Morgana: 1- O Lago

A vida é uma grande roda gigante, não apenas por seus altos e baixos, mas também por suas repetições.

Meu nome é Morgana, sim, por causa daquela famosa bruxa. Porém, não, minha mãe não é uma fanática psicótica que adora bruxaria. Minha linhagem descende da antiga religião. A famosa bruxa é minha tatatataravó ou algo do tipo.

Parte da lenda é verdadeira, até onde sei. Minha ancestral usava sua magia para o mal e com isso foi expulsa do reino. Essa é uma das razões da minha família não fazer parte da realeza, na verdade nós somos apenas minha mãe, irmã e eu. Meu pai morreu em um acidente de carro quando eu tinha quatro anos e minha irmã ainda era um bebê, tudo que temos é nossa casa. Um pequeno sítio nos arredores de Alectom.

Minha irmã, Morgause (é, eu sei, minha mãe não foi muito criativa), está quase terminando a faculdade de línguas e história. Eu não fiz ensino superior, apenas terminei o colégio e passei a trabalhar para ajudar em casa, assim, pelo menos, a Morgause poderia ter um bom futuro.

Após o acidente de trabalho de minha mãe, nós recebemos uma boa indenização, no entanto grande parte foi gasto com dívidas do meu pai, outra para terminar de pagar a casa e conseguimos guardar um pouco para a faculdade da Morgause.

Ao perder meu emprego de anos em uma loja de animais, eu tive medo por minha mãe. Ela ainda sentia muitas dores no corpo como sequela do acidente, já está aposentada por conta disso. Ficar em casa era ótimo para poder ajudá-la com os serviços domésticos, mas nosso sítio não nos fornecia muito. E apesar de ter um dinheiro guardado, não seria suficiente para cuidar das despesas de um lar e ainda suprir as da minha irmã.

Eu já entrava em desespero por não conseguir emprego quando Morgause veio nos visitar trazendo novidades. Ela me contou sobre o emprego de secretária pessoal de um homem. Fiquei imediatamente interessada, porém quando me disse de quem se tratava...

-Eu não vou trabalhar para a família Pendragon.

-Por que não? O salário com certeza irá valer a pena.

-Morgause, eu não entendo nada de política.

-Você vai ser secretária e não ajudante parlamentar. Além do mais, o Arthur ainda não atua tão ativamente na política.

-Ele é muito... Ele aparenta ser...

-O que?

-Eu não vou com a cara dele.

-Se isso está descartado, eu posso procurar um emprego.

-Nem pensar. Você vai se concentrar apenas nos seus estudos. Alguma outra coisa vai aparecer.

-Está bem. Vou me despedir da mãe, até depois.

-Até. Cuidado na estrada.

Morgause deixou o endereço na mesinha, porém eu não pretendia ir. Passei minha vida vendo essa família na TV mandando e desmandando na cidade. Primeiro com uma enorme empresa, depois se mudaram para a política. Sem falar de serem culpados pelo acidente da minha mãe e meu pai morreu fazendo um serviço fora de hora para os Pendragon.

No entanto essa minha rebeldia não durou muito. Como poderia? Minha mãe não teria como cuidar das nossas dívidas sem ajuda, jamais deixaria a Morgause se desconcentrar dos estudos. Tive de engolir o orgulho, raiva, indignação, rancor... Todos os sentimentos ruins, para deixar sair um bom: o amor pela minha família.

Peguei o carro e fui para a propriedade dos Pendragon. Era uma casa enorme, bom, era um antigo castelo. O segurança na porta me explicou que deveria dirigir em frente até chegar a uma bifurcação, então ir para a direita, deixar o carro perto de uma fonte. Porém, ao chegar à tal bifurcação, eu ouvi alguém me chamando. Tinha certeza que falaram meu nome, por essa razão fui pela esquerda.

Era uma voz suave, já a tinha ouvido em algum lugar. Estacionei o carro perto de uma árvore e fiz o restante do caminho a pé. Caminhei até um lago com água azul-esverdeada.

A voz vinha dali, entretanto eu não tinha ideia de como isso podia estar acontecendo. De repente senti uma presença e olhei para trás. Um homem, um belo homem em um cavalo branco estava no alto do barranco a me olhar. Eu o conhecia da TV e redes sociais, era Arthur Pendragon, porém não lembrava que era tão bonito. Parecíamos enfeitiçados um pelo outro, sem conseguir desviar o olhar ou nos mover.

Isso parecia estar se prolongando por uma eternidade quando um homem pergunta se estou perdida. Era o jardineiro, falei sobre a entrevista para secretária e que devia ter errado o caminho. Gentilmente se ofereceu para me acompanhar até o local certo. Antes de segui-lo dei uma olhada para onde Arthur se encontrava minutos atrás, mas ele já havia desaparecido.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 05/07/2017
Reeditado em 05/07/2017
Código do texto: T6046674
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