Cronicas das Nações - Prefácio
A macabra imagem de Zefro parecia estar maior esta noite. Omnihor no auge do rito de oferendas parecia estar em transe. Sozinho no templo com as portas fechadas, ele tinha a impressão de que os olhos da estátua de 4 metros cintilavam à luz das tochas espalhadas pelo grande salão do templo. O olhar frio e impiedoso do deus do mal parecia se dirigir diretamente a ele, por um segundo teve a impressão de que a estátua realmente olhava pra ele.
Era o quarto dia seguido que alto sacerdote do templo estava trancado no grande salão, quase sem comer nem beber nada, pedindo a Zefro uma solução para o caos que estava se instaurando em Trhorus. Já extremamente debilitado, quase sem conseguir diferenciar ilusão e realidade, Omnihor da um pulo para trás quando o olhar frio da imensa imagem de Zefro se acende em chamas, muito mais fortes do que o simples reflexo das tochas que iluminavam o ambiente, e olha fixamente para ele, acompanhando com o olhar o recuo do sacerdote que não sabia se sentia medo do olhar penetrante do deus, ou se alegrava com a possibilidade dele ter ouvido suas preces.
Nesse instante toda luz do salão se extinguiu, Omnihor só conseguia ver os olhos incandecentes de Zefro se dirigindo em sua direção. Prostrado no chão começou a saudar o deus que ele foi ensinado a cultuar desde muito pequeno antes mesmo de pensar em se tornar um sacerdote.
Zefro se aproximou mais, o sacerdote sentiu o calor que emanava dos olhos de fogo quase queimando seu rosto. Zefro interrompeu a saudação e disse com tom de repreensão:
– Omnihor, o último alto sacerdote de Zefro – a voz era assustadoramente rouca e grave – o que aconteceu aos adoradores das trevas? Os filhos da escuridão já dominaram todos os continentes desse mundo, agora vivem reclusos nessas malditas ilhas, quase reduzidos ao pó. Onde está a confiança e o espírito guerreiro que sempre empurrou esse povo para a glória?
– Meu senhor… Não temos como prosperar… Essa terra não nos permite nem mesmo garantir alimento a todo o nosso povo, como poderíamos pensar em guerra contra as cidades estados?
– Não têm como prosperar? Eu sempre lhes dei a força necessária para isso! O que falta é a vontade de lutar. Vocês aceitaram a imposição dos malditos avrosi. Quatrocentos anos confinados nessa terra medíocre e agora vêm suplicar minha misericórdia?
– Sei que não somos nada diante do seu poder, mas suplico sua ajuda, faremos o que for necessário para...
Antes de completar a frase, os olhos brilharam ainda mais intensamente na escuridão, sentiu o calor que irradiava deles queimando seu rosto, antes que pudesse gritar tudo escureceu de vez. Entre murmúrios e sussurros, o sacerdote conseguiu distinguir apenas as palavras: “Traga seu rei ate mim”.