O meio-elfo queimado
Cheiro de fumaça.
Ele acordou, de um pulo, e percebeu que a noite estava muito iluminada. Olhou para fora e viu dois dos três estábulos da fazenda em chamas.
Ele correu para fora, achando que havia ocorrido um acidente, e não conseguiu acreditar na cena que viu.
Seu pai estava lutando com quatro deles. Quatro bárbaros, com espadas. Um deles (um gigante com 2,10m de altura) apenas observava. Seu pai estava armado apenas com um porrete, mas conseguia desviar facilmente dos grosseiros golpes. Quando ele quase era atingido, conjurava chamas e afastava os agressores do golpe final.
Sua mãe estava amarrada num canto, praticamente sem roupas, e um outro bárbaro estava a seu lado, falando algo muito próximo de seu ouvido.
Ao ver essa cena ele explodiu em raiva, pegou a pedra mais próxima, deu um berro e arremessou em direção ao bárbaro, que cambaleou.
O jovem meio-elfo correu em direção a ele, desesperado, mas teve seu caminho interrompido por outro saqueador, que passou o lado da espada em sua perna e o derrubou no chão. O cheiro de fumaça agora enchia mais os seus pulmões.
Ele reparou que o grupo era grande, com uns 30 bárbaros, e a maioria estava tirando os cavalos dos estábulos e os levando em direção a estrada.
Ele voltou seus olhos para a luta de seu pai, enquanto um anão começava a lhe amarrar os pulsos. No momento em que olhava, seu pai invocou uma grande labareda, que iluminou toda a clareira em que ficava sua fazenda e iniciou o incêndio em várias árvores próximas.
Dois dos bárbaros que lutavam com seu pai caíram mortos no chão. O bárbaro gigante, que aparentemente era o líder, finalmente decidiu agir.
Chegou perto de sua mãe com sua lança gigante e enfiou no peito da jovem humana. Ao ver a cena, ambos gritaram, marido e filho, e dos olhos do velho elfo podia se ver o ódio ancestral que a raça da floresta carrega, enquanto toda o conhecimento em magia acumulado através das eras se concentravam em todo o sentimento de vingança que surgiu na alma do antigo feiticeiro élfico.
Todos os bárbaros ao redor caíram no momento em que ele correu na direção do líder, e até mesmo este não conseguiu disfarçar o sentimento de medo que sentiu no momento.
Foi uma luta muito rápida, diferente das épicas batalhas que você ouve dos bardos em qualquer estalagem nessa região: o elfo arremessou o porrete, que acertou o bárbaro no peito, correu eu sua direção, deu um pulo e tocou as duas mãos em sua cabeça. Houve um clarão que cegou a todas, e quando a luz acabou, não havia vestígio algum do bárbaro, exceto uma grande poça de sangue e suas roupas caídas na grama, como se acabassem de ser esvaziadas.
Um cordão de uns 10 bárbaros se formou ao redor do elfo, com arcos em mãos, e atiraram ao mesmo tempo: 8 atingiram o elfo, que ainda furioso, explodiu em mais uma grande bola de fogo, matando 5 dos agressores.
Seu filho, que assistiu tudo com as mãos atadas, deitado no chão, aproveitou o momento da explosão, conseguiu se desvencilhar do bárbaro que o vigiava, e correu na direção de um dos estábulos.
Ele sabia que ninguém o perseguiria em direção as chamas.
Ele usou magia para não ser molestado pelo fogo, que há pouco tempo seu pai havia lhe ensinado. Suas roupas começaram a incendiar, junto com a corda que o prendia. Por um breve instante ele perdeu sua concentração, e as chamas lamberam parte de seu peito e metade de seu rosto. Ele se ajoelhou colocou o máximo de sua atenção nas palavras mágicas que havia aprendido. A dor da queimadura o estava deixando em estado de quase desmaio, e todo o ódio da situação o consumia.
Mas ele conseguiu se concentrar.
A magia voltou a fazer seu efeito, ele atravessou o estábulo e se viu próximo a uma das entradas da floresta.
Ele correu em direção as árvores e seguiu o caminho que conhecia tão bem.
Ele passaria a noite na floresta, e estava a salvo dos saqueadores que mataram a sua família.