O Falante do Mil Idiomas (E seu esquecimento)

Os mil idiomas conhecidos pelo Intérprete hospedavam sua cabeça como abelhas em uma colméia.Abelhas cujos detalhes,por mais insignificantes que fossem,eram lembrados como se fossem os sons da sua voz.Suas cores,comprimentos e personalidades memorizados eram os fonemas,regras gramaticais e mecanismos de criação de palavras.

Todas aquelas coisas contidas em apenas uma cabeça.

O Intérprete era a ponte de apoio entre os mais diversos habitantes do mundo.Estabelecia a conversa entre homens pertencentes à polos opostos do mundo.Mediava as negociações comerciais entre vendedores do interior e do litoral.Transportava e adaptava recados vindos das colônias para as metrópoles.Consolidava tratados de não-agressão entre comunidades pouco amigas.

Em outras palavras,o mundo depende do Intérprete.Porém este teve uma inocente ideia no interior da casca sobre seu pescoço.

“Consigo falar todos os idiomas existentes,mas não me sinto diferente deles.Não pronuncio minhas próprias palavras do meu jeito.Não me vejo como alguém diferente de todos.Preciso de algo que me faça diferente,não um reflexo.”

E foi o que ele fez.

Tentou criar um novo idioma.Um idioma criado por ele.Um idioma que somente ele saberia.

Escreveu as letras de seu distinto alfabeto.Desenhou as letras dos mesmo com linhas e curvas singulares.Pareciam letras nunca antes lidas por olhos humanos.Criou os fonemas guardados pelas mesmas.Fonemas estranhos para ouvintes comuns.Criou regras gramaticais.Regras sobre semântica.Figuras de linguagem.Figuras de sentido.

Pronto.

Seu idioma estava pronto.

Optou por falá-lo com seus contatos e conhecidos como forma de testá-lo e incentivá-los a se adaptarem a ele.Um mundo com um idioma único seria algo surreal.

O Intérprete caiu no esquecimento.

Sua língua era vista como um dialeto incompreensível.Ninguém se interessava nas palavras e frases criadas pela sua pessoa.Escolheram manter seus próprios idiomas ao invés de adaptarem ao novo.

O Intérprete e sua língua caíram no abismo do esquecimento.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 06/06/2017
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