Assim na Terra como no Céu - o desastre dos Arcanjos - Planos, mares e a Arca

Noé olhava a enorme embarcação enquanto apertava os nós das cordas velas. A Arca era uma enorme construção de movimento autônomo. A fúria dos mares e das tempestades não a afundariam.

Daqui uns dias choveria por 40 dias, e por 150 dias a Terra seria coberta por água durante o dia e gelo durante a noite.

O Criador chamou-lhe num dia de inverno. Disse ao alvo jovem Noé o que aconteceria aos habitantes do mundo para que as feridas da rebelião fossem justificadas. Morte. Extermínio. Recomeço.

As palavras do Pai pesaram sobre os ombros daquele efebo. Naquele dia enfadonho, triste, fúnebre, a decisão divinal era rígida. Mesmo após séculos de duras provações punitivas, o Criador ainda derramava seu hálito irado sobre os homens.

Miguel andava inquieto com a decisão de seu Pai. De que maneira poderia parar com a desgraça que se abateria sobre os mortais?

Olhando seu reflexo nas faces do rio Aqueronte, as águas castigadas brilhavam com os gemidos das almas que por lá nadavam. O arcanjo chorou.

A criatura Estirge voou para perto do angelical.

- Senhor, ouvir dizer de um mortal marcado pela chaga eterna. Àquele cuja morte lhe escapa

de sua fronte por ter sido o caminho do assassínio na Terra.

- Estirge, você fala de Caim, o filho da Serpente? Perguntou o anjo enquanto enxurgava a lágrima

que lhe dançava na face.

- Sim, eu ensinei a tribo de Caim como viver através do sangue. Por causa disso eles foram banidos

da vida humana. Pelo isolamento nas cavernas, eles desenvolveram artes poderosas de feitiçaria que permitem

dormir pelos séculos.

A centelha da esperança brotou no coração do arcanjo.

- Diga-lhes que durmam. Eles serão a renovação do homem sobre a Terra.

A criatura alada voou com as boas novas, no entanto, em seu coração planos de trevas nasceram.

Noé caminhou até a terra de Asmodeus, terra dos gigantes.

- Bravo irmão, Calcus. Gritou o garoto para a floresta de árvores milenares que, retorcidas pelo tempo,

guardavam em suas raízes o passado esquecido.

A voz do gigante que respondia ao garoto fez as aves levantarem voo.

O colosso da cor de ébano e olhos vermelhos viu seu amigo. O coração de Calcus se felicitou pela visita.

Todavia, o coração do menino Noé chorou. Usaria a força de Calcus, mas o deixaria morrer por vontade divina.

- Vim trazer-lhe uma notícia, caro irmão. Disse o escolhido.

Longe dali o ritual de sangue da tribo de Caim começara. Moças e moços virgems eram sugados até a morte.

Quanto mais sangue, mais vida. Dizia Icabode, filho de Caim com sua lacaia.