ESCULTURA
ESCULTURA
Via-se n'altura do que é certo, que o artesão batia o seu martelo incansavelmente. O ambiente era o seu pequeno ateliê, mofado pelo vento, areado por mantimentos. Local cheio de tralhas: tintas, pincéis, martelos, papéis, agenda, e acima de tudo, vontade; onde então trabalhava, raspava a obra, prolixamente; lixava-a com notável esmero e um aperto dos dedos, ora daqui e ora outro acolá. Suas mãos trabalhavam sem muito tempo pro cafezinho da tarde (já que o alimento em constância era secundário), e sujas de pó-poeira e dor, manipulavam aquela obra de arte, que vinha sendo esculpida como base no sentimento de amor.
Seu horário de trabalho era o mesmo horário que marcava o relógio: qualquer um. E assim esculpia sua obra de arte. Pensando sempre naquela mulher.
E a obra ela bela, era a cara dela (perfeita), daquela donzela, que em saudades de um tempo de outrora - sem qualquer desfeita, trazia consigo (à ele, o artesão), uma honrosa quimera.
Sua saudade - dos beijos, dos toques e do seu amor - imperava o destino.
Sua saudade era ímpar. Contava um mais um, e somava três.
Sua saudade fazia companhia para cada segundo que respirava. E ele sonhava, sonhava, sonhava.
Sua saudade é quem comandava com zelo, as manobras das 'ferramentas de ferro' elaborando a face 'bandida' e angelical daquela musa de pedra.
Milimetricamente o artesão esculpia o igual. Milimetricamente, tudo por bem, e daquele amor, nada de mal. A imagem da bela (a donzela), era tão perfeita e fiel (em todos os sentidos) que assustava o bater do coração daquele pródigo moço apaixonado.
Até mesmo o perfume que'ela (a bela donzela) usava parecia estar agregado à obra. O suor era também retratado... pingava emoção, o olhar, apaixonado... e via-se até, em ilusão, o piscar de olhos num convite à sedução.
Sua boca, os lábios, a textura da pele, hummmm.
Tudo era perfeito. Tudo era exatamente igual. Milímetro por milímetro. Beleza por beleza. Sutil por sutileza. Expressão por expressão. Em três dimensões, sentia-se da obra, até mesmo o calor daquele corpo-gelado, de pedra, esquentando-lhe a lisura da sua formosura.
- Ah, que gostosura! Eis a expressão do artesão.
Mas quase que ao final, comparando da pedra - a perfeição - e da carne & osso - a imperfeição - foi dum segundo a pique o frio que sentiu, não resistiu: teve um arrepio;
Eis que a um grito (in)oportuno de susto - pasme, ele 'ntão percebeu...
... que de tão bela e perfeita que era (a obra), ela (a donzela então retratada) jamais existiu.
ESCULTURA
Via-se n'altura do que é certo, que o artesão batia o seu martelo incansavelmente. O ambiente era o seu pequeno ateliê, mofado pelo vento, areado por mantimentos. Local cheio de tralhas: tintas, pincéis, martelos, papéis, agenda, e acima de tudo, vontade; onde então trabalhava, raspava a obra, prolixamente; lixava-a com notável esmero e um aperto dos dedos, ora daqui e ora outro acolá. Suas mãos trabalhavam sem muito tempo pro cafezinho da tarde (já que o alimento em constância era secundário), e sujas de pó-poeira e dor, manipulavam aquela obra de arte, que vinha sendo esculpida como base no sentimento de amor.
Seu horário de trabalho era o mesmo horário que marcava o relógio: qualquer um. E assim esculpia sua obra de arte. Pensando sempre naquela mulher.
E a obra ela bela, era a cara dela (perfeita), daquela donzela, que em saudades de um tempo de outrora - sem qualquer desfeita, trazia consigo (à ele, o artesão), uma honrosa quimera.
Sua saudade - dos beijos, dos toques e do seu amor - imperava o destino.
Sua saudade era ímpar. Contava um mais um, e somava três.
Sua saudade fazia companhia para cada segundo que respirava. E ele sonhava, sonhava, sonhava.
Sua saudade é quem comandava com zelo, as manobras das 'ferramentas de ferro' elaborando a face 'bandida' e angelical daquela musa de pedra.
Milimetricamente o artesão esculpia o igual. Milimetricamente, tudo por bem, e daquele amor, nada de mal. A imagem da bela (a donzela), era tão perfeita e fiel (em todos os sentidos) que assustava o bater do coração daquele pródigo moço apaixonado.
Até mesmo o perfume que'ela (a bela donzela) usava parecia estar agregado à obra. O suor era também retratado... pingava emoção, o olhar, apaixonado... e via-se até, em ilusão, o piscar de olhos num convite à sedução.
Sua boca, os lábios, a textura da pele, hummmm.
Tudo era perfeito. Tudo era exatamente igual. Milímetro por milímetro. Beleza por beleza. Sutil por sutileza. Expressão por expressão. Em três dimensões, sentia-se da obra, até mesmo o calor daquele corpo-gelado, de pedra, esquentando-lhe a lisura da sua formosura.
- Ah, que gostosura! Eis a expressão do artesão.
Mas quase que ao final, comparando da pedra - a perfeição - e da carne & osso - a imperfeição - foi dum segundo a pique o frio que sentiu, não resistiu: teve um arrepio;
Eis que a um grito (in)oportuno de susto - pasme, ele 'ntão percebeu...
... que de tão bela e perfeita que era (a obra), ela (a donzela então retratada) jamais existiu.