O medo de cemitério

Quem já morou no interior sabe que a região antigamente era só mata.

Tudo aquilo estava sendo colonizado.

A minha cidade ainda não existia, enquanto Município.

Porém, alguns bairros surgiam denotando qual seria a sede do Município.

Surgiram o Alto Iracema, a Guaraniuva, a Sumatra, o Jardim Marajá, o Marajoara que já eram bem prósperos.

Indicando que ali se desenvolveria a sede do município.

Conta-se que para o Bairro do Alto Iracema mudou-se com o pai e a mãe um caboclo conhecido por Mané Muleta.

Era um caboclo trabalhador, apesar da deficiência, e gostava de uma cachacinha e de contar histórias.

Ninguém mais suportava suas mentiras.

Ele contou que certa vez foi pescar no Rio Feio e pegou no anzol um lambari tão grande que para pesar numa balança de cinco quilos teve que dividir o peixe em três partes.

Deu 14 quilos o lambari.

Contou também que gostava de derrubar touro bravo a unha.

Disse que perdeu a perna esquerda quando matou uma onça que vinha roubar seu rebanho de porcos e cabritos, usando apenas um punhal.

Levou uma mordida da danada que esmagou seu joelho e a perna teve que ser amputada.

Os amigos que já não acreditavam em mais nada do que ele contava, resolveram pregar-lhe uma peça.

Disseram que queriam ver se ele tinha coragem de ficar lá no meio do cemitério, a meia noite.

Ele tentou sair fora sem se desmoralizar e disse que não ia porque era um pouco longe e com somente uma perna não conseguiria chegar até lá.

Os amigos disseram então que não teria problema, levariam ele na charrete do Antônio.

Ele então concordou em fazer a prova.

Era uma noite de lua cheia e lá foram com o papudo arrepiando os cabelos e suando frio, rumo ao Cemitério do Alto Iracema. Um lugar bem deserto e longe do Jardim Marajá.

Lá largaram o mentiroso bem no meio do cemitério e correram a se esconder.

A meia noite em ponto, um deles saiu detrás de uma sepultura vestindo uma mortalha preta que ia até o chão, tinha uma foice na mão direita e uma vela acesa na mão esquerda.

E com uma voz tenebrosa foi dizendo: - “Então você que é o corajoso? Eu vim te buscar!”.

Em milésimos de segundos o Mané desapareceu que ninguém mais o encontrou...

Benedito José Rodrigues e Waldemar Samogim
Enviado por Benedito José Rodrigues em 01/06/2018
Reeditado em 08/04/2022
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