Capítulo 1: A Garota no Bosque

Capítulo 1

Vilarejo de Linstorm

Tudo estava calmo como de costume nos arredores de Lexion, região encravada nas montanhas que circundam o feudo vigente, onde o azul absorvia os cumes e fazia o típico frio amenizar-se com o caminhar do Sol.

Nathan, apenas mais um dos moradores do principal vilarejo chamado Linstorm, localizado a noroeste de Lexion, agora com quatorze anos de idade, dos quais todos foram passados com seus pais e seu irmão mais velho em uma humilde casa ao pé do Bosque de Linstorm, venceu o frio cotidiano da região para fazer sua caminhada diária acompanhado de seu cão de pastoreio branco bosque adentro. Seu objetivo era apanhar ervas medicinais para sua mãe e frutos para o sustento noturno da residência.

Ao adentrar no bosque, Nathan respirou o ar gélido dos pinheiros que acalmaram seu pulmão e deram-lhe razão para prosseguir com a tarefa.

Entretanto, o latido de seu cão o tirou do devaneio e ele pôde vislumbrar a implicância de seu fiel companheiro, que agora se aproximava desconfiadamente de uma garota cujos cabelos loiros e longos reluziam não apenas aos olhos de Nathan, como também coloriam a mata com um toque destoante do comum verde e ocre. Ao se aproximar da garota constatou sua estatura um pouco inferior a dele, enquanto seu cão farejava o entorno da jovem.

- Peço desculpas pelo Nevasca, ele geralmente se empolga quando vê alguém diferente - disse ele enquanto coçava seus cabelos castanhos médios.

O sorriso da garota que seguiu tal frase foi o suficiente para Nathan notar os belos dentes que enfeitavam sua delicada boca. Delicadas também eram suas vestes, denotando a origem nada humilde da portadora de tais feições.

- Você não vive em algum dos vilarejos, não é? - Disse ele, enquanto a analisava intrigado tanto quanto seu cão há alguns instantes.

A garota fez sinal de negação com a cabeça e passou a acariciar Nevasca enquanto observava a Nathan, que estava vestido com seu usual casaco de pele de urso, botas para trabalho árduo e uma bolsa de couro lavado, onde armazenava os frutos e ervas a serem colhidas. A garota logo mudou de assunto.

- Seu cachorro é bem bonito - provavelmente admirando a pelagem alva em harmonia com os olhos azuis, no momento, mais interessado nos doces que a garota carregava junto à ela.

A garota de cabelos dourados ofereceu à Nevasca um doce que Nathan nunca ao menos viu em sua humilde vida, era uma espécie de bolo colorido, aparentava ser de creme e era coberto por frutinhas avermelhadas e flocos azulados. Nathan nunca tivera a oportunidade de adentrar o Feudo, mas imaginou que aquele era o tipo de doce que vendiam na parte central. Nevasca não fizera desfeita do doce, que devorou com seus longos dentes perto de uma árvore.

- Nevasca! Seria gentil de sua parte se deixasse um pouco para mim - Disse Nathan, com uma leve inveja da posição de seu cão perante o bolinho - Acho que ele não entendeu - resmungou o garoto, seguido por seu riso.

O riso de Nathan foi o suficiente para que o cativante sorriso da jovem se mostrasse novamente, o encantando permanentemente. Neste momento de encanto, Nathan não soube o que dizer, apenas observou a jovem correr atrás de Nevasca, seu corpo se encheu de saudosismo por brincadeiras e, então, o garoto começou a correr bosque adentro atrás da dupla, composta por seu amigo de longa data e uma menina que o encantara em um curto tempo. O som das folhas avermelhadas em queda no outono somado ao agradável frio local enchia os ouvidos com o agradável barulho do farfalhar dos passos e a respiração com a doçura de ser criança, algo que Nathan havia perdido vivendo em seu vilarejo.

Então os dois sentaram-se sob uma árvore próxima ao Lago Espelhado, cansados de correr e esconderem-se pelo bosque. As águas do Lago nem sempre foram tão límpidas, tal pontualidade foi dada às frias águas por um mago que governou Lexion há muito tempo atrás, fazendo com que refletissem com perfeição a imagem do que quer que estivesse à sua frente. Pelo menos era isso que sua família dizia.

O correr de Nevasca não acabara tão rápido quanto o dos jovens, o cão perseguia um inseto voador com a mesma agilidade que sempre tivera, porém o inseto hora ou outra venceria a perseguição.

Nathan notou a busca por algo feita pela garota em sua bolsa, a fome dos recompensados com a alegria batia em sua porta, porém a elegância da menina a impedia de demonstrar tal sentimento instintivo. Os frutos da macieira próxima saltaram aos olhos do atento garoto, porém sua altura diminuta não o permitia alcançar as frutas de aparência suculenta, que em melhor hora não podiam aparecer à vista.

Nada que facilitasse sua escalada até a recompensa avermelhada estava por perto, seu ato de pular para garantir algumas das baixas maçãs foi acompanhado pelo olhar atento da garota. As maçãs eram tão avermelhadas que Nathan nem questionaria caso dissessem que foram criadas sob a ação de algum feitiço.

O dia parecia perfeito, os sons dos pássaros cantando em conjunto com a perfeição do bosque de Linstorm, que se encontrava repleto de raios de sol entrando por entre os vãos das árvores, iluminando o solo repleto de folhas de cores diferentes, do vermelho ao verde lima traziam uma sensação de tranquilidade profunda, porém, essa tranquilidade foi interrompida.

Gritos nada amigáveis romperam a calmaria do lago, advindos de sua margem oposta. Nevasca, antes consolado com a derrota na caça para o inseto, agora demonstrava-se atento, seu olhar buscava algo do outro lado do lago. Nathan e a garota entreolharam-se e esconderam-se atrás da grande e frondosa árvore.

Este é o primeiro capítulo de um livro em produção, espero que apreciem a leitura!

Se você ainda não leu o prólogo deste livro, ele se encontra em meu perfil, separado em duas partes de "O Despertar da Chama Negra".

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