O PAI E O MENINO
– Menino, venha já para dentro. Não vê a chuva que vem? – questionou o pai.
– Pai, não vê a graça da chuva, molhando o meu cabelo? – respondeu o menino levado.
O pai, já cansado, resolveu buscar o menino. Calçou uma bota própria para andar na chuva e vestiu um casaco de lã. Saiu pela porta dos fundos levando a sua bronca.
– Vamos ver se ele vem ou não – resmungou entre dentes.
O menino saiu correndo. A chuva batendo no rosto. Pegou a bola suja e vazia. Chutou para o fi m da rua. A bola driblou um ou dois pneus e parou no poste de luz.
– Minha bola fugiu – gritou com lágrimas nos olhos.
– Bola não foge, menino. Vá buscá-la agora – exigiu o pai.
– Pai, pega para mim. Quero a bola aqui – choramingou o menino.
– Menino, tão atrevido. Sou seu pai, não vê. Traga a bola aqui. Não quero nem saber – falou em tom ríspido.
– Quer ver se posso pegar uma bola que fugiu? Pois posso. Quer ver? – disse aquilo e saiu correndo.
O pai ouviu uma buzina. Um barulho seco ao chão. O filho caído na rua. Seu choro, desespero, alucinação.
– Menino, pelo amor de Deus. Que ideia mais maluca. Buscar uma bola correndo, saindo pela rua – o pai disse enquanto pegava o filho nos braços.
Uma lágrima rolava de seus olhos. O filho ali inerte. Era a marca da derrota. A dor que se refletia. Não sabia o que fazer. A chuva fria molhava seu rosto. Sentiu seus olhos úmidos. Mistura de lágrimas e chuva.
O filho sem reação. Ele sem decisão. A bola ao pé do poste de luz.
O filho sem vida, no chão.