FANTASMA NO TAXI

Depois que ficou viúva, dona Celina resolveu que não queria mais ser dona da casa em que viveu por mais de 40 anos e, aos poucos, vendeu, emprestou sem a mínima esperança de reaver, alugou sem prazo determinado para o fim do contrato ou simplesmente jogou porta a fora os pertences que foram cuidados com tanto zelo.

Depois colocou a placa de – ALUGA-SE – na frente da casa e foi passar uns dias com a filha que morava na Praia do Janga.

Nessa época, as famílias ainda eram estruturadas e cada um dos seus filhos já casados possuíam as próprias casas e, dona Celina resolveu que passaria um tempo na casa de cada um deles e se não desse certo, se a sua presença fosse causa de desentendimento com genro ou noras, iria morar num asilo.

Por ser pessoa de fino trato e de convivência pacífica, nos muitos anos em que esteve cumprindo o que havia combinado com todos, jamais houve qualquer desentendimento.

Seu filho Guilherme morava com esposa e filhos num casarão na Praia de Piedade, bem perto do Balneário do SESC.

O outro filho, Luiz Cláudio, também casado e pai de dois meninos, morava em Olinda, perto do Forte do Queijo e Maria Cândida, também casada morava com o marido e os três filhos na Praia do Janga em Paulista, numa casa de dois andares onde tinha um quarto reservado para dona Celina usar quando bem quisesse.

O tempo passou e num dia, sem qualquer aviso prévio, dona Celina morreu.

Muito choro, velas, missa de corpo presente e a defunta foi sepultada com a pompa e circunstância que as posses da família podiam proporcionar.

Mês e meio depois disso, numa tarde de domingo, Hildebrando, marido de Maria Cândida, estava na varanda, deitado na rede lendo o jornal quando viu um taxi parar em frente ao portão, mas como no carro só estava o motorista, voltou a recostar a cabeça na rede até que, dez ou quinze minutos depois o motorista bateu no portão.

Hildebrando foi atender e o motorista disse que estava esperando o pagamento da corrida.

Mas que corrida? Perguntou Hildebrando.

A corrida que fiz de Piedade para cá, trazendo uma senhora que entrou aqui e me disse que esperasse que ela iria pegar os R$ 100,00 para me pagar, respondeu o taxista.

Como era essa senhora? Quis saber Hildebrando.

Era alta, magra, com os cabelos grisalhos presos no alto da cabeça, usava um vestido preto e óculos Ray Ban, respondeu o taxista.

Em que altura de Piedade essa senhora subiu no seu carro?

Bem perto do Balneário do SESC, foi a resposta.

Hildebrando chamou o taxista para entrar na sala de visitas e mostrou a fotografia da dona Celina emoldurada sobre a mesinha do centro.

É, foi essa senhora mesmo que eu trouxe.

Enquanto Hildebrando retirava o dinheiro da carteira disse ao atônico motorista, pois saiba meu amigo que hoje se completam 45 dias da morte dessa senhora que era a mãe da minha esposa.