Burgueses

De burgueses todos nós temos um pouco.

Certa vez me veio a mente um certo caboclo.

O caboclo não tinha nada de burguês.

Longe disto.

Era um "zé ninguém".

Que nasceu em meio ao sertão árido.

De família pobre.

Família pobre e numerosa.

De sustento dificultado.

Pela seca.

Pela falta de chuva.

Pela escassez de trabalho.

Era mais um retirante da seca.

Não tinha estudos.

Mal sabia escrever seu nome.

Sem muita esperança.

Para todos os cantos que olhava só enxergava dificuldades.

Não via solução.

Não lhe restava outra opção.

Certo dia resolveu juntar o que tinha.

Isso é se tinha alguma coisa que valesse a pena.

Resolveu que sairia daquele lugar.

Com os parcos recursos que tinha resolveu empreender uma viagem para longe dali.

Deixaria pai, mãe e irmãos.

Voltaria um dia.

Quem sabe!?

Esperou a condução.

Um velho "pau de arara" que cruzava o sertão.

Seus pensamentos agora estavam longe dali.

Se ajeitou como pode no "pau de arara".

Daqueles que na estrada não podia ver um buraco que já dava uns trancos danado que machucava as costelas.

Tinha que grudar na lateral da carroceria senão pulava muito.

E quando era estrada de areia comia-se poeira o tempo todo.

E assim foi até chegar num pequeno povoado onde passava a "jardineira".

Na bagagem quase nada.

Uma mala daquelas bem antiga.

Amarelada e já bem gasta pelo tempo de uso.

Nela suas coisas pessoais.

Chegou na rodoviária altas horas da noite.

Agradeceu ao condutor.

Mandou lembranças aos familiares.

Agora não tinha mais jeito.

Tinha que seguir em frente.

Longe dali.

Em meio aos seus pensamentos e devaneios procurou um banco para encostar.

Descansar e dormir um pouco.

Naquele momento não sentia nada.

Não sentia fome.

Nem frio.

Nem calor.

No dia seguinte teria uma jardineira para São Paulo...

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 01/11/2017
Reeditado em 09/02/2018
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