile...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 01/08/2018
Reeditado em 01/08/2018
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