O FANTASMA

Wall Street, nome que nos remete a pessoas bem vestidas, celulares ao ouvido, acionistas e compradores. Presa e caça se confundem nesse inóspito “business world”, o fedor de oportunidade atrai zoológico de sedentos farejadores, como diria uma frase de Obama “We can do it”, e desta forma é, o céu é o limite para os que enveredam por esta rota. Um dos que encontrou uma via de acesso tentadoramente transitável foi Higino Hoffman Souza, filho de amazonense com americano, trabalhava há alguns meses em Wall Street, e percebeu na alta de empresas de telefonia uma chance de lucrar, “easy Money”, como falam nos states. Empreendedor utiliza os conhecimentos de programador e monta uma página que oferece um serviço diferenciado para quem procura fazer seguro de celular. A ideia de Higino obtém êxito, e com pouco mais de três meses de funcionamento, sua página era constantemente requisitada para fazer propaganda de grandes empresas americanas, isso, sem falar da elevada demanda de pessoas procurando seguros de telefone. Tudo corria bem, se não fosse à chegada do Pokémon GO. Higino mostra-se apreensivo com a febre deste game que veio detonar geral. Seus clientes falavam das maravilhas de capturar esses bichinhos na rua, a interação, treiná-los, fazer evoluir, o quão prazeroso esse ciclo era. Insolúvel de inicio desconsidera as recomendações, não tem tempo, isso é coisa de criança, prefere Resident Evil, Assassin’s Creed. Ele resiste por uma semana com bravura, e já não pode mais, acaba por juntar-se ao inimigo e experimenta o falado Pokémon GO, um mero teste drive, de caráter instrutivo, pois deveria saber um pouco sobre o tema que os compradores de seguros que oferecia tanto falavam. O processo é viciante, e Higino rende a magia da eletrônica brincadeira, transformando-se em Indiana Jones, caçando tesouros virtuais, Snorlax, Dragonite, Pikachu, a jornada de treinador estava apenas começando. Habituado na atividade adquire também novos fregueses, que se sentem mais a vontade em proteger o aparelho com alguém que divide dos mesmos gostos pelas mascotes orientais. Os negócios iam de vento em polpa, porém, o vento e a polpa, que sopraram a favor de Higino, sopraram contra, mudam o norte pra morte. Ignorando sinal do celular, que apitava mais do que árbitro de final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina, continuava na rua, caçando pokémons, mesmo sabendo das tempestades que não tardavam em vir. Sentando num banco da praça, e não era o Carlos Alberto de Nóbrega, é alvejado por enorme galho de arvore que transpassa seu coração e o mata na hora. Morrer dói, e dói muito, sente alma descolando desconfortavelmente do corpo, que sensação horrível. Parece que embebedaram seu corpo com algum tipo de super cola e puxaram sem avisar depois que a cola estava bem sequinha. Decepcionado e claro lamenta por ter morrido jovem, viajar pouco, não fez a quantidade de sexo para torna-lo um expert no assunto, droga, droga. Acho que algum parente do Groot do “Guardiões da Galáxia” não foi com a cara dele e tacou-lhe um belo pedaço de pau no peito. Sem nada melhor pra fazer olha a ambulância chegando pra socorrer, a funerária, e os parentes o reconhecendo, necrotério, legista. E que raiva do legista, carecia abri-lo todo, agora sabia, partilhava da vida dos sapos da aula de biologia, ao serem cortados e expostos. A família chora rios de lágrimas, isso o comove, que saudade de estar vivo, e dos pokémons apesar do evento fatídico. Velório é apoteótico, com direito a imprensa e carreata pelas ruas americanas. O caixão em forma de telefone possuía uma pokébola ao centro, aberta com um Pikachu saltando de dentro, dividia opiniões. Assistindo de camarote o funeral, observa a comoção das pessoas, e presencia cena que o deixa furioso, que falta de respeito com os mortos, o melhor amigo, Kenedy, não deixou nem o defunto esfriar, apalpava a noiva de Higino, Dahlia, um presente para os olhos de águia de fotógrafos e repórteres que transmitiam a cerimônia. Higino nota grãos de areia mexendo e pétalas de rosas caindo próximo a seu corpo e pensa. “Hum, será que tenho poderes e esta foi uma reação de minha ira fantasmagórica”. Ele se concentra e mira, Shazam! Quebra os botões da calça de Kenedy, e revela para o mundo a cuequinha de tromba de elefante rosa, que vexame. A terra já lhe cobriu a cara, ele abandona a lapide, vai explorar essa vida de fantasma. Começa por atravessar umas paredes, é incrível o que os outros fazem quando pensam não estar sendo vigiados. Na multidão, atravessa pessoas, encontra modelos, tops, depiladinhas, nossa como é bom, e como é mal encontrar o restante, que não são modelos de higiene pessoal, eu diria. Volta a planar, pelos céus, evita aviões, é inimaginável, um troço daquele tamanho, com centenas de passageiros, que viagem, os fantasmas sentem tudo, e para ele que era novato, péssimo. Sabe aqueles arrepios que o povo sente de vez enquanto, é efeito da colisão de um fantasma com um vivo, suponham então todas essas colisões num curto espaço de tempo. O além é safado, inventa essas coisas e limita a diversão. Pelo menos uma coisa o além pensou bem, até rimou hein! Duas vezes. O fantasma permanece com a roupa que morreu, pense na bagunça que seria todo mundo vestindo branco, igual é nos desenhos animados. Higino desce pra terra, pega carona numa corrente de ar e para surpresa do mais novo Gasparzinho do pedaço, ele descobre. “Raios podem cair sim, duas vezes no mesmo lugar” é dose. Outro vendaval, e quem dera fosse o vendaval de emoções do Isidro Souza, outro cara caçando pokémons, outro galho vindo, que sina meu irmão essa de Higino. Ele deixaria este cara ter o mesmo destino, para aprender a não caçar pokémons se o clima não for dos bons, ou interviria, usando poderes de X-men do além. O que fazer? O que não fazer? O que ele vai fazer? “o tempo não para”, assim cantou o brasileiro Cazuza, e não parou. Eita! Ferrou! Higino consegue ativar poderes impedindo assim que o objeto derrote o coração do pokemaníaco, o mesmo não acontece com o braço direito dele, que é decepado, ele sobrevive, e passará um tempo sem caçar pokémons, fazer o que né. Adeus, “Ao infinito e além”, caraca, isso é “Buzz Lighthyear do comando estelar”, espero que a Disney não me processe, kkkkkk...

Jonnata Henrique 08/10/17

JonnataHenrique
Enviado por JonnataHenrique em 08/10/2017
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