Assim na Terra como no Céu - o desastre dos Arcanjos - O dia da Alvorada
O Abismo sempre foi uma obra inerte de Deus. Nada havia que saciasse a fome eterna de seu interior.
O grande e profundo Abismo que fez frente à Miguel, cravou-lhe os dentes em sua destra, arrancando tufos de carne alva respingando gotas douradas de elixir divino.
Enfraquecido, o grande protetor do universo rompeu a criatura com um golpe de espada, e de suas artérias os oceanos submergiram a cidade de Atlantis.
As hordas divinas do Pai continuavam a marchar sobre a terra do Egito, e mesmo as mais altas pirâmides não protegeriam os deuses menores que ali viviam.
Por que a ira? O que fizeram os filhos para que a ira divina se ascendesse a ponto de querer apagar a existência dos angelicais?
Os filhos quiseram a glória do Pai? Dizem os anciãos, reis do passado mundo, que não se vira tamanha guerra desde que a Senhora da Escuridão resolvera apagar as estrelas do firmamento para que parisse seus horrendos filhos com Sheol, o triste mundo dos mortos.
Deus cavalga sobre um poderoso pégasos, duque dos cavalos, Ele faz tremer montes e do céu brasas ardentes queimam as criaturas humanas. Cresceram tanto por causa dos mistérios revelados pela Serpente.
Adão viu sua amada possuída em corpo e alma pelo Mentiroso. Amavam-se sob as sombras da Árvore. Seus corpos dançavam de prazer e da boca dela uma melodia bela e insensata. Os olhos daquele ser faziam-se brasas de paixão enquanto derramava em seu ventre o fruto da traição.
O casamento da luxúria ocorria às vistas. Nada fez. O ímpeto de ciúme deu lugar a uma estranha sensação de prazer. Vê-la entregue o fez participar daquela infame união. Alma, corpo e espirito. Uma só carne se fez.
- Onde estás Adão? Deus perguntou.
- A mulher que me destes, Senhor! Ela fez me comer do fruto proibido.
Fora do paraíso, fora das vistas. Um homem, uma mulher, a Serpente e duas crianças. Caim e Abel. O filho do homem e o filho da lascívia.
Ambos conheceram o Eterno. Recolhiam-se para agradá-lo. Um era o senhor da Terra, fruto da criação verdadeira. O outro apenas desejava o que era do irmão.
Rafael clamou ao Pai para que tivesse misericórdia das entidades menores.
A justiça divina não permitiria que seres grotescos caminhassem sobre o mundo. Aquelas criações não emanavam a essência do cosmo e, portanto, não poderiam partilhar da glória eterna.
Um a um foi decepado, incluída a asa esquerda de Rafael que, após o golpe quase mortal, recolheu-se para o Oriente. As gotas de seu sangue abriram rios e estradas, e até hoje não se ouviu mais falar dele.
O sangue gritou por justiça. Abel jazia morto com a fronte aberta por um golpe violento de seu irmã Caim.
- Maldito, andarás com um sinal sobre a testa para que não te firam. Determinou Deus.
O menino Caim correu para terras longínquas e lá casou-se com suas primas. Eis o início da terrível tribo dos homens que tiram do sangue de seus iguais o alimento.
Miguel escondera-se em uma estrela do cinturão de Órion, a casa do caçador, ali permaneceu por centenas de anos até que sua chaga sarasse. A ira de seu Pai não se apagou contra ele.
Refletindo sobre sua atitude, ele assentiu que cometera um terrível erro ao poupar seu irmão Lúcifer, a estrela da Alvorada.
A Terra conheceria a dor por causa de sua misericórdia. Como mudar o erro em acerto? O Arcanjo adormeceu.
No planeta Terra nascia Noé, o construtor de embarcações. Deus apareceu para ele e falou-lhe um segredo.