Morgana: 2- No lado sul
Cheguei a minha casa arrasada, pois a entrevista havia sido ridiculamente ruim. Foi feita pela mãe dele. Como alguém quer cuidar de uma cidade inteira e não consegue nem sequer escolher a própria assistente?
Isso só me fazia ainda mais certa sobre achar aquele homem tão intragável. A mãe dele é uma dondoca arrogante. Ela foi tão grossa e estúpida comigo... Precisava respirar um pouco. Decidi ir até a árvore mais antiga perto da minha casa, sentei no balanço que meu pai havia feito pra mim e Morgause.
-Você está bem? – Perguntou minha mãe ao se aproximar.
-Estou sim. A senhora quer ajuda com alguma coisa?
-Sabe como sei que não está bem?
-Como?
-Quando têm problemas você corre pra esse balanço. Como se aqui você conseguisse ter o abraço reconfortante do seu pai. E também por essa sua doce e triste mania de sorrir.
-Por que sorrir seria doce e triste?
-Você sorri com os lábios, mas seus olhos falam a verdade. É sua tentativa de não deixar com que fiquem preocupados. Conte-me o que houve?
-Não vou conseguir o emprego. Acabei discutindo com a mãe do Arthur.
-Por quê?
-Ela disse que sou bonita e isso poderia atrapalhar a concentração do filho. Além do mais não tenho qualificações para um cargo desses, pois só trabalhei em um petshop e não saberia me comportar nos eventos em que deveria acompanhá-lo.
-Deixe-me adivinhar: você deu uma resposta a tudo isso. Não deveria Morgana. Não deve abaixar a cabeça e se calar para conseguir um emprego, mas do que adianta revidar coisas assim? Ela não mudará de opinião de uma hora para outra e só fará de você uma pessoa amargurada.
Minha mãe tinha razão, é claro. Talvez o certo fosse voltar lá e pedir desculpas, no entanto não hoje.
No dia seguinte acordo com a voz da Morgause. Minha irmã sempre pensou diferente de mim. Principalmente a respeito da magia; Morgause não a possui. Ela sabe fazer um feitiço e outro, mas não nasceu assim.
-Ela poderia fazer todos os trabalhos aqui do sítio em segundos.
-Já falando de mim?
-Só a verdade.
-Morgause, eu não vou correr o risco de alguém me vê usando magia.
-Se eu tivesse mágica como você, ninguém me trataria como aquela mulher te tratou, pois não iria ser uma mera assistente. Eu seria muito mais. Você se contenta com pouco. Eu não.
-Você tem razão. Não seria uma mera assistente. Isso é fato. Você seria um ratinho de laboratório! Pois seria aprisionada para testes. A vida não é um filme Morgause. Se você mostrar mágica pra alguém e a pessoa não pensar que é efeito especial você não será considerada uma heroína e sim uma aberração.
-Tendo o poder que você tem...
-Mas você não tem! Agora pare de falar bobagens e vá estudar; não me sacrifiquei para você ficar aqui em casa acabando com a minha paciência.
-Logo estarei formada e não terá mais de fazer sacrifícios por mim.
-Ótimo! Mal espero por isso.
Aparentemente minha semana seria péssima. Porém, um telefonema da residência dos Pendragon mudou um pouco o terrível rumo que meus dias estavam tomando. Pediram para retornar, pois o cargo seria meu após uma entrevista direta com o Arthur.
Dessa vez acertei o caminho até a casa principal, mas a entrevista seria na casa dele que ficava alguns quilômetros ao sul, perto do lago onde ouvi chamarem meu nome. Ao entrar na casa um homem veio me receber. Lembro-me de tê-lo achado bonito, mas tinha algo nele. Sua aproximação foi fazendo com que eu me sentisse cada vez mais fraca.
-Você deve ser Morgana. É um belo nome. Eu sou Merlin.
Minha respiração estava ficando cada vez mais difícil, parecia ter outra pessoa tentando entrar em minha mente.
-Emrys!
Senti esse nome saindo da minha boca, mas não entendia o significado. Não fui eu quem disse. Merlin me olhou como se já tivesse ouvido isso antes. Parecia surpreso e preocupado. Perdi a consciência em seguida.