DUAS PORTAS

Eram duas portas de vai e vem.

Por elas passava meu bem.

Eram duas portas envernizadas.

Ele vinha dando risadas.

E partia com tristeza no olhar.

Mas não podia evitar.

Chegava, fazendo festa.

E se afastava quietamente.

Eram duas portas... antigamente.

O casarão era castigado pelos vendavais.

E meu olhar se perdia nos canaviais.

Pensam que esta lembrança é de agora?

É de outrora.

Como sei que pertenço a este tempo?

Não sei...

Ou sei... sinto, pressinto.

A moça na janela a observar o verde a se perder de vista sou eu?

E o moço que parte é o meu amado?

Ó, passado!

Fecho os olhos por um momento e sinto na boca o gosto salgado de uma lágrima que rolou pela minha face.

Por que eu choraria por outro tempo, outro dia?

Que louca seria!

Mas sou!

Guardo a moça, o rapaz, o canavial, o olhar...

Guardo a porta de vai e vem.

Se guardo é porque me faz bem.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 06/06/2017
Código do texto: T6019855
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