ENIGMA AZUL
Era muito difícil carregar o espírito do mundo! Entre a criação e a destruição, a vida e a morte, a tendência era quase sempre destrutiva. Este processo repetia-se ad infinitum. Algumas indagações filosóficas impregnavam minhas vivências há anos, séculos e milênios. Qual o sentido da vida? Por que as guerras predominam sobre a paz? É possível sustentar a compaixão e fraternidade entre os homens?
Como poderia garantir o papel de símbolo da esperança? Na época de Natal, a angústia sobre o futuro tornava-se insuportável, pois me lembrava de ter sido a estrela-guia dos tres Reis Magos ao local de nascimento de Jesus Cristo. Sou chamada de Estrela Dalva, Planeta Vênus ou Estrela da Manhã, muito admirada pelos artistas, seresteiros , amantes e poetas.
Com a passagem do tempo fui sofrendo transformações e, meu brilho inimitável, já não tem o poderio do passado. Perco gradativamente a energia vital quando pressinto que as reflexões que faço, irão para a vala comum das utopias perdidas, mesmo que a esperança seja a ultima a morrer. Até mesmo as tarefas perenes de intermediar a sombra com a luz,o dia com a noite, a alegria com a tristeza ficaram pesadas.
Comecei a falhar com os amanheceres. Dia a dia o raiar do sol, contaminado com os meus humores, despontava com cores esmaecidas quase sempre acinzentadas. E, meu brilho de estrela única em sua visibilidade terrena, só poderia ser notada com lunetas ou telescópios. Um dia, numa solução radical desapareci da terra e fui pairar em outra galáxia.
O sol inconformado com a ausência de Vênus transforma o amanhecer de amarelo-dourado em azul. O povo do mundo inteiro olhou o céu e ninguém entendeu. Dali em diante começou um novo hábito entre pessoas insones que se levantavam de madrugada em busca do raiar do sol. Muitos anos depois nem os astrônomos e nem mesmo os astrólogos conseguiram dar um sentido a tamanho mistério. Para decepção dos amantes da beleza do universo nunca mais o alvorecer em nosso planeta será dourado.