HISTÓRIA DE CIGARRA
Quando criança e maluca por livros de história,jamais me conformara com o final ao ler "A Cigarra e a Formiga".
As formigas trabalhavam em mutirão carregando suas folhinhas para o formigueiro, enquanto a cigarra cantava imprevidente, e soltava seus trinados alegrando a natureza.
Quando chegava o inverno, a pobrezinha tiritava de frio, faminta á cata de meigalhas e abrigo. A formiga egoista,do fundo de sua casinha,saciada e feliz, cobria-se de folhinhas e se aquecia. E, aos apelos da cigarra, respondia:
- Você cantou nos bons tempos? Agora dance, Cigarrinha!
Que ingratidão e egoismo, meu Deus! - protestava minha sensibilidade infantil! que custava á formga ajudar sua irmã cigarra,imprevidente, tá certo, não se prevenia para o futuro, mas cantava e trazia tanta alegria á bicharada..
E o amor ao próximo, tão decantado nas aulas de catecismo? Não, maldade assim eu nunca vira e nem aceitava. Tudo isso eu aprendia preparando-me para a "Primeira Comunhão".Não, não me conformava. Êta formiguinha malvada!...
Cresci sempre com pena das cigarras da vida, batalhando contra injustiças,discriminações,cheia de ideais e sonhos bonitos...
Aí descobri Brasília!... Brasília???...
Sim, Brasília, a terra onde conheci as cigarras de verdade -"de carne e osso",Brasília das milhares de cigarras a ferirem os ouvidos da gente,escondidas,escondidinhas em todas árvores do cerrado e nas múltiplas quadras, cantando,cantando irritantemente até se arrebentarem, e renascendo e cantando, e renascendo e cantando, uff!...
Ai, meu Deus, que bichinho irritante, intolerável, incômodo, soando em conjunto como imensa sirene ensurdecedora e uníssona a ecoar pelos céus mais lindos do Brasil!
- Pobre formiguinha,como entendo você agora...Têge perdoada,acabei de crer que as cigarras são mesmo um saco!
Pensam que acabou? Pois sim...
Soube, por e-mail recebido, que a cigarra de Brasília, aproveitando-se da confusão do momento, foi levada por um fi gurão para cantar em boate de renome,e está fazendo enorme sucesso. Ouvida por um produtor francês, que descobriu em seus trinados e tremidos, certas semelhanças com conterrâneos seus,convidou-a para atuar em sua boate em Paris, com um contrato milionário.
O que se sabe agora, é que a formiguinha ainda varrendo, varrendo coitadinha, anda louca para encontrar um tal de La Fontaine para um acerto de contas...