COINCIDÊNCIAS
Ia subir a rua quando encontrou um velho amigo.
– Oi. Há quanto tempo não te via – falou o amigo.
– Realmente, faz uns dez anos – assentiu.
– É, a última vez que nos vimos foi no colégio, perto da rua Amparo – lembrou o amigo.
Titubeou um pouco. Não se lembrava. Mas disse:
– Sim é verdade.
– É, você estava namorando a Mara, lembra?
– Sim – respondeu sem muita certeza.
Quem poderia ter certeza de alguma coisa depois de ter se casado, construído família e sabendo que ela definitivamente não se chamava Mara…
– E como está a Mara? – insistiu.
Buscou em sua mente uma lembrança. Um traço que fosse que ajudasse a se lembrar da Mara. Não encontrou.
– Muito bem – respondeu.
– Vocês se casaram? – questionou.
– Não.
– Onde ela mora? – insistiu.
Começou a ficar preocupado. Não conseguia encontrar respostas para as perguntas. Nem o nome do amigo se lembrava. Buscou com força uma solução para aquele impasse. Era um bom amigo. Lembrava-se bem de que fizeram muitas atividades juntos. Mas, e o nome? E aquela chuva de perguntas?
– E aí, onde ela está morando?
– Quem? – perguntou para ganhar tempo.
– A Mara – lembrou.
– Sim. A Mara. Qual Mara mesmo? – estava sem saída.
– Aquela que era sua namorada.
Viu que não teria como se safar daquela situação.
– Sabe de uma coisa. Não me lembro da Mara. Não me lembro de seu nome. Não me lembro de nada – concluiu.
O amigo teve uma reação inesperada. Começou a rir e se contorcer.
Ele, bastante desconcertado, questionou o motivo de tanta graça.
O amigo declarou, enfim:
– Eu também não me lembro. Falei o nome Mara por puro instinto. Precisava me resguardar pois também não me lembro do seu nome. A saída foi te questionar primeiro. Assim você não teria tempo de me fazer perguntas – concluiu.
Riram espontaneamente. Resolveram se apresentar:
– Olá, sou seu amigo Davi – disse
Ao que o amigo respondeu:
– Prazer, eu sou o Paulo.
E a Mara? Não existia?
Entraram numa lanchonete, tomaram um café reforçado.
Resolveram perguntar o nome da atendente.
– Mara – respondeu a garçonete.
Entreolham-se entre si e caíram na risada. A garçonete ficou sem compreender nada.
– Qual o motivo da graça? – questionou.
– Prazer, eu sou o Davi – disse ainda rindo.
– Olá, eu sou o Paulo – falou o amigo, também rindo.
– Meu Deus, mas se não são os meus colegas de escola! – a moça compreendeu o motivo da graça.
Abraçaram-se entre si. Fizeram uma festa. Retornaram para suas casas.
A vida é mesmo muito engraçada, concluiriam mais tarde.