A Folha Mágica
Era uma vez...
Assim o escritor começava a escrever um de seus diversos livros. Poderia ter começado de qualquer outra forma, pois, como sabemos, não há nada mais mágico do que as palavras. Quando, de repente, um grito o interrompeu:
– Amor! Vem aqui!
Era sua mulher o chamando de outro cômodo da casa. Ele detestava ser interrompido enquanto escrevia. Deixou a escrivaninha de lado e foi ver o que a mulher queria.
Ao sair, um vento entrou pela janela do quarto e levou consigo a folha da máquina de escrever. O papel começou a flutuar, levado por uma corrente de ar. Os raios solares atravessaram as fibras do papel, dando-lhe vida.
A folha viu, com alegria, o céu azul, as nuvens, o Sol erguendo-se no horizonte, as casa e as pessoas lá embaixo. Ela escolhia a corrente de ar, dependendo da direção que desejava ir. Mas, às vezes, o vento a levava para outras direções. Não sentia medo, pois ainda era jovem demais para temer qualquer coisa.
De repente, os ventos sessaram e ela começou a cair bem devagar. Ela não gostou disso, pois gostaria de ficar voando bem alto por mais tempo. Tentava subir, mas tudo o que conseguia era ficar dando voltas em torno de si mesma, dobrando-se diversas vezes.
Começou a chegar perto dos carros, que atravessavam uma avenida em altas velocidades. O vento deslocado por eles fez com que a Folha fosse jogada de um lado para o outro.
Então caiu no asfalto, e três carros passaram com seus pneus por cima dela. Não sentiu nenhuma dor, pois não possuía nervos. Sentiu apenas suas fibras sendo comprimidas por aquelas toneladas de ferro.
A Folha ficou meio suja e amassada. Estava triste, não por isso, mas por não conseguir voltar a voar naquelas grandes altitudes.
De repente, um garoto de rua pegou a Folha e, para não ser atropelado, correu de volta para a calçada. Olhou para o papel sujo pelos pneus e viu que haviam algumas coisas escritas, porém ele não sabia ler.
Tão pouco escrever, e o máximo que poderia fazer com aquilo era um brinquedo. Logo começou a dobra-la e fez dela um aviãozinho de papel. Imaginou ele voando tão alto quanto os aviões comerciais que sobrevoavam a cidade com suas turbinas barulhentas, levando pessoas que tinham muito dinheiro, enquanto ele mal tinha o suficiente para um prato de comida.
Jogou o avião uma vez, que caiu à alguns metros. Correu alegre para busca-lo e tentou jogar ainda mais alto. O aviãozinho voou bem alto e foi levado por uma forte corrente de ar. O garoto correu para tentar pegá-lo, enquanto o avião já voava na altura dos prédios.
Ele gritava para os outros garotos e apontava para a sua criação. Provavelmente dizendo, orgulhoso:
– Olha o avião que eu fiz! Voando tão alto!
A Folha, que havia se transformado em avião, escolhia as correntes de ar para subir cada vez mais. O formato aerodinâmico ajudava bastante. Ela ficou durante várias horas voando acima dos prédios, admirada com a paisagem.
Então os ventos cessaram outra vez, e ela começou a cair bem devagar, próximo à um bairro no subúrbio. Já havia começado a escurecer e alguns garotos brincavam na rua.
O avião caiu ao lado de um dos moleques, que há abriu e viu que nela havia uma história escrita:
“A Folha Mágica
Era uma vez...
Assim o escritor começava a escrever um de seus diversos livros...”
(...)
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