O Dilema Do Tanque De Guerra

As batidas continuavam sem parar. Nunca havia me sentido tão segura e encurralada ao mesmo tempo, não sei explicar o quão isso é estranho afinal estou salva aqui dentro, mas o que realmente importa é como vou sair. Tenho água e comida, mas se não sair daqui vou morrer e se sair há uma grande possibilidade de isso acontecer também, curioso como um tanque de guerra pode ser um dilema tão perturbador.

As batidas continuaram, começavam a parecer tão comuns quanto aquele relógio de ponteiros que fica fazendo “tic tac” o dia inteiro e a noite da vontade de jogar na parede por causa do barulho, mas você não faz isso infelizmente precisa dele para acordar na hora certa. São as coisas da vida, ou da morte no meu caso.

As horas passam todas as lagrimas já foram levadas pelas crises de choro e pânico, passam até rapidamente por mais incrível que pareça. Outra coisa acontece, consigo dormir, não sei como isso aconteceu, acho que cansei minha mente pensando e também tinha meu confortável saco de dormir, o encontrei em uma loja de artigos esportivos e acampamento. Ele me pareceu mais útil que aquela bola de futebol que estava na estante ao lado mas que peguei também, vai que encontro um campo de futebol por ai.

Quando acordei de minha soneca reparei que “o relógio não parara de bater”, ele simplesmente não cansava. Para passar o tempo tentei contar quantas batidas ele estava dando mas eram muitas, e não consegui nada além de uma dor de cabeça. Não sabia quantas horas haviam passado, terá sido dias? Meu relógio parou as quatro horas, vinte e três minutos e dez segundos. Pensando bem, ele poderia ser com ponteiros pelo menos eu teria um som a mais para ouvir. Como a vida é curiosa, as vezes odiamos tanto um barulho e outras é a única coisa que nos mantem preso a realidade, pensando bem de que isso adiantaria? É mais divertido enlouquecer antes de morrer.

A comida e a água acabaram, a loucura tomou conta de mim tanto que passei a conversar comigo mesma, tem mais duas iguais a mim aqui dentro e estamos conversando bastante. Lembramos momentos especiais, rimos de piadas ruins, falamos com a bola de futebol que carinhosamente chamamos de Wilson, até fizemos carinhas representando alguns sentimentos nela (nesse momento estava sorrindo para nós), entre tantos assuntos decidimos o que fazer, e a terceira eu presente não estava muito convencia de que era o plano mais genial naquele momento, mas a convencemos. Então o colocamos em prática, as duas de mim voltaram ao meu corpo então abri o tanque e sai de dentro dele, fechei a porta pois Wilson iria ficar lá dentro (é importante proteger os amigos) e simplesmente pulei para a multidão de zumbis que me comeu ardorosamente, acho que tinha uma carne bem saborosa.

Essa foi a minha história de morte. Não está entendendo nada? É que quando se vira fantasma é necessário fazer um cadastro e uma redação, nela deve-se contar como você morreu, pois há um registro de todos os fantasmas e quando for a sua vez vai assombrar o local que você morreu, acredite tem 559 na minha frente. Não acredito que vou ter que esperar tanto para sair dessa pasta de computador chata! Isso é frustrante, sair de um local trancado para outro. Fazer o que é a morte, enfim espero que o tempo passe mais rápido por aqui.

O dono da pasta recém chegada, que estava atrás da minha, ficou um pouco assustado e triste quando disse isso, principalmente a última parte. Então alegremente pedi para que me contasse a sua história, infelizmente ele se negou mas talvez fosse cedo demais para perguntar isso.

Patricia Canzi
Enviado por Patricia Canzi em 31/07/2018
Reeditado em 01/08/2018
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